Há cinquenta e nove anos, estreava no Teatro de Arena, em São Paulo, a peça Eles não usam Black-tie, de Gianfrancesco Guarnieri. A peça, que abriu nova perspectiva para a dramaturgia brasileira, livrou o Teatro Arena da falência e ficou mais de um ano em cartaz, fato até então inédito no país.
Apresentação Patrícia Leite
ANTES DE OUVIR O ÁUDIO DESLIGUE O SOM DA RÁDIO BRASIL CULTURA NO TOPO DA PAGINA
No cinema, fervilhavam as ideias e os questionamentos do movimento do Cinema Novo. O país sentia a necessidade de grandes transformações sociais. No teatro, a peça Eles não usam Black-tie, refletia a imagem da assumida contestação do padrão artístico dominante. A peça não dava espaço para cenários pomposos e figurinos luxuosos com histórias da aristocracia ou da burguesia. A peça era encenada numa favela dos anos cinquenta e tinha como tema a greve.
Em vez de ricos e poderosos entraram em cena operários e moradores do morro. Os conflitos da realidade brasileira, naquele momento, ganharam espaço na arte e sacudiram a crítica, o público e especialmente a sociedade conservadora da época.
O choque de posições ideológicas e absolutamente opostas, vividos na peça, entre pai e filho, deram a tônica dramática do texto.
Otávio, era o pai. Um socialista, operário de carreira, sonhador… Um revolucionário por convicção. Preso várias vezes, era um dos cabeças do movimento grevista.
O filho, Tião, por causa do ativismo do pai foi criado pelos tios, longe da favela. Já adulto voltou a morar com os pais no morro, onde viveu um dos maiores conflitos de sua vida. Em primeiro lugar não queria aderir à greve, pois achava que essa era uma luta inglória, sem maiores resultados para a classe.
Em segundo lugar pretendia se casar com Maria, moça simples, determinada, leal ao seu povo, e que trazia na barriga um filho seu.
Por esta razão, Tião estava muito mais preocupado com o seu futuro com Maria do que com a luta de seus companheiros que sonhavam com melhores salários.
Na realidade, Tião não tinha medo do confronto com o inimigo. O seu medo era outro. Tião tinha medo de ser pobre. Ele queria mesmo era subir na vida e deixar para trás a condição difícil e miserável do morro.
Paralelamente a esses personagens de grande força dramática, circulavam outros: a mãe, o amigo… Personagens que ponderavam e ressaltavam os valores e as perspectivas daquela gente humilde.
Poética e verdadeira, a peça Eles não Usam Black-tie lançou um olhar profundo sobre a sociedade brasileira. Um marco, sem dúvidas, na dramaturgia nacional.
Produção: Renato Lima
Sonoplastia: Messias Melo
História Hoje: Programete sobre fatos históricos relacionados às datas do calendário. Vai ao ar pela Rádio Brasil Cultura de segunda a sexta-feira.
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