Pela segunda vez em sua história de 80 anos, a União Nacional dos Estudantes (UNE) vai transferir sua sede física de forma temporária para outra localidade. Um ato na próxima segunda-feira, às 13 horas, marcará a instalação da Executiva Nacional na sede do Diretório Central dos Estudantes da Ufrgs, em Porto Alegre.
Por Naira Hofmeister de Porto Alegre
“Vamos repetir um gesto que fizemos em 1961, durante a Legalidade. Entendemos que estamos vivendo um processo de ruptura democrática muito semelhante àquele e defendemos o direito de Lula ser candidato à presidência da República”, explicou a diretora de comunicação da UNE, Nágila Maria, estudante de psicologia da Universidade Federal da Bahia.
Em 1961, diante da renúncia do presidente Jânio Quadros, um movimento se opôs à posse do então vice João Goulart na chefia do Poder Executivo. Jango era uma liderança trabalhista, herdeiro político de Getúlio Vargas e defendia políticas públicas dirigidas aos movimentos sociais. A decisão da UNE de transferir-se para a Capital gaúcha, que concentrava as ações da Campanha da Legalidade sob o comando do então governador Leonel Brizola, ajudou a criar um clima de resistência e postergou o golpe, que chegou três anos mais tarde, em 1964. Em retribuição ao gesto dos estudantes, Jango se tornou o primeiro presidente a visitar a sede da UNE, após sua posse.
Na época, a sede da UNE era no Rio de Janeiro, em uma localidade apelidada de Casa do Poder da Juventude, que foi incendiada e posta abaixo pelo regime militar. Hoje a entidade batalha para reconstruir o espaço, e tem sua sede oficial em São Paulo.
Em 2018, a entidade se mobiliza para que o nome de Lula esteja entre as opções do eleitor na urna eletrônica. A estudante ressalva que a manifestação em apoio a Lula é também um símbolo das “arbitrariedades que vem sendo feitas pela Justiça no país” e cita, além da sentença de Sergio Moro que condenou o ex-presidente a mais de nove anos de cadeia – e que é alvo de críticas de diversos juristas no Brasil – as prisões de reitores das universidades federais de Minas Gerais e de Santa Catarina, este último que acabou em suicídio, entendido pela entidade como resultado da pressão judicial sobre o gestor.
Para o ato, a UNE espera contar inclusive com a presença do então presidente da entidade estudantil, Aldo Arantes, que esteve em Porto Alegre em 61 coordenando a transferência temporária da sede e a participação do movimento na Campanha da Legalidade. “Queremos ter aqui figuras que de fato representem essa história”, acrescenta a dirigente. Estarão presentes também os três membros da Executiva Nacional e cerca de 20 diretores estudantis.
Acampamento dos movimentos sociais
Os dirigentes da UNE que virão a Porto Alegre estarão acampados junto com lideranças e militantes de outros vários movimentos sociais que começam a chegar já no final de semana para prestar apoio à Lula. O local que abrigará o acampamento está distante apenas 500 metros da sede do Tribunal Regional Federal da 4ª região (TRF4), onde acontecerá a sessão de julgamento.
A intenção dos movimentos sociais era acampar no Parque da Harmonia, em frente ao prédio, porém uma decisão judicial de dezembro impediu a concretização da intenção. Este parque, inclusive, estará fechado ao público no dia do julgamento. A instalação do grupo – cerca de 30 mil pessoas, segundo estimativas do movimento – no Anfiteatro Pôr-do-Sol foi acordada após cinco reuniões ocorridas ao longo da semana no Palácio Piratini, sede do governo gaúcho, com integrantes do Gabinete de Gestão Integrada, que reúne forças policiais e de inteligência.
O Ministério Público Federal participou das negociações e celebrou o resultado. “Trata-se de uma construção importante, que foi realizada com respeito aos Movimentos Sociais através do diálogo, garantindo-se a liberdade de manifestação e reunião em espaços públicos de Porto Alegre”, enfatiza o procurador da República.
Os dirigentes sindicais e militantes também estão contentes. “Conquistamos um lugar bem adequado para as nossas atividades”, comemorou o presidente da CUT do Rio Grande do Sul, Claudir Nespolo.
Além de servir como local de acomodação dos militantes que venham de fora, o acampamento dos movimentos sociais sediará a vigília noturna e as manifestações durante a sessão de julgamento de Lula. Espera-se que o ex-presidente esteja na cidade na véspera e participe da marcha que começará na Esquina Democrática no final da tarde, com final no próprio acampamento.
O acampamento deve começar a ser montado no final de semana pelas equipes de infraestrutura do MST. O movimento sem terra, junto com a Via Campesina, chega oficialmente à Capital na segunda-feira pela manhã, em uma marcha que vai percorrer cartões postais da cidade, como a ponte do Guaíba, passar próximo ao Viaduto dos Açorianos e terminar na beira do rio, onde está o Anfiteatro Pôr-do-Sol.
Carta Maior
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