Gêneros, estilos e épocas se misturam nos 83 concertos de Campos do Jordão. O diálogo é inerente à música. É com esse credo que começa no sábado a 41.ª edição do Festival de Inverno de Campos do Jordão. E ele oferece o mote para 83 concertos, que serão realizados até o dia 1.º de agosto – quase o dobro de anos anteriores. O aumento do número de apresentações é apenas uma das novidades do evento para este ano: a Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp) passa a atuar como orquestra residente; concertos serão realizados também em São Paulo; há uma ênfase na música contemporânea; e o programa tentará aproximar mais público, alunos e professores.
“Tentamos não apenas valorizar os pontos fortes de edições anteriores, mas fazê-lo agora de uma maneira mais consciente e institucional”, explica Paulo Zuben, diretor do evento, que agora é gerido definitivamente pela Santa Marcelina Cultura, organização cultural que dita os caminhos do ensino musical no Estado. “Fizemos alterações estruturais. Não quisemos apenas aumentar o número de concertos , mas oferecê-los a preços populares ou mesmo gratuitamente. Buscamos desenvolver uma nova proposta pedagógica em que o aluno é o centro das preocupações da organização do Festival, dando a ele mais aulas individuais com inúmeros professores brasileiros e estrangeiros, mais atividades de música de câmara, mais oportunidades de se apresentar durante a programação do festival e, também, organizando melhor a distribuição de suas atividades, com mais tempo para ensaios, estudos e as atividades dos bolsistas na Orquestra do Festival, que neste ano terá a presença apenas de alunos.”
Eleazar. Para tanto, o evento buscou firmar parcerias com outras instituições musicais, explica Zuben. “Trouxemos ao festival parceiros como o Conservatório de Paris e a Escola Superior de Música de Colônia, e insistimos na vinda da Osesp como orquestra residente, retomando aqui uma história iniciada pelo maestro Eleazar de Carvalho em 1973 e interrompida nos últimos anos por desentendimentos pessoais.” Para Zuben, um dos objetivos é buscar o equilíbrio entre duas vocações do festival de Campos, a formação e a difusão cultural.
Entre os artistas convidados, estão solistas de peso – o violinista Gilles Apap e Luis Otávio Santos, os pianistas Maria João Pires, Nelson Freire e Paulo Álvares; os violoncelistas Antonio Meneses. Diana Ligeti e Marc Coppey, o oboísta Albrecht Meyer; conjuntos estrangeiros, como a Akademie für Alte Musik, de Berlim, o Quarteto Arditti, os Musiciens du Saint-Julien, o trio La Gaia Scienza; e orquestras brasileiras, como a Camerata Aberta, a Filarmônica de Minas Gerais, a Sinfônica de Sergipe e a Sinfônica Juvenil da Bahia.
Os programas misturam gêneros, estilos e épocas. “Toda música pode ser percebida como um diálogo entre culturas, lugares e épocas distintas, entre tradições orais e escritas, e, principalmente, de compositores, intérpretes e ouvintes”, diz Zuben. “O tema dos diálogos é um bom ponto de partida para retomar no festival a música renascentista e barroca, bem como trazer a música contemporânea para mais perto do público. E isso tudo sem perder espaço para as vertentes clássico-românticas mais convencionais nas programações anteriores, e que neste ano estão representadas principalmente por Schumann, Chopin e Mahler. Assim, temos neste ano desde o concerto da Akamus – uma leitura contemporânea de obras barrocas -, e o concerto de Gilles Apap – com seu modo de interpretar e realizar suas transcriações de canções folclóricas ao mesmo tempo em que também faz dois concertos de Mozart com cadenzas muito pessoais -, até concertos com obras “clássicas” e mais “contemporâneas” do século 20, como o proposto pelo maestro Yan Pascal Tortelier para a Orquestra do Festival, com o Pássaro de Fogo de Stravinsky, Timbres, Espace, Mouvement de Dutilleux e As Quatro Estações Portenhas de Piazzolla.” A programação completa está no site www.festivalcamposdojordao.org.br
QUATRO ATRAÇÕES PARA NÃO PERDER
Akademie für Alte Musik Berlin
Mais conhecido como Akamus, o grupo mostrará em Campos sua especialidade: o repertório barroco feito a partir do que há de mais recente em termos de pesquisas históricas de interpretação
Gilles Apap
O violinista toca em duo com acordeonista e como solista em concertos da Sinfônica do Estado
Yan Pascal Tortelier
O regente divide com Claudio Cruz o comando dos concertos da Osesp no auditório e ao ar livre
Quarteto Arditti
Mais importante formação do gênero dedicada à música contemporânea faz dois concertos no festival
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