Poesia é palavra em estado de lança. É assim, armada, que Luiza Romão traz ao mundo seu projeto Sangria. Inconformada com a versão fálica da história brasileira, a poeta decidiu mudar a perspectiva e retratar os processos do país sob a ótica de um útero.
“Então quando eu comecei a escrever eu percebo que o feminino era uma coisa que perpassava todos os meus textos, e não só o feminino, mas o feminino numa dimensão estrutural. Então, a minha ideia de olhar para a história do Brasil revisitando como são as construções do feminino estão um tanto nisso. De ver como que hoje você tem tantos assédios no espaço público, você tem uma desigualdade absurda de gênero, você tem uma violência que mata muitas mulheres por dia. Não é uma coisa de agora, pelo contrário, a nossa nação ela foi fundada sob o vulto de uma menina desacordada, o patriarcado funda inclusive o nome do Brasil”, expressa Romão.
A poeta observa que o Brasil se consolidou economicamente em ciclos: o ciclo da borracha, o ciclo do café, o ciclo do ouro e o da cana de açúcar. Na política, de acordo com ela, o processo se repete e o país tem ciclos democráticos e ciclos de abruptas interrupções na democracia:
“Se você olhar para a nossa história, desde a independência até agora esse impeachment, que na verdade é um golpe, a gente sofre vários processos de interrupção de um possível nascimento de um Brasil. Então eu entendo a história brasileira como uma gestação que sempre é forçada a um aborto muito violento”, denuncia a poeta.
Em diálogo com a duração do ciclo menstrual, Romão organizou a sua narrativa norteada pelo número 28. São 28 poemas e 28 fotografias que preenchem as páginas do livro, que foi organizado como um calendário.
O ensaio fotográfico é fruto de uma parceria com o fotógrafo Sérgio Silva, que retratou partes do corpo de Luiza. Posteriormente, a artista fez intervenções nas imagens costurando com linha vermelha objetos metálicos, que representam as intromissões do patriarcado no corpo feminino.
Além do livro, Sangria se desdobrou em uma websérie criada em parceria com outras mulheres artistas que trouxeram suas próprias leituras sobre os poemas de Luiza. Para isso, as artistas exploraram linguagens diferentes como pintura, bordado, grafite e música. O material foi registrado em vídeo e contou com quase 50 mulheres envolvidas no processo.
Para apresentar tudo isso ao público, Luiza realizará a Ocupação Sangria no Sesc Pinheiros no dia 11 de outubro. Serão 28 dias de programação que conta com exibição dos videopoemas, um show-lírico (com microfone aberto e jam session musical), uma oficina de videopoema e o lançamento do livro.
Sangria termina com luta e sangue. Nas palavras de Luiza, o momento de grande conservadorismo que marca os dias de hoje no Brasil, pede que a palavra se torne granada.
Serviço:
11 De outubro (quarta-feira)
19h: exibição dos videopoemas
20h: show-lírico com Luiza Romão e duo (part. especial Angélica Freitas e Luz Ribeiro)
07/10 a 28/10 – Oficina de videopoema
Sábados, das 14h às 17h (com Luiza Romão e Sérgio Silva)
Fonte: Brasil de Fato
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