Enveredando pela literatura, cearense lança livro ‘Mata-mata’ baseado em vivências contadas aos montes pelo interior cearense, em uma mistura entre ficção e realidade.
A arte de Rafael Dantas acompanha a trama de Zé Wellington | Foto: Emanuel Mello
Não fosse pelo título ou pelo resumo disponibilizado pelos editores, o novo livro do cearense Zé Wellington poderia esconder o jogo em suas primeiras páginas. Entretanto, ele prefere chamar o leitor, já na capa, para história curta baseados em vivências contadas aos montes pelo interior cearense, em uma mistura entre ficção e realidade.
Contemplado pelo edital da Lei Aldir Blanc, da Secretaria da Cultura de Sobra, “Mata-mata” é daquelas obras que fazem o leitor repassar o enredo mesmo horas depois de ter encerrado a última linha escrita da obra, um conto ilustrado, em formato de e-book.
“Ele surgiu de uma lembrança da minha adolescência”, conta, de cara, o autor do livro em entrevista ao Verso. “Em um dia, na escola, entrou um garoto novo. Quando chegou, todos os colegas começaram a dizer que ele era sobrinho de um pistoleiro famoso na região e todos tinham esse medo. Grande parte do conto veio disso. Mas também é uma história sobre família, laços e legado, sobre essa coisa que temos muito forte no interior de que você é muito o que seus pais eram”, relata.
A história traça um paralelo entre Ricardo e Ademir, um jovem e um idoso, com tramas que se cruzam em meio à realidade da pistolagem na cidade fictícia de Jaguatinga.
Capa do livro ‘Mata-mata’ | Ilustração: Rafael Dantas
Profundidade
Disponibilizado de forma gratuita na internet, “Mata-mata” oferece uma leitura rápida, como quem fala de um assunto sério sem se ater às explicações complexas descritas em fatos. Para tratar do assunto da pistolagem, Zé Wellington procurou se valer da pesquisa.
“A pistolagem marcou muito o Nordeste anos atrás, mas também continua acontecendo, ainda que tenha mudado bastante e esteja ligada ao tráfico em muitos locais. Foi muito ligada às práticas do coronelismo e a minha história aborda um pouco disso, sobre como as pessoas são impactadas na forma como vivem”, comenta.
Da mistura entre a lembrança e a vontade de falar de algo importante, o trabalho de pesquisa se fez necessário. Zé Wellington conta ter buscado raízes doloridas do imaginário do povo local no intuito de construir protagonistas e antagonistas densos para, no fim, entregar algo não tão aprofundado, mas que deixa margens para entender as superfícies de ligações que permanecem até hoje, não apenas no Ceará.
“É algo curto, até por conta do tempo que tive para participar do edital, mas dentro da produção fiz pesquisas pegando histórias de vida de alguns dos principais pistoleiros por meio de livros e entrevistas e foi muito enriquecedor perceber do fascínio que exercem. Há uma série de elementos que são levemente baseados em coisas que aconteceram aqui”, pontua.
Sem se preocupar em descrever abertamente os personagens, Zé Wellington concede o peso necessário a tudo aquilo que envolve os dois homens descritos logo na abertura. O livro, no fim das contas, não conta apenas a história de Ricardo ou Ademir diante das injustiças dos crimes de pistolagem: transforma a prática como destaque para deixar claro como as vidas mostradas pela ficção podem servir de comparação ao já visto na vida real.
Novos caminhos
O cearenseZé Wellington também é conhecido pela escrita de histórias em quadrinhos como “Steampunk Ladies” | Foto: Divulgação
Roteirista de HQs como “Cangaço Overdrive” e “Quem Matou João Ninguém?”, Zé conta que mesmo com o pouco tempo de divulgação do livro, já teve retornos positivos de quem o acompanha.
“É uma coisa muito comum de se ouvir essa questão das continuações, mas não tenho ideia ainda de continuar o projeto como literatura, apesar de ainda querer levá-lo para outras mídias”, ressalta o sobralense ao também lembrar que a obra traz mistura de áudio drama desde a concepção das primeiras ideias.
por Mylena Gadelha
Serviço
Livro: “Mata-mata”
Editora Draco
Autor: Zé Wellington
Ilustrações: Rafael Dantas
46 páginas
R$ 0 na loja Kindle
Fonte: Diário do Nordeste
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