É o que pode acontecer caso a Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) não vença a licitação lançada ontem pela Riotur para escolher a empresa que fará a montagem de toda a estrutura do espetáculo no Sambódromo nos próximos quatro anos.
Representantes das escolas de samba do Grupo Especial já assinaram documento aberto em que declaram apoio total à Liga para organizar o desfile e a infra-estrutura da Marquês de Sapucaí. E vão além: ameaçam não entrar na Passarela do Samba se a Liesa não estiver à frente do show.
O presidente da Mocidade de Padre Miguel, Paulo Vianna, foi radical. Para ele, “não há possibilidade de a Liesa perder a licitação.
“Assinamos documento de apoio à Liesa e posso dizer que as escolas não desfilarão caso a Liga não continue como detentora do Carnaval”, ameaça abertamente.
Presidente da Mangueira, Ivo Meirelles engrossa o coro. “Todas as escolas estão fechadas com a Liesa”.
A vencedora da licitação será responsável pela organização dos desfiles de sexta a terça-feira de Carnaval e o das Campeãs. Isso inclui os espetáculos feitos pelas escolas de samba mirins e as dos Grupos de Acesso A e Acesso B. A ganhadora terá que administrar desde a venda dos ingressos à alimentação e limpeza da Sapucaí, além do sistema de som, que no desfile deste ano deixou a desejar.
O secretário municipal de Turismo, Antonio Pedro Figueira de Mello, admite que o preço do ingresso não será menor do que o deste ano e pode até ficar mais caro em 2010.
O diretor jurídico da Liesa, Nelson de Almeida, afirma que a associação é única com experiência suficiente para vencer.
“Nossa organização é de excelência e, sem a Liesa, não existe Carnaval”.
Jorge Castanheira, presidente da Liga, está viajando. “Estamos tranqüilos porque vamos cumprir todos os itens. Respeitamos a decisão da prefeitura, mas vamos continuar fazendo o Carnaval que sempre fizemos. Nossas contas são transparentes”, completa Almeida.
O prefeito Eduardo Paes decidiu abrir licitação para organizar o desfile da Sapucaí depois que o resultado de 2007 foi posto sob suspeita de manipulação pela Polícia Federal. Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) foi aberta na Câmara de Vereadores para investigar, mas nada ficou comprovado.
De 1995 a 2008, durante toda a Era Cesar Maia (mais o Carnaval de 2009), a Liga foi responsável por praticamente toda a organização. Mesmo que perca a licitação, a Liesa ainda terá sob sua responsabilidade a parte artística do desfile do Grupo Especial, e um contrato será assinado entre prefeitura e Liesa. “A licitação traz mais transparência”, explica Antonio Pedro.
Reunião na Liga para discutir a novidade
Assim como a Mocidade e a Mangueira, a Vila Isabel, a Porto da Pedra e a Portela também defendem a permanência da Liga à frente de toda a organização do espetáculo da Marquês de Sapucaí. As escolas e a Liga fazem hoje uma reunião para discutir o assunto.
“O prefeito está certo em abrir licitação. Mas seria mais viável se as mudanças fossem para 2011. As escolas já estão na confecção de protótipos. Teríamos a mesma tranquilidade com outra empresa no comando? O espetáculo é soberano e não pode perder credibilidade”, pondera Wilson Alves, o Moisés, presidente da Vila.
“Antes, o Carnaval era extremamente desorganizado, por isso há um temor com qualquer tipo de mudança”, completa Ivo Meirelles, da Mangueira.
O presidente da Porto da Pedra, Uberlan de Oliveira, faz coro. “Apoiamos a Liesa de forma incondicional”.
Segundo Nilo Figueiredo, da Portela, o edital será analisado hoje.
Contrato poderá ser prorrogado por 3 anos
O edital de licitação estabelece percentuais para distribuição da receita da venda de ingressos: 53% vão para as escolas de samba, 10% de direitos autorais e, no mínimo, 7% para a prefeitura. O ganho do município poderá aumentar conforme as propostas das empresas que disputarem a licitação.
O contrato entre a Riotur e a vencedora refere-se ao Carnaval de 2010, mas poderá renovado por mais três anos, caso haja interesse da prefeitura.
No julgamento das propostas serão levados em conta quesitos técnicos e preço, este com menos peso do que o primeiro. A empresa deverá apresentar projeto de iluminação, segurança e montagem de camarotes, entre outros.
As informações são do Jornal O Dia, edição de 26/08