Ricardo Pereira do Nascimento, o nosso Mestre Jacarandá

 

Conhecendo a história musical do Paraná

Em 1853, a Lei Imperial nº 704 marcou um ponto crucial na história do Brasil ao determinar a criação da Província do Paraná. A tranquila Curitiba, então habitada por cerca de 6 mil pessoas, viu-se elevada à condição de capital da nova província. Este período testemunhou o surgimento das primeiras sociedades e espaços culturais na região. Logo em seguida, em 1854, nasceu o primeiro jornal local, o Dezenove de Dezembro, fundado por Cândido Martins Lopes.

A chegada de profissionais de diversas áreas, como professores, médicos, políticos e artistas, impulsionou o desenvolvimento da cidade. A abertura das Estrada da Graciosa e Estrada de Ferro não apenas impulsionou a economia local, mas também catalisou a efervescência das produções artísticas nos anos subsequentes.

Neste contexto, emerge uma figura de destaque: o Mestre Jacarandá, cujo verdadeiro nome era Ricardo Pereira do Nascimento. Sua contribuição fundamental para o ensino da música em Curitiba ecoa até os dias atuais, embora os detalhes de sua vida permaneçam em grande parte envoltos em mistério.

Os registros mais antigos sobre o ensino de música na cidade remontam a 1857, quando o Lyceu de Curitiba foi estabelecido. É interessante notar que este espaço, ao longo dos anos, passou por diversas denominações, refletindo as mudanças políticas e sociais da época.

Em 1857, o livro “Pequena Arte de Música”, o segundo a ser publicado na capital, veio à luz, evidenciando a crescente importância da música na sociedade curitibana em desenvolvimento. Este livro, publicado pela Typographia Paranaense de Cândido Martins Lopes, trazia lições compiladas por Ricardo Pereira do Nascimento.

Mestre Jacarandá, de origem africana e possivelmente natural da Bahia, chegou a Curitiba para dirigir a Banda Musical do 2º Regimento de Cavalaria. Sua trajetória militar é sugerida por um registro do Ministério da Guerra datado de 1847, mencionando um músico de nome similar.

Jacarandá conquistou reconhecimento e prestígio na capital paranaense, embora seja intrigante considerar que manifestações musicais de origem africana, como batuques e zabumbas, eram reprimidas pelas autoridades locais na época.

É incerto se o prestígio de Jacarandá derivava de sua virtuosidade musical ou de seu status militar. No entanto, em 1857, ele assumiu o cargo de professor de música no Lyceu de Curitiba, apenas para ser substituído alguns meses depois pelo maestro Bento Antônio Menezes, conforme relatado pelo jornal Diário do Paraná em 1977.

A substituição de Jacarandá levanta questões sobre possíveis motivações, sendo plausível considerar o preconceito racial como um dos fatores. No entanto, essa hipótese não diminui sua contribuição para a história da música paranaense.

Após sua substituição, poucas são as informações disponíveis sobre a vida e obra de Jacarandá. Três breves notas, uma delas datada de 1887, confirmam sua presença na capital paranaense, marcando seu falecimento em 11 de janeiro daquele ano. Assim, o legado do Mestre Jacarandá permanece como parte integral da história cultural de Curitiba.

 

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