Não respeitar as urnas é desconhecer a democracia, diz Sabatella

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A atriz paranaense Letícia Sabatella enviou uma carta aberta à Dilma Rousseff onde se manifesta, uma vez mais, em defesa da democracia e contra o golpe em curso. No documento, ela se diz tranquila em defender o mandato da presidenta, ao qual sempre fez oposição de esquerda, por acreditar que seria possível avançar mais nas conquistas sociais. Reconhece, porém, que o processo de impeachment evidenciou o quão difícil é trabalhar pelos mais pobres.

 

Letícia Sabatella envia uma mensagem de apoio à Dilma Letícia afirma que os setores mais reacionários da sociedade, responsáveis pelo golpe, pretendem depor a presidenta não pelos seus erros, mas sim por seus acertos. “Como cidadã, carrego as decepções de quem esperava o empoderamento da agricultura familiar e a libertação do coronelismo. Mas acompanhando de perto todo esse processo, entendo a sua dificuldade política ao perceber como é composto o nosso Congresso Nacional e o quanto há de boicote, por parte da maioria dos nossos parlamentares, a uma verdadeira transformação social.”

 

Assim como outras pessoas que manifestaram apoio à presidenta, Letícia destaca a coragem e a firmeza de Dilma ao responder o questionário exaustivo dos senadores na sessão desta segunda-feira (29) no Senado Federal durante 13 horas. “Sua coragem e firmeza teve força para revelar a verdade sobre este crime político e os impactos negativos que já estão sendo perpetrados por forças corruptas, demagogas, hipócritas e oportunistas que desejam implementar no Brasil um programa de governo reacionário, antiecológico e extremamente injusto com a classe trabalhadora.”

 

Leia a carta de Letícia Sabatella na íntegra:

 

Querida Presidenta,

 

Soa bom chamar assim à governança do nosso país.

 

Que venham muitas presidentas!

 

Exercendo dignamente o cargo mais importante do Brasil, você terá aberto as portas para que as belas saiam cada vez mais do recato do seu lar, ocupando a vida pública, política e acreditando que o poder também pode lhes caber, utilizando-o com integridade, honestidade e ética. Que não precisa e não deve ser entregue somente às mãos de um único gênero ou de um grupo de famílias, de uma classe, mas que o povo pode e deve assumir a cidadania e a política por responsabilidade própria.

 

Sua coragem e firmeza no dia de ontem teve força para revelar a verdade sobre este crime político e os impactos negativos que já estão sendo perpetrados por forças corruptas, demagogas, hipócritas e oportunistas que desejam implementar no Brasil um programa de governo reacionário, antiecológico e extremamente injusto com a classe trabalhadora.

 

Venho me manifestar por nossa democracia, que ainda é muito jovem, imatura, neocoronelista e ainda sofre com um modelo de desenvolvimento bastante predatório. E nos deve muito em justiça social, às pessoas pobres, negras, aos pequenos agricultores, aos indígenas, à justiça socioambiental e à igualdade.

 

Tenho sido franca ativista pelos Direitos Humanos antes e durante o seu mandato.

Enquanto era a Primavera de uma abertura de olhar às questões sociais, fundamos o movimento Humanos Direitos e participamos de grandes conquistas deste governo no combate ao trabalho escravo. Muito se fez para combater a miséria e isso espantou o mundo. Nossa Cultura Popular teve espaços mais amplos para sua expressão e pudemos ver rostos de meninos do morro, das periferias, colorindo telas de cinema, levando nossa identidade para além-mar, fortalecendo a autoestima do povo brasileiro.

 

Já tive a oportunidade, presidenta, de olhar em seus olhos e, na sua presença, lhe dizer que faço uma oposição de esquerda ao seu governo e de expressar naquele momento o meu contentamento de poder dizer que ainda vivo em um Estado que se pretende – de forma utópica, em realidade e em exercício – ser democrático e que procura preservar as liberdades e o inconsciente coletivo saudável da nossa população.

 

Embora o seu governo tenha cometido erros, especialmente no que diz respeito ao meio ambiente, é inegável que combateu a desigualdade social, trouxe dignidade a milhões de brasileiros e brasileiras e promoveu a ascensão social de uma grande parcela da população. Ao longo desses últimos anos, aprendemos que com vontade política quase tudo é possível.

 

Contudo, hoje nos cobre uma sombra que assola os corações de irmãos, de irmãs, de pessoas que não mais se reconhecem e vivem em um ambiente de ódio fomentado por um plano maquiavélico de tomada de poder por grupos econômicos que não aceitaram que um mínimo de direitos seja repartido com os mais vulneráveis e desprivilegiados socialmente.

 

Não respeitar a decisão das urnas e apoiar esse assalto aos 54 milhões de votos que garantiram seu mandato conquistado em eleições limpas – é desconhecer o sentido de democracia e abrir o precedente para que o jovem sistema político brasileiro não se recupere tão cedo.

 

É muito assustador saber que o motivo que usam para tirá-la do poder não está baseado em seus erros, mas em seus acertos. Como cidadã, carrego as decepções de quem esperava o empoderamento da agricultura familiar e a libertação do coronelismo. Mas acompanhando de perto todo esse processo, entendo a sua dificuldade política ao perceber como é composto o nosso Congresso Nacional e o quanto há de boicote, por parte da maioria dos nossos parlamentares, a uma verdadeira transformação social.

 

Uma vez conquistados os direitos sociais e culturais do nosso povo – com muita luta e garra – temos que dar um passo adiante e não para trás. Por isso estou ao seu lado em defesa da democracia e contra esse retrocesso, que deve ser chamado exatamente pelo o que ele é, e sem temor: um golpe parlamentar!

 

Um abraço afetuoso,

Leticia Sabatella

 

#PelaDemocracia”

 

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