Pesquisa da Funarte revela perfil de residências artísticas no país

As residências artísticas, como são conhecidos os espaço temporários de desenvolvimento da criatividade e interação, foram identificadas e catalogadas pela Fundação Nacional das Artes (Funarte), que lançou hoje o Mapeamento de Residências Artísticas no Brasil. O levantamento traçou o perfil das unidades, com objetivo de ajustar as políticas públicas, e mostrou que a maioria das residências está na Região Sudeste. Elas contam com investimentos próprios ou privados, o que, segundo os especialistas, dificultam o acesso de artistas brasileiros e refletem a desigualdade no acesso à arte.

Feito com base em questionários preenchidos pela internet, em 2013, o mapeamento identificou 191 projetos. Os estados de São Paulo, do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, reúnem 110 unidades, seguidos dos da Região Nordeste, onde 39 residências foram encontradas. Os espaços recebem artistas por períodos e atividades variadas, com predominância das artes visuais.

“Não é exatamente um curso, uma viagem de intercâmbio, é uma experiência, um processo de imersão para pesquisas artísticas, de troca, seja na área de arte visual, teatro, dança, circo, música. O artista se desloca de contexto para empreender uma atividade”, explicou um dos autores do mapeamento, André Bezerra, da Funarte. Segundo ele, as residências, de diversos formatos, cresceram nos últimos anos e estão associadas à pesquisa e ao desenvolvimento da arte, a troca e tem potencial de se desenvolver fora das capitais.

O mapeamento da Funarte mostra que as residências são mantidas por recursos próprios (21,7%), financiamento privado (14,5%) por fundos e transferências governamentais (25,7%).  Dois terços das instituições empregam até cinco funcionários, mas algumas unidades chegam a ter mais de 50 pessoas trabalhando, do recepcionista ao curador.

As instituições que oferecem as residências, de acordo com o mapeamento, geralmente têm sedes próprias e são administradas por artistas, como é o caso do Largo das Artes, no centro do Rio de Janeiro. Aberto há dois anos, o local tem programação de um mês, para quem já mora no Rio, e para artistas de fora do estado. “Oferecemos acomodação, ateliê, suporte curatorial, evento final, abertura [de exposição]”, disse a diretora Consuelo Bassanesi. Os visitantes de fora passam os dias no ateliê, rodeados de museus, e dormem em apartamentos na zona sul.

Segundo Consuelo, por dificuldade de financiamento, a maioria dos artistas recebidos pelo Largos das Artes, é estrangeira, que consegue financiamento em seus países. Segundo ela, são escassos os fundos para os artistas nacionais e para as próprias residências artísticas. “Para o ano que vem, aprovamos duas brasileiras e indicamos organizações internacionais que costumam oferecer bolsas”, disse. O programa, de um mês, custa cerca de R$ 6 mil.

Durante a apresentação do mapeamento, em evento no Rio, Amilcar Packer, codiretor do programa internacional de residenciais artísticas de pesquisa, no Rio, defendeu que o governo crie formas de financiar as residências, por meio de projetos de longo prazo, de facilitar a compra de equipamentos utilizados nas práticas criativas e avalie isentar as unidades, que promovem a arte, de impostos como o IPTU (Imposto Patrimonial Territorial Urbano).

“Tem que ser um programa de longo prazo, de dois a cinco anos, porque as unidades têm que fazer atividades contínuas, com antecedência, como a seleção dos artistas e a aquisição de equipamentos”, disse Amilcar, que também é professor convidado do Programa de Arte, Pesquisa e Prática da Escola Nacional Superior de Belas Artes de Paris, na França.

A Funarte estuda lançar um programa específico para estimular as residências artísticas. O seminário, no Rio, recebe contribuições que resultará em um documento que deve ser colocado para consulta pública no primeiro semestre de 2015.

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