Ponta Cega, poema para Lula

Por Cláudio Daniel*

I

País tão escuro
tão pedra
e osso
ponta cega
de faca
caranguejo
que avança
para trás.

II

País tão bruto
tão fome
e fosso
onde tudo
fere fundo
tontos torpes
tramam
trevas.

III

País tão escroto
tão rato
e esgoto
rua estreita
sem saída
lesma
dissolvida
no sal.

IV

Impossível
mudar
a direção
dos ventos
fazer a lua
girar
ao contrário
molhar o sol.

V

O fogo
não vai
gelar,
nem a nuvem
percorrer
o mar,
nem o peixe
viajar no céu.

VI

Impossível
aceitar
tanto horror
tanto escuro
impossível
aceitar
tanta lama
tanto asco

VII

Este chão de feras
poço de detritos
partitura
de confusão
e ódio
agora
será palco
de batalha.

VIII

EU RECUSO.
NÓS RECUSAMOS.

IX

Nossa voz, agora:

X

Explosão vermelha.

*Claudio Daniel é poeta e militante do PCdoB, e mandou seu poema inédito para publicação no Portal Vermelho.

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