O belo texto de Oduvaldo Vianna Filho, Em Família, original de 1972, retorna aos palcos numa concepção de Aderbal Freire-Filho. Em homenagem ao Teatro de Arena, berço dos grandes momentos e repositório de realizações do dramaturgo, Aderbal renomeou a peça como Vianninha Conta o Último Combate do Homem Comum. A peça estreou em junho de 2014 no Teatro Sesc Ginástico. Em função do sucesso junto ao público e à crítica especializada, continuou em cartaz no Teatro Poeira.
Por Wagner Correa de Araujo
Peça resgata visão do dramaturgo sobre seres sem ambição, impotentes diante do cotidiano, obrigados a alcançar a vitória na batalha pela sobrevivência materialPeça resgata visão do dramaturgo sobre seres sem ambição, impotentes diante do cotidiano, obrigados a alcançar a vitória na batalha pela sobrevivência material A propósito da temática veio a referência a uma obra musical, curta, mas emblemática, do compositor americano Aaron Copland – Fanfarra Para o Homem Comum em que, apenas com metais e percussão, ele faz um expressivo tributo a um cidadão qualquer, ao mais comum dos homens, àqueles que o destino não diferenciou de qualquer dos mortais.
Os personagens dessa comédia dramática são esses homens comuns, seres impotentes diante dos reveses do cotidiano, vivendo esse dia a dia sem ambições, combatentes mais preocupados em alcançar a vitória na batalha pela sobrevivência material.
Aqui, o que importa é fazer marchar a máquina da vida, compensando com as alegrias do convívio familiar a difícil luta existencial – sem casa própria, com contas a pagar, entre as dores, defeitos e desafetos. E onde os pais transformam em prêmio a partida dos filhos, ainda que em troca de solidão e abandono.
Enquanto isso, um casal idoso (Rogério Freitas e Vera Novello) vai sendo aniquilado pela carência de recursos que o obriga a trocar o acolhedor ambiente original do lar por um recanto na casa dos descendentes, primeiro passo para o isolamento final num asilo de velhos.
A nuance melodramática que o tema faz convergir no roteiro dramatúrgico tem na versão atual um proposital distanciamento brechtiano. É simbolizado ora por um cenário minimalista que evita a prevalência do realismo, ora pela presença permanente em cena de todos os atores e, especialmente, pelo acréscimo de um palhaço (Kadu Garcia).
Este último, com suas instantâneas entradas em cena, interfere na ação, como se interrompesse a trama, remetendo à frase operística de Il Pagliacci – “La commedia é finita“, provocando assim a reflexão da plateia. A impotência dos familiares diante do destino reservado ao casal idoso é acentuada, ainda, pelo emotivo score musical de Tato Taborda.
E o equilibrado e acertado domínio cênico do elenco (incluindo -se aí, Isio Ghelman, Paulo Giardini, Ana Velloso, Beth Lamas) torna visível a inventiva proposta estética da direção de um espetáculo em construção, em que a cena fatalmente remete ao ato de heroísmo do homem comum arquitetando a sua própria trajetória existencial.
O espetáculo conquistou os Prêmios Cesgranrio e Questão de Crítica na categoria Melhor Ator (2014). Foi indicado para os Prêmios Shell e APTR também na categoria Melhor Ator. Foi vencedor do Prêmio Questão de Crítica, nas categorias Melhor Ator e Melhor Cenário. A direção de Aderbal Freire Filho, o elenco e o espetáculo também foram indicados ao Prêmio Questão de Crítica. A iluminação foi indicada ao Prêmio APTR.
Fonte: Outras Palavras
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