Waldemar Seyssel tinha 99 anos. Fez história na TV com seu sobrinho Pimentinha e fama com o bordão “como vai? como vai? como vai? muito bem, muito bem, bem, bem”.
São Paulo – Waldemar Seyssel, o palhaço Arrelia, morreu por volta das 5 horas desta segunda-feira, aos 99 anos, na clínica Santa Bárbara, em Botafogo, zona sul do Rio, a sete meses da comemoração de seu centenário. Ele foi internado na última sexta-feira com febre alta e estava inconsciente. Os médicos diagnosticaram pneumonia e falência múltipla dos órgãos. Arrelia será enterrado nesta terça-feira, às 14 horas, em São Paulo, cidade em que viveu a maior parte de sua vida e que o fez famoso em todo o País.
A advogada Ana Cristina de Arruda Botelho, uma das dez netas de Arrelia (ele tinha quatro filhos e oito bisnetos), contou que o avô pediu para ser sepultado na capital paulista, no jazigo da família, no cemitério da Paz, no Morumbi. Arrelia morava havia oito anos no bairro carioca do Recreio dos Bandeirantes, na zona oeste, com a mulher, Arlete Seyssel, de 89 anos, e uma das filhas, Haydeé Botelho, de 66.
Waldemar Seyssel nasceu em Jaguariaiva, Estado do Paraná no dia 31 de dezembro de 1905. Filho de família circense, tornou-se personagem marcante na cultura brasileira. A família teve origem na França, no Condado de Seyssel, região de Grenoble, quando o avô de Arrelia, Júlio Seyssel, apaixonou-se pela filha do dono de um circo, uma malabarita eqüestre. Não podendo casar-se sem o consentimento da família por ser nobre, ele abandonou tudo, título e riqueza e foi embora com o circo.
Júlio era professor de Educação Física e músico e trabalhou no circo até tornar-se um dos grandes palhaços europeus.
Após percorrer vários países, a família veio para o Brasil com o circo Charles Brothers, que foi montado em São Paulo. O pai de Waldemar, Ferdinando Seyssel criou o tipo Pinga-Pulha e também casou-se com uma filha de dono de circo. Mais tarde, com a ida de seu avô para o Chile, seu pai e seu tio Vicente montaram seu próprio circo, o Irmãos Seyssel que ficou para Waldemar e seus irmãos.
Antes de ser palhaço, Waldemar trabalhou no circo fazendo malabarismo na cama elástica, no trapézio e nas barras juntamente com seus irmãos. Ele contava que, quando criança, “era levado da breca”, gostava de aborrecer “arreliar” todo mundo. Daí o apelido de Arrelia.
O “nascimento” de Arrelia
Waldemar começou a trabalhar como palhaço em 1922 no Cambucí, em São Paulo. Entretanto, foi só em 1927, em Uberaba, que nasceu o Arrelia, numa cena improvisada e bastante cômica, quando ele foi obrigado a substituir um palhaço do circo.
Seus irmãos o pintaram, vestiram e o empurraram para o picadeiro. Waldemar caiu, fez trejeitos e caretas, levantou mancando e foi aplaudido freneticamente pelo público.
Na TV
Waldemar estudou Direito, mas nunca exerceu a profissão. No circo, Arrelia trabalhou até 1953, quando passou a estrelar, até 1974, o programa Cirquinho do Arrelia, a princípio na TV Paulista e, depois na TV Record, onde formou uma dupla com seu sobrinho Pimentinha. O comprimento dos dois, “como vai? como vai? como vai? muito bem, muito bem, bem, bem”, se tornou um bordão entre as crianças, na época.
Faz seis anos desde a última vez que o velho palhaço se fantasiou, conta a neta Ana Cristina. Depois de quebrar o fêmur, num tombo num shopping, a saúde passou a ser uma preocupação constante. “Ele já não tinha firmeza nas mãos suficiente para se maquiar, então preferiu parar, porque não aceitava que outra pessoa o pintasse”, lembrou ela. Os parentes pensavam em fazer uma comemoração dos 100 anos de seu nascimento.
Fonte: Agencia Estadão.