Principais dirigentes da Cultura no país criticam desmonte do MinC

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Diante das ações prejudiciais ao setor cultural no Brasil, cometidas pelo governo interino de Michel Temer, através do novo ministro Marcelo Calero, lideranças da área repudiam a gestão do Ministério da Cultura em âmbito federal. Em depoimentos eles criticam o “total desmonte institucional que, tal qual o Golpe, assalta a sociedade brasileira também no âmbito da Cultura”.

 

 

Foto: Reprodução

Dirigentes da Cultura criticam desmonte do MinC (Ivana Bentes, Juca Ferreira e João Brant)

O ex-ministro de Cultura, Juca Ferreira, em resposta às provocações do novo ministro acusando o governo Dilma de aparelhamento no MinC disse que “a mentira tem pernas curtas. Calero está querendo bancar o sabido, justificando suas arbitrariedades e incompetências com essa história de aparelhamento. Mentira. O MinC não foi aparelhado. Estávamos montando uma estrutura republicana para tratar a cultura com a importância que ela tem. Entre os dirigentes do MinC, tínhamos simpatizantes do PSDB e de outros partidos de oposição, sendo que a maioria era sem partido e pouco afeita às lides político-partidárias.”

 

“A ‘esperteza’ de justificar as demissões alegando desaparelhamento tem duas facetas enganosas: enganar a opinião pública e criar um clima de simpatia superficial com os funcionários estáveis. Calero é um agente menor do golpe. O que popularmente chamamos de pau mandado. Fará o que determinarem. Tem se mostrado deslumbrado e arrivista. Está gostando da notoriedade repentina… Mas não se engana muita gente o tempo inteiro. O tempo dirá”, desabafou.

 

Diminuir as estruturas

 

O ex-secretário executivo do MinC, João Brant comentou sobre as exonerações dos 81 funcionários publicados no Diário Oficial nesta terça-feira (26). “A narrativa do aparelhamento é a única que eles tinham para justificar a violência do ato, mas é uma ofensa a servidores de enorme competência técnica que vinham dedicando a vida ao MinC independentemente de gestão.”

 

Para Brant, é preciso compreender o contexto e o real intuito de tais exonerações: “Por trás de uma medida aparentemente ‘moralizadora’ está o objetivo de diminuir a estrutura. A economia é ridícula no conjunto, mas fatal para a realização das políticas. Pode-se ou não chamar isso de desmonte, mas na prática isso diminui a capacidade do ministério de entregar políticas eficazes para a população.”

 

João Brant explicou que a maioria dos 81 exonerados não tinha qualquer relação política com o PT. Deixando claro, que a razão não é apenas política, mas de desmonte da gestão pública voltada para o setor.

 

“Eram servidores de perfil técnico competentes e dedicados que atuavam em setores chave do Ministério. Aprovada a reestruturação do ministério, haverá uma imensa diminuição na capacidade de realização das políticas pelo ministério”, destacou o ex-secretário.

 

“Está na hora de o ministro parar de fazer discurso de desconstrução infantil e botar na rua alguma proposta pela qual mostre a que veio”, proferiu Brant.

 

Ausência, autoritarismo e instabilidade

 

Carlos Paiva, secretário de Fomento e Incentivo à Cultura acredita que o que ocorreu “no MinC ficará para a história como exemplo de má gestão pública da cultura. Profissionais de perfil técnico, com anos de trabalho e de grande competência, foram demitidos sem aviso prévio mínimo (que não é obrigatório, mas é eticamente esperado). Muito deles eram referências em suas áreas de atuação.”

 

“Algumas áreas ficaram completamente desmontadas, como a Cultura Digital, tema central para qualquer política cultural contemporânea. Nas palavras de Leo Germani, ‘exoneraram uma das figuras mais brilhantes que conheço, Jose Murilo.’ Consigo imaginar respostas que racionalizem a questão e justifiquem que nada será descontinuado. Reorganização, aproveitamento etc.

 

Podem até parecer coerentes, mas não são verdadeiras. Qualquer um que passou pelo serviço público ou tem uma relação frequente com ele sabe que, ao menos no âmbito da cultura, uma boa equipe, técnica, com experiência, é uma demanda e uma fragilidade histórica. Com os afastamentos de hoje, perde-se talento, comprometimento e memória. Com isso o MinC, deliberadamente, retoma três tristes tradições de nossas políticas culturais: ausência, autoritarismo e instabilidade.”

 

Desmonte das políticas culturais

 

Mais incisiva contra as exonerações, Ivana Bentes, Secretária da Cidadania e Diversidade Cultural disse: “Continua o massacre da serra elétrica no Ministério da Cultura! Não bastasse a repressão as ações nas ocupações culturais em todo o Brasil, um laboratório incrível de autogestão e ‘fazimento’ cultural, hoje temos exoneração em massa no Diário Oficial da União. E não se tratam de exonerações políticas, de supostos “petistas”, o que já seria execrável, uma das mesquinharias da baixa política. Estão sendo exonerados em massa os quadros técnicos, especialistas, experts, pessoas qualificadas que trazem a memória de processos, da gestão cultural, de setores inteiros! Ou seja são exonerações que desmontam as políticas culturais. Exoneraram, entre os 70 cargos, a cúpula inteira da Cinemateca Brasileira! É um enorme retrocesso”, lamentou.

 

O diretor do Centro de Artes Cênicas da Funarte, Leonardo Lessa, recordou que a medida inicial de Michel Temer após assumir a Presidência da República, era de extinguir de imediato o Ministério da Cultura e montar uma Secretaria Nacional de Cultura e ressaltou que à frente do MinC, “Marcelo Calero, cumpre com louvor a missão que lhe foi dada pelo interino Michel Temer!”. “Agora a tarefa é desmontar o MinC de dentro para fora e com isso diminuir a relevância das políticas culturais no Brasil.”

 

Os depoimentos foram divulgados pela Frente Nacional de Teatro, que reúne trabalhadoras e trabalhadores de teatro de todas as regiões do país.

 

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