Morre aos 102 anos a viúva de Guimarães Rosa

aracyMorreu segunda-feira, dia 7 de março,  em São Paulo a viúva do escritor Guimarães Rosa, Aracy Moebius de Carvalho, de 102 anos. Ela estava internada no Hospital Albert Eisntein e morreu de causas naturais. Ela sofria de Mal de Alzheimer.

Aracy e o escritor se conheceram às vésperas da Segunda Guerra Mundial, na Alemanha. Eles trabalhavam no consulado brasileiro em Hamburgo. Aracy era a segunda esposa do escritor mineiro.

Mas não foi como companheira de um dos maiores nomes da literatura brasileira que ela se notabilizou. Sua importância se acentuou desde 1938, quando, funcionária do setor de vistos do consulado brasileiro, ajudou muitos judeus a imigrarem para o Brasil, o que foi proibido pela Carta Secreta, expedida pelo governo de Getúlio Vargas naquele ano.

O truque de Aracy – apelidada de “o Anjo de Hamburgo”, era bem simples: colocar as solicitações de vistos no meio de outros papéis para que o cônsul da época aprovasse sem perceber. Também não colocava nelas a letra “J”, que identificava os cidadãos então perseguidos por Adolf Hitler. Por seus serviços em prol dos judeus, desde 1982 ela tem seu nome inscrito no Jardim dos Justos entre as Nações, no Museu do Holocausto, em Israel. Ela também é lembrada no Museu do Holocausto de Washington. Ela acabou se colocando contra a ditadura brasileira, nos anos 60.

– Em 1968, ela escondeu o Geraldo Vandré, sobrinho de uma amiga sua, até que ele conseguisse fugir do país – lembra sua neta Vera Tess, de 47 anos.

Nascida em Rio Negro (PR), Aracy ainda criança mudou-se para São Paulo. Em 1930, casou-se com o alemão Johan von Teff, de quem se separou cinco anos depois. Por falar fluentemente inglês, francês e alemão, acabou indo para a Alemanha com amãe e uma irmã, onde começou a trabalhar no consulado.

Ambos ficaram na Alemanha até 1942, quando o governo rompeu relações diplomáticos com Hitler e passou a apoiar os aliados. Depois de ficarem quatro meses sob custódia do governo alemão, foram trocados por diplomatas germânicos que estavam no Brasil. Casaram-se no México, em razão de no Brasil ainda não haver divórcio.

Após a morte de Guimarães Rosa, Aracy continuou a morar no Arpoardor, na casa em que ambos foram felizes até 1967, quando ele morreu.

Há 17 anos,por não poder mais morar sozinha – ela sofria do Mal de Alzheimer – foi trazida por seu filho do primeiro casamento, Eduardo Carvalho Tess, para morar em São Paulo. Aracy foi cremada nesta quinta, às 17h, no Horto da Paz, em Itapecerica da Serra.

Na obra “Grande Sertão: Veredas”, Guimarães Rosa fez uma dedicatória a mulher: “A Aracy, minha mulher, Ara, pertence este livro”.

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