A história secreta da espionagem brasileira
Jornalista lança na Bienal do Livro uma pesquisa sobre o serviço secreto no Brasil, de Washington Luís a Lula
Nelson Gobbi
Uma história que reúne espionagem, crimes e mais de 70 anos de atividades ilegais de agentes secretos no Brasil. Ingredientes próprios das narrativas de ficção, na melhor tradição das aventuras encartadas em livros de bolso. Mas é tudo parte de “Ministério do Silêncio – A história do serviço secreto brasileiro de Washington Luís a Lula”, escrito pelo jornalista mineiro Lucas Figueiredo após sete anos de pesquisa.
Presente à XII Bienal Internacional do Livro do Rio para o lançamento de sua segunda obra, Lucas revelou detalhes da investigação na qual acumulou 26 quilos de documentos sigilosos e mais de 100 horas de entrevistas, concedidas principalmente por agentes secretos aposentados e da ativa. O jornalista, que também é autor de “Morcegos negros – PC Farias, Collor, máfias e a história que o Brasil não conheceu”, começou a se interessar pela história da espionagem nacional em 1998, quando era correspondente da Folha de São Paulo em Brasília:
“Na Capital conheci muitas fontes ligadas ao serviço secreto, que estavam dispostas a falar. Como percebi que havia uma carência de informações sobre o tema, decidi fazer o livro”, recorda-se.
A pesquisa de Lucas revelou fatos ignorados pela grande maioria da sociedade, que ainda continua relacionando a espionagem no Brasil ao Serviço Nacional de Informações, o temido SNI dos Anos de Chumbo após o golpe militar de 1964. Mergulhando no tema, o jornalista descobriu que a gênese do serviço secreto tupiniquim data de 1927, no governo Washington Luís.
“Entre 1927 e 1956 houve um período de gestação de um órgão público com a função de investigar cidadãos e fornecer informações sigilosas. Em 1946 foi criado o Sfici, o Serviço Federal de Informações e Contra-Informação, um órgão civil subordinado aos militares. Em 1956 o presidente Juscelino Kubitschek, cedendo às pressões de Washington, enviou uma missão aos Estados Unidos para montar um serviço secreto nos moldes da CIA, que daria origem ao SNI”, explica o jornalista.
Com a ditadura militar a espionagem brasileira chega ao auge, principalmente após a instituição do AI-5, em 1968.
“O serviço secreto já estava pronto para a repressão que aconteceria no período. E todo o presidente que assumia o governo era seduzido pela possibilidade de controlar e eliminar os adversários do regime”, diz o escritor.
Para Lucas, as principais diferenças entre o serviço secreto brasileiro e de países desenvolvidos como os EUA, a Alemanha e o Japão é a área de atuação. Segundo o jornalista, enquanto os espiões do primeiro mundo atuam fora de suas fronteiras, os agentes brasileiros priorizam os alvos domésticos:
“A CIA, por exemplo, comete barbaridades mundo afora, mas dentro da América não tem poder para investigar nenhum cidadão. Já no Brasil o serviço secreto é usado para investigações internas, principalmente de adversários políticos dos governantes de plantão. Essa é uma característica própria da espionagem dos países em desenvolvimento. Para os agentes, todo brasileiro é um inimigo em potencial e deve ser vigiado”.
Mesmo com o fim da ditadura o serviço secreto permaneceu, graças a sua autonomia em relação ao governo federal. O jornalista não vê motivos para a manutenção da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) nos moldes em que se encontra:
“Se a Abin for extinta não fará falta nenhuma, porque não está voltada para os inimigos externos da nação. Acho inacreditável que exista um órgão federal com um orçamento anual de US$ 40 milhões e cerca de 1,7 mil funcionários para espionar cidadãos brasileiros”. .
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