Planejada para que sua realização coincidisse com o período em que a cidade do Rio de Janeiro receberá de 400 a 500 mil visitantes estrangeiros para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos, a exposição A Cor do Brasil, aberta ao público nesta terça-feira (2) no Museu de Arte do Rio (MAR), traça, de forma inédita, a trajetória da arte brasileira desde o período colonial até o século 21.
A mostra reúne mais de 300 obras, pertencentes ao acervo de 12 instituições do Brasil, do México e da Argentina, entre elas ícones do modernismo, como as telas Abaporu (1928) e Antropofagia (1929), da pintora Tarsila do Amaral (1886-1973).
Hoje pertencente ao Museu de Arte Latino-americana de Buenos Aires (Malba) e considerada a tela mais valorizada da arte brasileira, o Abaporu retorna pela primeira vez à cidade, onde só foi exposta uma vez, na primeira metade do século 20. O verde-amarelo predominante nesta e em outras obras de Tarsila remetem à brasilidade defendida pelos artistas que participaram da Semana de Arte Moderna de 1922 e também à ideia central da exposição: como o Brasil lida na construção de sua arte com a cor.
“A cor tanto se relaciona às condições da própria história da arte quanto às condições da sociedade. É uma cor que é assumida pela sociedade, a ideia da bandeira do Brasil, a ideia da etnicidade. É a cor que o Brasil se orgulha de mostrar”, definiu Marcelo Campos, um dos curadores da exposição, juntamente com Paulo Herkenhoff.
Abaporu é uma das obras mais icônicas de Tarsila do Amaral e atualmente está no Malba em Buenos Aires, durante a exposição poderá ser vista no Rio de Janeiro
Segundo Campos, o percurso proposto pela mostra é muito didático para visitantes, não só estrangeiros mas também brasileiros, que desconhecem ou têm pouca noção da arte produzida no país. “Para quem nunca viu, a exposição permite ter uma noção da grandiosidade, da grandiloquência da arte brasileira, que na verdade é uma das mais destacadas do mundo”, disse o curador.
O percurso está dividido em três galerias do museu. Na primeira, intitulada A transformação da luz e do ambiente ecológico em cor, a cronologia começa por retratos, paisagens e naturezas mortas, a partir de obras como as do holandês Frans Post, que pintou o nordeste do século 17, passa pelo melhor do impressionismo no Brasil, com destaque para Eliseu Visconti, e chega à mudança de conceito proposta pelo desafio lançado por Graça Aranha, que incentivou os artistas na transformação da luz em cor e do meio ambiente brasileiro em sensações plásticas.
Ainda na primeira sala, a cronologia segue para mostrar a modernidade de Tarsila, Anita Malfatti, Guignard, Goeldi, Portinari, Ismael Nery e Lasar Segall, entre outros. Na segunda galeria, Modernidade e Autonomia da Arte, estão diversos núcleos significativos, como o formado por Pancetti, Milton Dacosta e outros nomes, os concretistas e os neoconcretos – Lygia Clark, Franz Weissmann, Helio Oiticica, Lygia Pape, Aluisio Carvão – e os gestuais, como Bandeira, Shiró, Tomie Ohtake, Manabu Mabe e Iberê Camargo.
Na terceira e última sala, Opinião, Tropicália, Geração 80 e Cor do Século 21, o foco se torna a Cor do Rio, a partir de movimentos artisticos ocorridos na cidade: as mostras Opinião e Tropicália, a Sala Experimental do MAM e a Geração 80. Para retratar o tema da cor nas últimas seis décadas, a mostra reúne obras de Anna Maria Maiolino, Antonio Dias, Carlos Vergara, Roberto Magalhães, Rubens Gerchmann, Wanda Pimental, Anna Bella Geiger, Katie van Scherpenberg e Tunga, entre outros.
Nessa galeria, a exposição chega ao século atual fazendo uma revisão da ideia do “nacional”, que tem na bandeira seu maior ícone. “Eu destaco o momento, para mim comovente, de como o artista brasileiro lida com a ideia da bandeira nacional, de vários modos. Desde uma caixa de engraxate a uma mãe que chora a perda do filho e leva uma pulseira com as cores do Brasil. Essa bandeira que muitas vezes não faz jus à grandiosidade de seu povo”, comentou o curador Marcelo Campos.
A Cor do Brasil fica em cartaz até 15 de janeiro de 2017, muito além, portanto, do período olímpíco, e pode ser vista de terça-feira a domingo, das 10h às 17h. Os ingressos custam R$ 16 e R$ 8, a meia entrada para cariocas e residentes no Rio, mediante comprovação.
Não pagam entrada alunos e professores da rede pública, crianças até cinco anos e maiores de 60 e grupos em situação de vulnerabilidade social, desde que em visitas educativas. Às terças-feiras e no último domingo do mês, a entrada é gratuita para todos.
Fonte: Agência Brasil
Faça um comentário