Vida e obra de Efigênia Rolim e Hélio Leites são celebradas em nova mostra no MAC-PR

 

Conhecidos pela originalidade de suas criações, eles utilizam uma matéria-prima em comum: o resíduo e a sucata. A mostra “Os Significadores do Insignificante” abre dia 10 de dezembro e apresentará cerca de 260 obras, muitas inéditas, oriundas de acervos institucionais e particulares.

A partir do dia 10 de dezembro (sábado), às 11 horas, o Museu de Arte Contemporânea do Paraná (MAC-PR) recebe exposição inédita de Efigênia Rolim e Hélio Leites, intitulada “Os Significadores do Insignificante”. O projeto tem autoria de Estela Sandrini, com curadoria de Dinah Ribas e Maria José Justino, em que serão apresentadas cerca de 260 obras, muitas inéditas, oriundas de acervos institucionais e particulares.

A exposição celebra vida e obra de Efigênia Rolim e Hélio Leites – artistas de importância fundamental nas artes visuais, tanto no Paraná como no Brasil – conhecidos pela originalidade de suas criações. Utilizam uma matéria-prima em comum: o resíduo e a sucata, transformados em arte, poesia, alegria e histórias, seja por meio de um papel de bala ou de uma lata de atum.

Ambos estarão presentes na abertura da mostra, que contará com a presença do contador de histórias Carlos Daitschman, vestido com roupas produzidas por Efigênia Rolim. Será necessário o uso de máscara por todas as pessoas que estiverem na abertura para prevenção da Covid-19.

O período expositivo será de 10 de dezembro de 2022 até 26 de março de 2023, no MAC-PR, que está funcionando temporariamente no Museu Oscar Niemeyer (MON). Haverá uma programação extensa para o público poder conhecer, interagir e mergulhar no universo de Efigênia Rolim e Hélio Leites.

OS ARTISTAS – Efigênia Rolim nasceu em 1931, no município de Abre Campo (MG), e chegou a Curitiba em 1971. Autodidata, tornou-se artista aos 60 anos e em 2022 completa 91 anos. Dinah Ribas, uma das curadoras da mostra e autora do livro sobre a artista, “A Viagem de Efigênia Rolim nas asas do peixe voador” (2012), relata que Efigênia não tem preguiça de transformar qualquer objeto descartado em obra de arte. “Quando chega às suas mãos um novo artefato, ela silencia, deixa a mente trabalhar por ela, e eureca! Surge uma nova criação”, afirma.

Hélio Leites desenvolve desde a década de 1970 o trabalho de performer e artista visual, tendo desde então recebido diversos prêmios em salões e festivais pelo Brasil. Em 1986 começa a expor e vender suas obras na Feira do Largo da Ordem, no Centro de Curitiba, movimentado ponto de encontro de pessoas interessadas nas suas histórias e obras, sempre relacionadas com a estética do mínimo, como ele mesmo diz, “Por um mundo menor”, traduzido pelas suas peças em miniatura, mas que concentram muitos mundos e leituras.

“Ouvir as narrativas do Hélio é uma regalia para poucos. Você se realiza como um simples ouvinte. Flutua um tempo em estado de graça como um andarilho planando na imaginação. Imerge num borbulhar de ideias, palavras e formas instigantes”, afirma a crítica de arte e curadora Maria José Justino. Hélio nos proporciona o prazer da prosa inteligente. Ao se apropriar de Jair Fantino – “Eu não penso, imagino e faço” –, dispara Hélio: “Eu não penso, não imagino, mas faço”. “Humor na negação. Pensa, imagina, desconstrói e faz. Com muita graça”, completa Maria José.

VISIONÁRIOS – A exposição apresenta a importância artística e a trajetória de Efigênia Rolim e Hélio Leites, que extrapolam as artes visuais. Ambos são objeto de teses acadêmicas também nas áreas de filosofia e sociologia.

O escritor e poeta Paulo Leminski (1944-1989), que inspirou o título deste projeto, já os ressaltou: “Na área do artesanato que não desaparece diante da indústria, o que temos é o aproveitamento de materiais não nobres, ‘esculturas’ feitas em cordas, papel jornal, raízes de árvore, lixo e o diabo. Hoje admite-se que qualquer material pode servir de suporte para a experiência artística ou de veículo de expressão”.

“Os dois brotaram no Planeta Terra para encantar os seres humanos com seu ineditismo na arte, tanto na confecção de suas esculturas, como nas ideias geniais que se transformam em histórias cheias de humor e graça”, discorre Dinah Ribas. “Com vestimentas descoladas, frases inteligentes, poesias e contações de histórias, baseadas em fatos reais, a dupla faz a diferença em qualquer ambiente”.

Sobre Efigênia, Maria José Justino completa: “Do desterro, nômada, exilada da sua cidade natal, migrante em seu próprio país, sete filhos, marginalizada, sem escolaridade, idosa e extremamente pobre, Efigênia Rolim extrai desses não lugares uma força criativa surpreendente. Equilibrando-se na corda bamba, transforma os infortúnios em uma poética original, erigida do efêmero, do descartável e do reciclável”.

E emenda sobre Hélio Leites: “Equilibrista na fala e no fazer, Hélio é um criador de mundos abrigados em caixinhas de surpresas. São miniaturas de esculturas em madeira, sucatas, botões, palitos de sorvete, caixas de fósforo, os miúdos que encontra pela frente – o lixo da humanidade como costuma dizer –, que reaproveita com muita sensibilidade”.

Efigênia lembra do marco que provocou uma revolução em sua vida: estava catando resíduo nas ruas da capital paranaense e um objeto brilhante chamou a sua atenção. Ela pensou que fosse uma joia e quando viu que era um papel de bala, ficou triste e decepcionada. Em seguida refletiu e percebeu que se tratava de algo melhor que uma joia: “um mísero caído”. A artista traça um paralelo entre um caramelo e a vida humana, comenta que o caramelo tem muito valor quando está embalado e, após ser saboreado, o papel é descartado sem nenhuma atenção.

Hélio Leites ficou conhecido pela criação do seu Museu Casa do Botão, museu ambulante que tem o próprio corpo do artista e suas vestes como suportes. Fácil de transportar, fácil ao acesso do público, basta um encontro com o artista. Um museu que pode se apresentar no mundo inteiro, apenas passagem e estadia para o artista. Ele é o próprio curador. Já esteve em Portugal, na Alemanha, no México, no Paraguai, além de inúmeras apresentações em Curitiba e em outras paragens do Brasil.

De acordo com Maria José, o artista possui uma arte assentada na comunicação. “Não poderia ser diferente: Hélio investe na pesquisa da arte contemporânea. Foi um dos primeiros a se aventurar na mail art, ‘arte postal é a internet por carta'”, diz o artista. Sua obra é o inverso da Minimal Art, do princípio da economia, da elegância. Ao contrário, seu universo é cheio, falante, uma overdose de transgressões”, completa a curadora. “Eu sonho com o momento que ainda não vivi. Um momento vazio ainda”, reflete Leites.

Estela (Teca) Sandrini, artista e proponente do projeto, ressalta o fazer poético – algo que considera essencial na biografia dos artistas. “A poesia está presente em Efigênia e Hélio, algo que os aproxima e que, igualmente, nos aproxima do trabalho deles. Todo o percurso artístico dos dois está permeado da poética da palavra, da arte e da maneira de perceber o mundo”, explica.

HISTÓRIAS – Efigênia Rolim é artesã, contadora de histórias, poeta, assobiadora, performer e estilista. Nasceu em 1931, em Vila Granada, Santo Antônio de Matipó, município de Abre Campo (MG). Em 1965, foi morar com a família no Norte do Paraná, e em 1971 chegou a Curitiba. Participou de inúmeras exposições coletivas e individuais, desde o ano de 1991 até hoje, além de ter lançado livros, participado de performances, desfiles de moda, filmes, congressos, e concedido entrevistas a nomes como Jô Soares e Caco Barcellos.

O documentário “O Filme da Rainha”, com direção do argentino Sergio Mercurio, foi premiado no Festival de Cinema do México. Recebeu do Ministério da Cultura em 2007 e 2008, respectivamente, as premiações “Culturas Populares Mestre Duda” e “Medalha da Ordem do Mérito Cultural”. Obteve várias outras menções honrosas, teses acadêmicas, entre outras realizações.

Hélio Leites nasceu em 21 de janeiro de 1951 na cidade da Lapa, Paraná. Formado em Economia, trabalhou 25 anos como bancário até a década de 1980. Porém, desde os anos de 1970 desenvolve o trabalho de performer e artista plástico, tendo desde então recebido diversos prêmios em salões e festivais pelo Brasil.

Em 1986 começou a expor, interagir com o público e vender suas obras na Feira do Largo da Ordem, no centro de Curitiba. Sua barraca é um movimentado ponto de encontro de pessoas interessadas nas suas histórias e obras, sempre relacionadas com a estética do mínimo.

Em 2010 formou-se na Escola de Música e Belas Artes do Paraná. Criador da Associação Nacional de Colecionadores de Botão, secretário-geral do Fiu-Fiuuu Sport Club – Clube de Assobiadores, diretor de Harmonia da Ex-Cola de Samba Unidos do Botão, coordenador da Campanha Mundial de Anti-Taxidermismo, secretário da Associação Internacional de Kinderovistas, curador dos museus do Óculos, da Caixa de Fósforos, do Lápis e do Minipresépio.

DEMOCRATIZAÇÃO DO ACESSO – “Os Significadores do Insignificante” mostrará ao público o trabalho de dois artistas que construíram suas trajetórias no Paraná, e que trazem por meio de miniaturas e do resíduo encontrado na rua, arte, poesia, alegria e histórias.

A mostra foi pensada para aproximar o público do trabalho de grandes artistas contemporâneos, com visitas guiadas com mediadores, contação de história com um dos artistas, acompanhados por intérprete de libras, oficina educativa, mediação para professores da rede municipal, estadual e particular, com material para estudo e conteúdos lúdicos e educativos.

Além disso, algumas obras terão audiodescrição para pessoas surdas e com baixa visão, além de atividades programas e coordenadas pela Ação Educativa da equipe da mostra e pelo MAC. Haverá também um tour virtual 360º disponível on-line e distribuição gratuita de catálogos, com imagens e textos críticos, em papel reciclado, seguindo a ideia do reaproveitamento de material.

A mostra traz, ainda, a reflexão sobre a produção excessiva de resíduos, considerada uma das maiores preocupações mundiais – a Organização das Nações Unidas (ONU) lançou entre seus Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS-ONU) a meta de redução e o incentivo do consumo e da produção responsáveis. Dessa maneira, a exposição mostra como os artistas transformam o resíduo achado na rua em arte e história ampliando o debate e a conscientização sobre essa questão mundial.

Serviço:

Exposição “Os Significadores do Insignificante”

Abertura da exposição: 10 de dezembro, sábado

Local: Museu de Arte Contemporânea do Paraná (MAC-PR) – que funciona temporariamente no Museu Oscar Niemeyer (MON), nas salas 8 e 9. A exposição estará montada na sala 8

Horário da abertura: das 11h às 12h30. Nesse período a entrada é gratuita (com acesso pela rampa caracol)

Endereço: Rua Marechal Hermes 999, Centro Cívico – Curitiba

Período expositivo: de 10 de dezembro de 2022 a 26 de março de 2023

Visitação: de terça a domingo, das 10h às 17h30 (permanência até 18h)

Ingressos: R$ 30,00 e R$ 15,00 (meia-entrada)

Venda até as 17h30

Ingressos e horários especiais: www.museuoscarniemeyer.org.br/visite/ingressos-horarios

Gratuito para menores de 12 anos e maiores de 60 anos

Entrada franca todas as quartas

Compartilhar:

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*