
Entre a velocidade e o samba, um debate sobre cultura, investimento e identidade – Artigo de Cláudio Ribeiro
O ronco dos motores tomou conta da Avenida Cândido de Abreu. Pela primeira vez, o Red Bull Showrun aterrissou em terras curitibanas, trazendo com ele a potência de um carro de Fórmula 1 da Red Bull Racing e uma coleção de máquinas icônicas do automobilismo. Um verdadeiro espetáculo para os fãs da velocidade. O asfalto tremeu, os olhos brilharam e os celulares se ergueram para registrar cada curva, cada aceleração, cada faísca do escapamento.
Mas entre a fumaça dos pneus queimando e o eco dos motores, surge uma questão que não se pode ignorar: e o Carnaval? Sim, porque se a prefeitura de Curitiba está disposta a abrir espaço para um evento desse porte, que certamente custou milhões em infraestrutura, logística e divulgação, por que não exigir que a promotora também invista na maior festa popular do país?
Pensemos um pouco: se cada grande empresa que trouxer um evento de impacto para a cidade também direcionar parte de seus investimentos para o Carnaval, imagine como nossas escolas de samba poderiam crescer, como nossa cultura poderia se fortalecer! Sim, Curitiba tem Carnaval, e tem gente que luta por ele, mas sabemos que falta incentivo, falta apoio, falta o olhar político atento a uma manifestação que é a própria identidade do povo brasileiro.
E não é apenas sobre o desfile. É sobre criar um espaço dedicado à cultura do samba, um local onde essa paixão possa ser cultivada e valorizada o ano inteiro. Imagine um sambódromo ali perto do Estádio Dorival de Britto, na antiga Vila Tassi, onde nasceu a primeira escola de samba do Paraná, a Colorado. Um espaço que serviria não apenas para os desfiles, mas para eventos culturais, oficinas de percussão, ensaios, apresentações, promovendo a arte e a tradição que resistem, mesmo sem apoio.
Não se trata de opor um evento ao outro. Muito pelo contrário. Se há espaço para o barulho dos motores, também deveria haver para o som da bateria. Se há dinheiro para trazer carros que fazem curvas impossíveis, por que não investir nos artistas que fazem malabarismos com a própria criatividade?
Alô, seu prefeito, está na hora de repensar as prioridades. O automobilismo encanta, mas o Carnaval é a alma do Brasil. E alma nenhuma sobrevive sem investimento.
Cláudio Ribeiro
Jornalista – Compositor
Faça um comentário