Música virtual, lucro real

 

 

 

 

Desde o começo deste terceiro milênio, as gravadoras multinacionais dizem que o futuro da música passa pela internet. Aparentemente, em 2007 o público brasileiro afinal passou a acreditar nisso. O mesmo ano que viu a banda inglesa Radiohead chacoalhar as relações entre artista, ouvinte e major e registrou uma multiplicação inédita de formatos na web também testemunhou um avanço inédito no mercado de música digital no Brasil. Num salto surpreendente, a receita com vendas de canções virtuais (via computador ou telefonia celular) aumentou 185% em 2007. E o mercado digital passou a representar 8% do total das vendas de música no Brasil, contra meros 2% cravados em 2006. Os números foram divulgados ontem pela ABPD (Associação Brasileira de Produtores de Disco), como parte do Relatório de Música Digital produzido pela IFPI (Federação Internacional da Indústria Fonográfica).

 

O percentual ainda é menor do que a média mundial; em termos globais, 15% do mercado são ocupados pelas vendas digitais. Mas já indica que o Brasil parece ter finalmente acordado para o fato de que se pode comprar música fora das tradicionais lojas de CD.

 

– O aumento foi significativo e acompanhou a tendência mundial de expansão da música digital – aponta Paulo Rosa, presidente da ABPD. – Mais importante foi o crescimento das vendas pela internet. Se em 2006 os downloads feitos via celular representavam 96% do mercado, agora se restringem a 76%. Mais gente está usando o computador para comprar música.

 

Alexandre Schiavo, presidente da Sony-BMG, multinacional líder do mercado no Brasil, também festeja os indicadores:

 

– Foi um ano promissor e importante. O movimento aumentou de tal forma que tivemos de criar uma divisão interna só para o mercado digital.

 

O chefão da gravadora (que teve 6% de suas vendas provenientes dos downloads) exemplifica a emergência do segmento:

 

– Fizemos uma promoção com uma marca de telefones para vender celulares com músicas do Jota Quest em MP3 na memória. Em menos de três meses, com um mínimo de marketing, foram mais de 200 mil aparelhos vendidos.

 

Por sua vez, a Universal Music avisa que só Ivete Sangalo (dona do disco mais vendido de 2007, Multishow ao vivo no Maracanã) vendeu mais de 3 milhões de canções digitais no ano passado, boa parte em promoções similares à do Jota Quest.

 

Avril Lavigne, a mais baixada

 

O relatório da IFPI mostra que o mercado digital vem se expandindo de forma galopante. Se em 2003 as vendas do setor eram desprezíveis no cômputo geral, em 2006 já representavam 11% do mercado e em 2007 ficaram em 15%, movimentando US$ 2,9 bilhões (R$ 5,18 bilhões). A roqueirinha adolescente Avril Lavigne foi a campeã mundial de downloads pagos: sua canção Girlfriend foi baixada 7,3 milhões de vezes. No Brasil, a ABPD só divulgará os valores de mercado e os artistas mais vendidos em março, junto com o relatório geral sobre 2007.

 

Paulo Rosa enumera algumas razões para o bom desempenho do segmento digital:

 

– Quatro novas lojas virtuais chegaram ao mercado: Ideas Music Store, Tim Music Store, Vivo e Baixahits. Houve maior investimento em marketing e mais promoções ao longo do ano. E o aumento de vendas de computadores pessoais, depois das medidas de incentivo tomadas pelo governo em 2005, também se fez sentir.

 

Diretor de tecnologia do portal iMusica – pioneiro na venda de música pela internet no Brasil e parceiro das maiores gravadoras do país – Roberto de Brito Nunes confirma a bonança digital.

 

– A oferta se multiplicou. As operadoras de telefonia todas têm suas lojas virtuais, o que ampliou muito o mercado – diz.

 

A maior parte do faturamento do iMusica vem do download de ringtones e truetones para celulares. Mas, Nunes acredita, a internet já merece atenção.

 

– As vendas pela web são relativamente pequenas, mas vêm crescendo de modo constante. Só neste mês, comercializamos mais músicas via internet do que durante todo o ano de 2005.

 

O prognóstico para 2008 é risonho, na visão da ABPD.

 

– Há uma tendência mundial de se vender canções em arquivos sem DRM ( sem proteção anticópia), que deve chegar também às lojas virtuais brasileiras. Isso ajuda a popularizar mais a venda digital – diz Rosa.

 

Nem tudo são flores. Os maiores males do mercado fonográfico nacional, a pirataria e os preços altos, também contaminam o meio digital. Para cada música baixada legalmente, 20 são copiadas de forma ilegal. E sobre os preços nas lojas virtuais (R$ 1,99, em média), ainda altos para o poder aquisitivo do brasileiro, incide uma gorda carga tributária.

 

– Sobre as músicas em MP3, os impostos passam de 20%. Para os ringtones, podem passar de 40% – reclama Rosa. – Quanto à pirataria, nossas pesquisas indicam que os novos internautas, que estão chegando agora, são mais receptivos à idéia do download legalizado.

Compartilhar: