No ar desde 1923, a emissora pertence à Empresa Brasil de Comunicação (EBC) e tem programação totalmente voltada para a difusão da cultura brasileira
No ar desde 1923, a Rádio MEC AM do Rio de Janeiro acaba de ser extinta pelo governo Jair Bolsonaro. Segundo o jornalista Lauro Jardim, do jornal O Globo, é que a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) precisa ser enxugada.
A emissora – que foi criada pelo antropólogo Edgard Roquette-Pinto, pai da radiodfusão no País – ficará no ar até o próximo dia 31, quando deve ser desligada.
Pelo Twitter, a jornalista Hildegard Angel lamentou o fechamento da Rádio MEC. “Em sua cruzada contra a Cultura no país, o Governo Bolsonaro extingue a Rádio MEC, a mais antiga do país, a rádio da música clássica, dos relatos sobre a História, das entrevistas com personalidades eruditas. O Brasil se empobrece e decai a galope”.
Em sua cruzada contra a Cultura no país, o Governo Bolsonaro extingue a Rádio MEC, a mais antiga do país, a rádio da música clássica, dos relatos sobre a História, das entrevistas com personalidades eruditas. O Brasil se empobrece e decai a galope.
Com cerca de 50 mil registros e produções, a emissora possui um patrimônio de gravações de depoimentos que vão de Getúlio Vargas a Monteiro Lobato, passando por crônicas de Cecília Meireles e Manuel Bandeira.
A Rádio MEC descende da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, fundada em 1923, por Roquette-Pinto, Henrique Morize e outros membros da Academia Brasileira de Ciências e da sociedade da época. Como, naquela época, o modelo de programação mais próximo do que pretendiam botar no ar era a programação das agremiações lítero-musicais, movidas a palestras e recitais, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro constitui-se como uma agremiação desse tipo — com o diferencial de que podia irradiar os seus saraus. Foi a segunda rádio do Brasil, tendo surgido após a Rádio Clube de Pernambuco em 1919.
Durante seus 13 anos de existência, a emissora manteve uma programação eminentemente “cultural”, e, demonstrando que cultura também “educa”, “ensinou” poesia, literatura e ciência e “educou” ouvidos para a música de concerto. O rádio brasileiro foi um dos principais responsáveis pela unificação linguística do país[carece de fontes]. Assim, apesar de transmitir uma programação cultural, a Rádio Sociedade também foi o berço da ideia do rádio educativo — uma ideia que amadureceu enquanto Roquette-Pinto era seu diretor, e que estava pronta, quando ele doou a estação ao governo[1].
Em 1936, a nova lei de comunicações exigiu que todas as estações aumentassem a potência de seus transmissores e, Roquette-Pinto, que dirigia a descapitalizada Rádio Sociedade, descartando a possibilidade de buscar capital na praça e tornar-se um empresário do ramo das comunicações, preferiu doar a emissora ao, então, Ministério da Educação e Cultura. Mas impôs as condições de que a rádio transmitisse apenas programação educativa/cultural e não fizesse proselitismo de qualquer espécie – comercial, político ou religioso. Tal compromisso, assumido através de ato jurídico perfeito, foi mantido até 1995, quando, logo no início de seu governo, Fernando Henrique Cardoso desvinculou a Rádio daquele ministério e colocou-a, junto com a TVE — atual TV Brasil —, sob a tutela da Secretaria de Comunicação da Presidência da República.
HISTÓRIA
A Rádio Ministério da Educação e Saúde, depois Rádio Ministério da Educação e Cultura e hoje Rádio MEC, é uma rádio de resistência cultural, e tem prestado um inestimável serviço. Uma legião de ilustres colaboradores produziu, ao longo de 7 décadas, uma programação única. Produtores, músicos, escritores, radioatores, poetas e jornalistas como Cecília Meireles, Carlos Drummond de Andrade e Manoel Bandeira, Fernanda Montenegro e Fernando Torres, Sergio Viotti, Otto Maria Carpeaux, Edna Savaget, Nestor de Holanda, Francisco Mignone, Alceo Bocchino, Edino Krieger, Marlos Nobre, Paulo Santos, entre muitos outros.
O acervo
Os mais antigos programas conservados pelo Acervo da Rádio MEC, um dos mais importantes do país, remonta à década de 1960. Da programação e do cast de rádio teatro que a rádio manteve até final dos anos 1980, restam poucos exemplares, sendo o mais importante o Teatro Sérgio Viotti, com 60 programas em bom estado. A voo de pássaro, pode-se dizer que os 3000 programas acervados são um espelho das três grandes realizações da emissora: o rádio educativo e o rádio cultural (cujo capítulo principal foi escrito em parceria com a Orquestra Sinfônica Nacional).
A Orquestra Sinfônica Nacional da Rádio MEC
Nenhuma rádio brasileira divulgou tanto e por tanto tempo a música de concerto. A importância que ela teve para a nossa música erudita equivale à importância que a Rádio Nacional teve para a nossa música popular. No que diz respeito à produção da música de concerto brasileira, propriamente dita, a Rádio MEC prestou um serviço incomparável, porque, além de transmitir e divulgar, produziu centenas de gravações exclusivas de sua orquestra, atual Orquestra Sinfônica Nacional (OSN-UFF), além da orquestra de câmara, e também de duos, trios, quartetos e quintetos instrumentais. Várias dessas gravações foram realizadas no Estúdio Sinfônico pelo lendário técnico Manoel Cardoso. A propósito da OSN, a única rádio orquestra que o país teve, deixou de pertencer à Rádio em 1981 e foi integrada desde 1984, a Universidade Federal Fluminense, em Niterói.
O órgão da rádio foi inaugurado pelo organista carioca Antônio Silva.
Projeto Minerva
Abrigada no Ministério da Educação, e pondo em prática o modelo sonhado por Roquette-Pinto, a rádio provocou a criação do SRE–Serviço de Radiodifusão Educativa, e passou a transmitir uma programação única, que, na década de 40, já apresentava qualidade de broadcasting e incluía divulgação científica, literatura, aulas de ginástica, cursos de alemão, francês, inglês e língua portuguesa. De lá pra cá, passando pelos programas do Colégio do Ar nos anos 1950 e pelos do Projeto Minerva nos anos 1970 até 1998, quando foi retirada do Ministério da Educação, são quase cinquenta anos de produção ininterrupta, transmitindo milhares de programas e centenas de séries educativas. Com o Serviço de Radiodifusão Educativa (SRE) ainda ativo, e a famosa Portaria federal nº 568 — que tornava obrigatória a transmissão de programas educacionais em todas as rádios —, as séries e campanhas produzidas ali, no centro do Rio de Janeiro, alcançavam quase todo o país.
Após o Projeto Minerva, e até mesmo após a extinção do SRE, a Rádio continuou produzindo, em menor escala, séries de educação para o trânsito, higiene, programas de ciência, história e língua portuguesa. Hoje, apesar de praticamente não transmitir programação educativa, a emissora continua a educar, pois continua a ser uma rádio cultural.
A Rádio hoje
Sede
Sediada no centro da cidade do Rio de Janeiro, na Praça da República, 141-A, entre a Faculdade Nacional de Direito da UFRJ e o Arquivo Nacional, a Rádio MEC, opera, hoje, dois canais de AM (Rio de Janeiro e Brasília) e um de FM (Rio de Janeiro). Seus três canais de ondas curtas, acompanhando tendência mundial, foram desativados. Situado entre dois monumentos arquitetônicos (o antigo Senado e a antiga Casa da Moeda), a Rádio MEC possui uma sede com 11 estúdios e 5 pianos de cauda. O prédio da rádio não se distingue apenas pela arquitetura, ele guarda, em seu acervo, um tesouro sonoro inestimável, com centenas de programas educativos/culturais e gravações musicais exclusivas, muitas ainda inéditas em disco. Para a realização de obras no prédio a sede está funcionando provisoriamente nas instalações da TV Brasil, na rua Gomes Freire, centro da cidade do rio, e para audições ao vivo está sendo utilizado o Salão Leopoldo Miguez, da Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na Rua do Passeio, também na Lapa.
Estúdios
Além dos estúdios de transmissão e montagem, situados no último, a Rádio MEC dispõe de mais dois estúdios no quarto andar: o “A” ( antigo estúdio de rádio teatro), com 24 metros quadrados; e o Estúdio “B” que tem 12 metros quadrados. Ambos possuem pianos de cauda. A Rádio abriga ainda o maior estúdio ativo da cidade e do país – o Estúdio Sinfônico, por onde passaram grandes nomes da nossa música clássica como os compositores Heitor Villa-Lobos, Francisco Mignone e Radamés Gnatalli, além dos maestros Alceo Bocchino e Nelson Nilo Hack e o pianista Nelson Freire e o violoncelista Antonio Menezes. No andar térreo, está o auditório-estúdio, que na verdade, é a antiga sala de projeção herdada da Embrafilme, que funcionou nos andares inferiores do prédio. A cabine de projeção foi transformada em estúdio, e a sala, sonorizada.
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