A TV digital brasileira vai se despedir de 2008 com o mesmo grau de interatividade com que começou o ano: zero. Apontada por especialistas como o pilar de uma nova transmissão, inteligente e mais próxima do telespectador, a ferramenta deve chegar apenas no próximo semestre às casas brasileiras.
Isso conforme uma perspectiva otimista, feita por Roberto Franco, presidente do Fórum da TV Digital, órgão que congrega radiodifusores, indústria, academia e governo.
“Considero que está próximo. Com certeza, chega no ano que vem”, afirma Franco.
O sistema Ginga, que vai possibilitar a interatividade, ainda está em fase de especificação por parte da equipe que colabora com o fórum. Depois, as especificações para a tecnologia ainda precisam ser aprovadas pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas).
“O sistema permite que quem gera o conteúdo se aproprie dele. Isso porque esse conteúdo pode vir também pelo canal de retorno”, explica o professor Luiz Fernando Soares, da PUC-Rio, coordenador do desenvolvimento do Ginga. Nessa nova TV, o telespectador vira “usuário”.
A demora na implementação do sistema pode ser uma má notícia para quem está ansioso para usufruir dessa tecnologia, mas nada se compara à situação de quem já comprou uma caixinha conversora.
“Infelizmente, quem comprou o conversor sem Ginga terá de comprar outro para ter interatividade. Não tem atualização”, afirma Soares.
Ana Maria Braga e “BBB”
A Globo planeja oferecer interatividade ainda no primeiro semestre de 2009. As emissora já fazem testes internos mas têm de esperar essas definições técnicas e o lançamento de conversores com o Ginga.
“Estamos pensando em sistemas em que a telespectadora poderia armazenar as receitas da Ana Maria Braga, em vez de só ver enquanto a receita é transmitida ao vivo”, diz Liliana Nakonechnyj, diretora de engenharia de transmissão da Globo. Outra possibilidade é usar o sistema nas votações de programas como o “BBB”, em que atualmente os espectadores usam telefone, internet e SMS para eliminar um candidato.
“Deve ser algo mais voltado para o público jovem. Acho difícil que a minha mãe vá querer ficar mexendo nesse tipo de coisa”, diz Nakonechnyj.
Durante a feira de tecnologia e telecomunicações Futurecom 2008, a empresa TQTVD mostrou um sistema de interatividade desenvolvido para a Globo, para ser usado durante transmissões de futebol. O programa dá acesso em tempo real a estatísticas da partida, como faltas, tempo de bola rolando ou o placar de outros jogos. Também há espaço para anúncios publicitários.
Segundo Franco, depois de estabelecidas as especificações técnicas, não deve demorar muito até que sejam lançados conversores com interatividade.
“No Brasil, a coisa é diferente. Os fabricantes [de set-top box] e os programadores de software não esperam toda essa fase técnica até começar a produzir”, diz.
Ele afirma que, no momento, o fórum está analisando se marca uma data para o lançamento da interatividade –e mostra o sistema do jeito que der– ou espera até que todas as questões sejam resolvidas completamente. Já é possível encontrar conversores com Ginga “tabajara” na rua Santa Ifigênia, no centro de São Paulo.
Ele nega que a falta dessa tecnologia seja responsável pelo fato de os conversores estarem encalhando nas lojas –a Positivo Informática, que faz parte do fórum, admitiu recentemente que tem prejuízo com a TV digital. Uma das explicações para isso seria o fato de consumidores estarem esperando até a chegada da interatividade para comprar o aparelho.
“As pessoas vão para a TV digital pela qualidade da imagem, pelo “high definition”. A interatividade é um atrativo, um benefício”, afirma.
http://www.fndc.org.br/internas.php?p=noticias&cont_key=297372
Diógenes Muniz e Felipe Maia – Folha Online