A professora da USP e Princeton recebeu 24 votos e passa a ocupar cadeira número 9 na Academia Brasileira de Letras, antes do diplomata e poeta Alberto da Costa e Silva
A antropóloga e historiadora Lilia Moritz Schwarcz foi eleita imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL), na última quinta-feira (7). A professora da Universidade de São Paulo (USP) e visiting professor da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, recebeu 24 dos 38 votos possíveis e se tornou a 11ª mulher a ocupar uma cadeira da ABL desde a sua fundação, em 1897.
A participação feminina na Academia tem sido historicamente limitada, situação que ainda reflete desafios mais amplos de representação. A primeira mulher eleita foi Rachel de Queiroz, em 1977. Também foram imortalizadas Dinah Silveira de Queiroz, Lygia Fagundes Telles, Nélida Piñon, Cleonice Berardinelli e Zélia Gattai.
A eleição Schwarcz indica o reconhecimento de sua excelência acadêmica e literária, mas também é um passo rumo à diversificação e inclusão na instituição, que agora conta com quatro mulheres – percentual ainda baixo, o qual se espera que cresça.
Ela estará junto com Rosiska Darcy de Oliveira, Ana Maria Machado, Fernanda Montenegro e Heloisa Teixeira.
A presidência da ABL foi ocupada por mulheres somente duas vezes. Em 1997, por Nélida Piñon, e entre 2012 e 2013, por Ana Maria Machado.
Cadeira 9
A professora Lilia Schwarcz já publicou mais de 30 livros, com produção conhecida por contribuições acadêmicas nas áreas de antropologia, história e estudos culturais, bem como pela produção literária. Seus trabalhos exploram questões da identidade brasileira, colonialismo, escravidão, raça e cultura, entre outros temas.
Entre as suas principais obras constam: “O Espetáculo das Raças: Cientistas, Instituições e Questão Racial no Brasil, 1870-1930” (1993); “As Barbas do Imperador: D. Pedro II, um Monarca nos Trópicos” (1998), vencedor do Prêmio Jabuti de Livro do Ano de Não Ficção, em 1999; e “O Sol do Brasil” (2008), biografia do pintor francês Nicolas-Antoine Taunay, vencedor do Jabuti de biografia, em 2009.
Em suas redes, Schwarcz destaca a posição que irá ocupar na casa, a cadeira número 9, que era ocupada anteriormente pelo diplomata e poeta Alberto da Costa e Silva.
“É com imensa honra e tomada por grande emoção que comunico minha eleição na Academia Brasileira de Letras. Entro na cadeira 9 que ficou vaga por ocasião do falecimento do saudoso Alberto da Costa e Silva. Alberto era nosso maior africanista, poeta de mão cheia, cronista sensível, memorialista da subjetividade, historiador erudito, diplomata referenciado e um defensor combativo e incansável da equidade racial no Brasil. Ele era também, e digo com humildade, um pai que a vida me deu. Eu já o lia desde os tempos da graduação em história. Nós só nos conhecemos em 1995, numa recepção ao escritor José Saramago por ocasião do prêmio Camões. Ele cuidou do cerimonial e, de propósito, me colocou sentada ao lado dele. Começamos a conversar faz quase 30 anos atrás e nunca mais paramos. Alberto virou meu conselheiro, meu braço direito e esquerdo, meu incentivador mais bondoso e também um crítico severo. Compartilhamos artigos, livros, coleções, entrevista e uma vida de trocas intelectuais e afetivas. Na foto, estou ao lado dele na ocasião em que o próprio Alberto ganhou o prêmio Camões, em 2014. Ao meu lado estão Elza Maria (que virou minha irmã de escolha), Toninho e Pedro — os filhos de verdade do Alberto. Todos eles sempre me acolheram como parte da família. Falava com Alberto toda semana, o visitava e o ouvia sempre. Alberto era uma pessoa justa, bondosa, generosa, um intelectual de mão cheia. Espero honrar e seguir as diretrizes que ele deixou na ABL. Sinto tanta falta dele sempre, e ainda mais nesse dia. Mas me oriento pelas lições que ele deixou e assim sigo em frente.
*Com informações Jornal da USP
Faça um comentário