A partir de 2011, segundo a lei nº 11.769, a música vai voltar às salas de aula no Brasil. Estudantes do primeiro ao nono ano deverão entrar em contato com a teoria e a prática de transformar sons em arte. Com isso, é recuperada uma disciplina que já foi muito importante no currículo brasileiro até 1956.
Afinal, é público e notório que a canção popular é a mais reconhecida das artes do Brasil, dentro e fora do País. As melodias e a batida da Bossa Nova e o forte impacto da Tropicália são influentes na produção cultural em todo planeta. Mas parece que o sistema educacional brasileiro não mais considerava esse potencial educacional do trabalho com ritmos e melodias.
Para o compositor Felipe Radicetti, coordenador nacional da campanha “Quero Educação Musical na Escola”, “a música cumpre um papel mediador das relações sociais e promove o desenvolvimento afetivo das crianças, além disso pode ser usada como um elemento agregador nas outras disciplinas”. E completa: “A educação musical nas escolas tem uma função muito ampla, mas não é a de formar músicos. Ela desenvolve a escuta e portanto atua diretamente sobre a qualidade de fruição da música”.
A opinião também é dividida por Cleide Salgado, que desenvolve o projeto Música nas Escolas, em Barra Mansa, no Rio de Janeiro. A iniciativa foi criada em 2003 e mais de cinco mil crianças já foram ou estão sendo formadas. Alguns hoje até integram a Orquestra Sinfônica da Cidade, a Banda Sinfônica, a Banda da Cidade e a Drum Lata. “Independente de formar músicos ou não, o aprendizado de música nas salas de aula ensina concentração, disciplina , o desenvolvimento do trabalho em grupo e leva a cultura para toda a família”, diz Cleide.
Segundo ela, desde que 72 escolas da rede pública de Barra Mansa adotaram a música na grade curricular, a cidade reforçou seus laços com a cultura. “As apresentações da Orquestra Sinfônica de Barra Mansa se tornaram um grande evento popular. É comum também encontrar meninos com seus instrumentos nos ônibus da cidade”.
Para Cleide, o mais importante é que a música faça parte do currículo sem se descuidar das outras práticas artísticas. “O envolvimento com a arte é fundamental na formação de qualquer pessoa, mas eu acho que a escola tem que dar opção para o estudante. Tem que estimular o seu desenvolvimento na área em que ele mais tem aptidão”, defende.
Foi o movimento “Quero Educação Musical na Escola” , do qual Felipe Radicetti faz parte, que retomou o debate da reinserção da música no currículo escolar. Agora com o projeto sancionado, o compositor acredita que “a campanha teve o objetivo de democratizar o acesso a essa educação tão importante a todos os brasileiros”.
Segundo ele, o próximo passo é “implementar a educação musical nas escolas plenamente, tal como nos países desenvolvidos. As dificuldades da educação no Brasil são generalizadas e os nossos números são um escândalo. Estamos tão acostumados com eles, que chegam até a nos parecer aceitáveis”.
As escolas de música, músicos e instituições ligadas à educação começam a pensar como pode ser esse currículo. Uma das iniciativas para debater o assunto é da revista Carta na Escola. O “Seminário Música nas Escolas” irá reunir músicos e educadores no dia 17 de agosto para discutir algumas propostas sobre o ensino de música. Pode ser também um bom momento para se debater o papel da cultura na educação dos brasileiros.