Pela primeira vez, Flip terá mais autoras que autores na programação

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“Havia expectativa para que essa edição tivesse mais negros e mulheres. São dois movimentos paralelos de ativismo muito importantes e isso nos fez repensar a representação dos eventos literários. Há cinco anos, ninguém era perguntado sobre isso, ficava todo mundo silencioso, era naturalizado”, disse a curadora.

Nas últimas edições do evento, a baixa diversidade e a pequena representatividade na programação recebeu críticas do público e dos próprios autores. Na edição do ano passado, por exemplo, a falta de autores negros em mesas centrais da Flip causou debates entre os presentes – inclusive, a escritora Conceição Evaristo, um dos nomes confirmados para esta edição, chegou a chamar a atenção do então curador, Paulo Werneck.

“É muito fácil fechar três programações só com homens, é muito mais rápido”, disse Aguiar, refletindo que, para as mulheres, batalhar por um lugar ao sol no mercado literário é mais difícil, já que a elas é empurrada a função da maternidade, as tarefas domésticas e outras responsabilidades que envolvem a família. “Não necessariamente as mesas vão falar sobre feminismo, mas muitas delas foram pensadas a partir desse ponto de vista, desse olhar e dessa contribuição.”

Programação

Entre os nomes confirmados estão a ruandesa Scholastique Mukasonga, a britânica da África do Sul Deborah Levy, o islandês Sjón e o rapper ativista angolano Luaty Beirão. Um dos principais encontros será entre os autores negros Marlon James, da Jamaica, e Paul Beatty, dos Estados Unidos, ambos vencedores do Man Booker Prizer, prêmio mais prestigiosa da língua inglesa. A romancista e poeta Conceição Evaristo encerra o evento ao lado de Ana Maria Gonçalves, em um tributo a autoras africanas e da diáspora negra.

Um dos eixos da curadoria foi a busca por autores renovadores da linguagem – como Lima Barreto (1881-1922), grande homenageado desta edição, que aparece como tema, direta ou indiretamente, de dez mesas. A curadora diz que espera que a programação da Flip deste ano seja um “ponto de virada” para a própria festa, para outros eventos literários que acontecem pelo país e para o próprio mercado editorial.

“Estamos trazendo autores que há muito tempo já poderiam ter vindo, mas que talvez por fugirem do padrão e por trabalharem com editoras independentes não vieram”, disse a curadora. “São autores que estão aí já presentes, e que a gente pode redescobrir. É como entrar numa livraria e ir ali para baixo na prateleira, ou então em cima – e não apenas ver o que está só ali na frente como proposta.”

Fonte: Revista Cult

 

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