Oito armazéns em ruínas na região portuária do Bairro do Valongo, no centro histórico de Santos, devem se converter em complexo cultural e de lazer, a exemplo de Puerto Madero, em Buenos Aires. O projeto de reurbanização do maior porto da América Latina, que deve começar em 2006, acaba de ganhar como incentivo a cessão dos galpões pela Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp) e a liberação de US$ 146 mil do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para um estudo da obra.
“A idéia é transformar os armazéns em espaços culturais com restaurantes, museu e casas de shows, fazendo um mix de atividades”, diz o prefeito da cidade, João Paulo Tavares Papa (PMDB). O Plano Diretor de Santos já previa a proibição de atividades portuárias nesses galpões e a abertura do acesso do cais ao público – hoje proibido. Mas faltava o sinal verde da Codesp, que só apoiou a idéia depois de 7 anos de negociação.
Apesar da idéia de transformar esse pedaço abandonado do porto num pólo de lazer e cultura, a vocação da área só será definida depois de concluído o estudo financiado pela verba do BID e de uma parceria entre a prefeitura e a Codesp. ”Pode haver uma marina, uma discoteca”, diz o diretor de infra-estrutura da Codesp, Arnaldo Barreto. A pesquisa deve ser iniciada em agosto.
AVENIDA SUBTERRÂNEA
O certo é que a confluência das Ruas Tuiuti e Antônio Prado, conhecida como Avenida do Cais, por estar em frente ao canal, terá um futuro bem diferente da paisagem confusa e poluída de hoje. Com a reurbanização, os caminhões só poderão circular por uma avenida subterrânea, sobre a qual será construído um bulevar, extensão do centro histórico.
Outra idéia é utilizar o bondinho que passa em frente ao cais – hoje inacessível ao público – para levar turistas que chegam pelo mar ao centro histórico. Para isso, a prefeitura estuda a transferência para o Valongo de um terminal de passageiros atualmente instalado no Armazém 25, distante do centro e da praia.
“Acredito que o terminal de passageiros que temos hoje dá conta da demanda. Mas se a idéia for passar para o Valongo, construindo ali um terminal mais sofisticado, não tenho nada contra”, afirma Barreto, da Codesp.
Até agosto a prefeitura deve enviar à Câmara um projeto de lei para regulamentar o convênio com a Codesp com a proposta de executar as obras com recursos de uma operação urbana. Empresas interessadas em explorar o empreendimento pagariam a conta, hoje estimada em R$ 50 milhões.
Nas contas do assessor da Secretaria de Planejamento do Município, Ney Caldatto Barbosa, o porto reformado deve atrair 40 mil visitantes por semana. ”Só em Santos há tantos prédios históricos de diferentes épocas e com tamanha importância para o desenvolvimento do País”, afirma.
HISTÓRIA
Não é preciso caminhar muito além do Valongo para chegar a igrejas do século 17 ou à Bolsa do Café, num cenário que remete aos livros de História. ”Esses prédios representam a renovação econômica e cultural de Santos no Ciclo do Café”, explica o corretor de café e diretor de Desenvolvimento da Associação dos Museus do Café do Brasil, Eduardo Carvalhaes.
Para Carvalhaes, a recuperação dos armazéns vai ser um divisor de águas para a cidade. ”Os principais portos europeus, americanos e na Argentina têm isso”, diz.