Novas revelações sobre Gonzaga, o Rei do Baião

luiz gonzagaO Luiz Gonzaga marqueteiro, que fazia lobby pelo baião; o visionário que, já no Rio, na década de 40, percebeu que havia público consumidor para sua música nos grandes centros – migrantes, como ele, que se mantinham fortemente ligados à sua terra; o primeiro artista a lançar discos com registros do gênero nordestino por excelência. Esse personagem fascinante segue inspirando o jornalista paraibano Assis Ângelo, autor de dois livros sobre ele, e que agora está terminando um novo, a ser lançado no segundo semestre, o qual considera o mais completo.

A publicação trará não só lances da biografia de Gonzagão, mas também bibliografia referente a ele, sua filmografia (apareceu em filmes como Astros em Desfile, de José Carlos Burle, de 1942, Este Mundo É Um Pandeiro, de Watson Macedo, de 46) e, claro, a discografia completa, incluindo as versões do baião em outras línguas, como espanhol, inglês, italiano, francês, japonês e o idioma da Ilha de Páscoa. Baião (“Eu vou mostrar pra vocês…”) foi bastante gravada no exterior, enquanto Asa Branca foi a mais registrada no Brasil.

Este mês, o escritor foi até Buenos Aires, procurar dados que comprovassem uma informação bastante significativa, que dá a dimensão de seu sucesso nos anos 50: a de que, à época, o governo argentino baixou uma norma de proteção à música local, tamanho era o sucesso do tal do baión – a música brasileira mais autêntica que existe, nas palavras do parceiro Humberto Teixeira, a única que ofereceu aos nordestinos desterrados um espelho para que se reconhecessem.

“Gonzaga foi o divisor de águas da música brasileira, não à toa esse é o nome do livro. Nunca ninguém havia gravado baião, forró, xaxado, toada nordestina. O interessante foi que ele, que nunca entrou numa escola, sacava da parte comercial, planejou lançar o baião. Percebeu que a sanfona fazia sucesso, viu que os nordestinos que moravam no Sul gostavam de ouvi-lo falar das coisas da sua terra”, conta Assis, que conheceu o mestre em 1978, em São Paulo, quando o entrevistou pela primeira vez.

Os dois acabaram se tornando próximos – Gonzaga só o chamava de “paraíba”. Por muitas vezes, o ouviu dizer “eu quero é ser cartaz”, uma demonstração de que o filho de Mestre Januário queria apresentar a música nordestina para todos os brasileiros.

Além de horas e horas de conversas com o Rei do Baião, o autor se apoiou também em relatos de gente como os compositores Mario Lago e Luiz Vieira, os músicos Dominguinhos (seu único herdeiro artístico, como o próprio dizia), Hermeto Pascoal e Oswaldinho, os cantores Elba Ramalho, Roberto Luna e Carmélia Alves (a Rainha do Baião), entre outros que conviveram com Gonzagão.

O feliz encontro, em 1945, com Humberto Teixeira, o advogado que o conhecia pela fama de seus 24 discos e que viria a se tornar seu parceiro em Asa Branca, Baião, Qui Nem Jiló, Assum Preto, Légua Tirana e em outros sucessos, e a quem Gonzaga batizaria de Doutor do Baião, é uma passagem importante.

Gonzaga procurava um letrista e foi até o escritório de Teixeira, no centro do Rio, convocá-lo. Ele lhe havia sido altamente recomendado, mas o músico não podia imaginar quão feliz aquela parceria seria. O artista do povo, que se vestia com trajes e chapéu de couro típicos do sertão, e o literato, que só andava de terno, se completavam – eram “o canhão e a pólvora”, como brinca Otto, pernambucano como Gonzaga, no documentário sobre Teixeira, de Lírio Ferreira, O Homem Que Engarrafava Nuvens. Juntos, eles fizeram do baião o gênero que tomou conta do Brasil, colocando o Nordeste no mapa cultural do País, como ensina o filme.

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100303/not_imp518588,0.php

Roberta Pennafort

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