Chamada de “Ante ecos e ocos”, a exposição apresenta a cultura afro-brasileira por meio de um recorte mais local, abrangendo as heranças africanas no Paraná, a partir de materiais que integram o acervo do museu. Mostra abre na quinta, às 19 horas.
Que histórias sobre as populações afro-brasileiras é possível contar a partir do acervo centenário do Museu Paranaense? Desde o início de 2022, um grupo de cinco pesquisadores – entre professores, curadores, acadêmicos e artistas – esteve mergulhado nessa questão para compor um extenso projeto de curadoria compartilhada. O resultado foi uma nova mostra de longa duração que já tem data para abrir. A inauguração será na próxima quinta-feira (17).
Chamada de “Ante ecos e ocos”, a exposição apresenta a cultura afro-brasileira por meio de um recorte mais local, abrangendo as heranças africanas no Paraná, a partir de materiais que integram o acervo do museu.
A iniciativa é mais uma das estratégias de abertura do Museu Paranaense para as comunidades representadas, ou pouco representadas em seu acervo, buscando promover a participação, a presença e, com isso, a ampliação do diálogo para a construção de uma memória coletiva acerca de histórias salvaguardadas pela instituição.
Seis núcleos principais desenham a narrativa dessa mostra que aborda o quilombo, o carnaval, a religiosidade, a congada, o período do pós-abolição e a capoeira.
São eixos formados por vídeos, fotografias, cartas e outros materiais da história afro-paranaense que estão sob a guarda do museu, mas que tiveram seus hiatos, ausências e carências preenchidos por meio de uma busca ativa da equipe de pesquisa por conteúdos complementares aos já existentes.
Para isso, foram feitas novas aquisições de esculturas, pinturas, bandeiras e até instrumentos musicais, todos relacionados à cultura negra e suas expressões.
BIOGRAFIA DO ACERVO – Na tentativa de biografar ao máximo as vidas que se relacionam de alguma forma ao acervo e assim combater questões relacionadas à invisibilidade das vozes negras, foram produzidos materiais exclusivamente para esta exposição.
É o caso do vídeo performance de dança “Entre caboclos e baianas”, de Kunta Leonardo da Cruz, um registro da roda de capoeira do grupo Grupo Internacional Capoeira Aliance e de gravações de depoimentos em áudio de Nelson Fernandes (Pelé), Marize Aparecida da Silva Zeferino (Mãe Marize de Omolu), Maria José Teixeira da Silva, Maria Eloina Carneiro dos Passos, Maria do Rosário Carneiro dos Passos e Ramiro Gonçalves Bispo (da Comunidade Quilombola Família Xavier), Célio Machado da Silva (bisneto do liberto Serafim Machado), Ney Ferreira (Congada da Lapa), que o público poderá conhecer no espaço expositivo.
“Essa política de novas aquisições enfatiza a importância do papel ativo do museu como um espaço de relações, que deve manter sempre um olhar crítico sobre o passado, o presente e o futuro”, afirma a diretora do MUPA, Gabriela Bettega.
CURADORIA COMPARTILHADA – Em “Ante ecos e ocos”, o projeto de curadoria compartilhada foi formado por um grupo interdisciplinar de pesquisadores e artistas para construir o fio condutor a partir do acervo existente do MUPA, identificando as entradas possíveis de diálogo entre interesses acadêmico, museal, artístico e representativo dos afro-paranaenses.
Bruna Reis, Diogo Duda, Emanuel Monteiro, Fernanda Santiago e Geslline Giovana Braga fazem parte da equipe curatorial que trabalhou ativamente na pesquisa e composição da mostra, juntamente com o curador-chefe Richard Romanini, a antropóloga Josiéli Spenassatto e o historiador Felipe Vilas Bôas, integrantes da equipe interna do Museu.
Todos envolvidos na tarefa de encarar o eco do apagamento histórico das populações afro-paranaenses e contribuir para ecoar suas vozes, vidas e expressões.
“Foi um momento de valorização e privilégio poder fazer parte desse projeto tão especial, que tem o intuito de dar visibilidade para as pessoas negras do Estado e suas manifestações culturais”, afirma Bruna Reis, historiadora e mestre em Antropologia Social pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Para ela, essa foi uma oportunidade de conhecer e de se conectar com o acervo do MUPA, criando novos sentidos e desenvolvendo uma proposta de curadoria com os colegas de projeto. “Foi muito valioso para mim, uma experiência inesquecível como profissional e como pessoa”, conta Bruna, que desenvolve pesquisas relacionadas ao estudo de trajetórias, intelectualidade e cultura negra com ênfase em religiões de matriz africana e Congado em Minas Gerais.
SAMBA DE ABERTURA – Celebrando oficialmente a abertura de “Ante ecos e ocos”, no dia 17 de novembro, a partir das 19h, o MUPA recebe Leo Fé e Batucada Reza, com a participação especial de Nelson Fernandes (Pelé). O grupo apresentará a roda “O samba que nasceu na vila”. No repertório, músicas de compositores locais da velha e nova geração.
A apresentação faz referência à Vila Capanema, berço do samba de Curitiba e local onde nasceu a primeira escola de samba da cidade, a extinta Colorado, comandada por Maé da Cuíca. A entrada é gratuita e livre para todos os públicos.
Serviço:
“Ante ecos e ocos”, nova mostra de longa duração do Museu Paranaense
Abertura: quinta-feira, 17 de novembro, às 19h
Apresentação de Leo Fé e Batucada Reza, com a participação especial de Nelson Fernandes (Pelé), na roda “O samba que nasceu na vila”
Entrada gratuita
MUPA
Rua Kellers, 289 – São Francisco – Curitiba
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