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Paulo Coelho: autor já foi traduzido para 51 países
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Livro penetra na estrutura do romance ”O Alquimista”
De um lado, Paulo Coelho, De outro, os críticos literários. Há quase duas décadas, eles não se bicam. Quanto mais o escritor expande seu universo de leitores, menos sua obra parece mobilizar o instrumental analítico dos intelectuais acadêmicos, que se recusam a comentá-la.
Best-seller mundial, o autor de ”O Diário de Um Mago” já foi traduzido para 51 idiomas, tornando-se o escritor brasileiro mais lido da história. Os estudiosos, por sua vez, continuam arredios a seus livros de auto-ajuda negando-lhes qualquer dignidade estética ou estatuto literário.
O ensaísta Janilto Andrade, Phd em Letras pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), tenta romper o silêncio com a publicação de ”Por que não ler Paulo Coelho” (editora Calibán).
O volume, quase em formato de bolso, traz uma análise nada generosa do livro ”O Alquimista” (1988), o título mais conhecido do ex-parceiro de Raul Seixas.
”A crítica literária elaborada imaginativa e intelectivamente constrói um discurso que aponta para a coesão interna característica das obras formalmente bem estruturadas, mas este estudo, ao contrário, torna conhecido os (des)caminhos de um texto cujo maior pecado entre os maiores é não ter coerência interna nenhuma, lembrando, antes, uma panela mal mexida” sentencia o autor já nas linhas iniciais.
Janito aponta contradições na narrativa, erros infantis de coerência linguística e personagens mal construídos. Acentua a fragilidade do protagonista, um pastor de ovelhas que lê autores clássicos e viaja ao Oriente em busca do auto-conhecimento metaforizado num suposto tesouro escondido em pirâmides egípcias.
Segundo o crítico, o herói inverossímil peca pela desarmonia entre sua fala, seus desejos e o contexto em que está inserido.
Taxando o obra de narrativa trivial, ele escreve que Paulo Coelho dá ao leitor acomodado aquilo que ele espera encontrar no livro, ”um excitante vulgar procurando qualificar-se como arte sofisticada”.
Não haveria nenhum apelo à análise, nenhuma exigência de esforço perceptivo, nenhum estranhamento. Apenas lugares comuns temperados com pregações conformistas.
Ao examinar o romance pelo viés ideológico, o autor argumenta que ”O Alquimista” funciona como um ”sedativo” para a consciência infeliz do homem contemporâneo. Pinça uma das sentenças mais citadas de Coelho (”quando você quer alguma coisa, todo o Universo conspira para que você realize seu desejo”) assinalando que ”frases assim teimam em preencher o vazio da classe média e da pequena-burguesia, acossadas pela desesperança, perplexas, porque não entendem as razões do isolamento em que se meteu o indivíduo, porque não enxergam na tirania mercadológica, a conversão do sujeito em objeto e do objeto em sujeito”.
Na introdução, Janilto lembra que teve de vencer resistências para pegar o exemplar de ”O Alquimista” na Biblioteca da Universidade Católica de Pernambuco. Foi convencido por alunos e ex-alunos, a quem dedica o volume, que sempre o indagaram: ”por que professores de literatura não lêem Paulo Coelho?”.
Serviço:
”Por que não ler Paulo Coelho”
Autor: Janilto Andrade
Editora: Calibán (tel. 21/2533-3587 / e-mail: caliban@uol.com.br)