
Uma memória de resistência e um alerta para o presente – Crônica de Cláudio Ribeiro
Na memória coletiva do Brasil, há momentos que transcendem o tempo e se fixam como marcos da história, símbolos de luta e resistência. Um desses momentos foi a campanha das Diretas Já, um grito uníssono de um povo que, após mais de duas décadas de repressão, exigia a devolução de sua democracia. Tive a honra de ser o apresentador desse inesquecível momento cívico-cultural, testemunha e participante de uma mobilização que ecoou nos corações de milhões de brasileiros.
E essa chama, que por tanto tempo ardeu em silêncio, transformou-se em incêndio na campanha das Diretas Já. O Brasil foi às ruas, ergueu cartazes, cantou hinos e, acima de tudo, exigiu seu direito de escolher os próprios governantes. Estávamos lá, cada um com sua voz, sua luta, sua esperança. E foi essa força popular que desmoronou os alicerces da ditadura, abrindo caminho para a eleição da Assembleia Nacional Constituinte e a construção de um novo Brasil.
Mas a história não é estática. A democracia, conquistada com tanto suor e sangue, precisa ser diariamente defendida. Hoje, em pleno estado democrático de direito, assistimos ao julgamento daqueles que tentaram, mais uma vez, golpear as instituições e subjugar o povo. Entre os réus, um ex-presidente da República, símbolo de uma tentativa fracassada de retorno ao autoritarismo. A responsabilização desses golpistas não é apenas uma questão de justiça, mas um compromisso inegociável com a memória de todos que deram a vida por um Brasil livre.
O deputado Ulysses Guimarães, com sua verve inconfundível, afirmou que “a sociedade foi Rubens Paiva, não os facínoras que o mataram”. Essa frase ressoa com uma verdade incontestável. A sociedade brasileira sempre será os que resistem, os que lutam, os que não aceitam a sombra do autoritarismo. E que essa lição permaneça viva, lembrando-nos de que a democracia não é um bem garantido, mas um ideal a ser defendido – hoje e para sempre.
Cláudio Ribeiro
Jornalista – Compositor
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