Carlos Moreira de Castro – Mangueirense – Compositor. Cantor.
Filho de funcionário da Estrada de Ferro Central do Brasil, nasceu no morro da Mangueira, em uma das casas que a companhia alugava para seus funcionários. Seu pai, Carlos, abandonou a família. D. Inês, sua mãe, vendo-se em dificuldade para criar seus seis filhos menores, o entregou ao padrinho, o portuguêsTomás Martins, dono de vários barracos no morro da Mangueira. Logo, o menino passou a fazer cobranças, lidar com recibos e anotações dos aluguéis, substituindo o padrinho analfabeto.
Aos16 anos, atuava como pandeirista no conjunto de Mano Elói (Elói Antero Dias).
O pseudônimo “Cachaça” surgiu em uma das reuniões na casa do tenente Couto (do Corpo de Bombeiro), na qual estavam presentes três Carlos. Para diferenciá-lo, o anfitrião sugeriu “Cachaça”, bebida preferida do compositor, na época com 17 anos.
Em 1922, conheceu Cartola, com quem mais tarde comporia diversos clássicos.
Fundou, em 1925, juntamente com Cartola, Marcelino José Claudino, Francisco Ribeiro e Saturnino Gonçalves, o Bloco dos Arengueiros, que mais tarde deu origem à Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, da qual também foi um dos fundadores, participando de todas as reuniões preliminares sem, contudo, comparecer à reunião de fundação por estar de serviço.
No ano de 1926, entrou para Estrada de Ferro Central do Brasil, galgando vários cargos, permanecendo até o ano de 1965, quando se aposentou como oficial de administração. Com sua primeira mulher, Maria Aída da Silva, teve três filhos: Luco, José Carlos e Marinês.
Casou-se com Menininha (Clotilde da Silva, falecida em 1983), irmã de Dona Zica, com a qual viveu durante 45 anos.
Foi presidente de honra da Mangueira e da Academia Brasileira da Cachaça, da qual constam apenas 40 membros acadêmicos.
Em 1998, antes de falecer, fez seu último desfile pela Mangueira. Já debilitado em uma cadeira de rodas, presenciou a escola sagrar-se campeã com o enredo “Chico Buarque da Mangueira”, desfilando ao lado do homenageado, que o beijou repetidas vezes.
Co-autor do livro “Fala, Mangueira”, com Marília T. Barboza da Silva e Arthur L. Oliveira Filho em 1980, lançado pela Editora José Olympio. Autor de “Alvorada”, livro de poemas e letras, publicado pela Funarte em 1989, organizado por Marília Trindade Barboza.
Dados artísticos
Aos 20 anos, compôs a sua primeira música “Não me deixaste ir ao samba em Mangueira”, gravada mais tarde pelo próprio autor com o nome “Não me deixaste ir ao samba”. Algumas fontes afirmam que seu primeiro samba foi “Ingratidão”, composto em 1923 aos 21 anos.
A Mangueira não tinha samba definido para o desfile; eram cantados sambas de vários autores, geralmente só com a primeira parte, pois a segunda era improvisada pelos chamados “versadores”.
Em 1929, a Escola desfilou com o samba “Chega de demanda”, parceria de Carlos Cachaça e Cartola.
No ano de 1931, dois sambas de sua autoria fizeram parte da apresentação da escola: “Jardim da Mangueira” e “Na floresta”, ambos em parceria com Cartola. No ano seguinte, a escola classificou-se em primeiro lugar no desfile da Praça Onze, no dia sete de fevereiro. Neste desfile, a primeira música, “Pudesse meu ideal”, feita em parceria com Cartola , sagrou a escola campeã naquele ano. No ano seguinte, em 1933, a Mangueira desfilou com outro samba de sua autoria: “Homenagem”, que se tornou o primeiro samba-enredo a mencionar personagens da História do Brasil. Consta também que para o desfile daquele ano a escola providenciou alguns quadros (estandartes) com os rostos dos poetas citados no samba (Gonçalves Dias, Castro Alves e Olavo Bilac), dando origem, assim, ao que mais tarde se chamaria de “alas”. Além disso, a Mangueira foi uma das primeiras a unir samba ao enredo, originando o samba-enredo. Alguns pesquisadores afirmam que o samba-enredo deste ano foi “Uma segunda-feira no Bonfim da Ribeira”, mas o próprio Carlos Cachaça afirmou à Marília T. Barboza, no livro “Alvorada – Um tributo a Carlos Moreira de Castro” a presença do seu samba “Homenagem”.
Em 1936, Aracy de Almeida gravou “Não quero mais” (Carlos Cachaça, Cartola e Zé da Zilda). Na etiqueta do disco o nome de Cartola não aparece, constando somente os de José Gonçalves (Zé da Zilda) e Carlos Moreira da Silva (Carlos Cachaça). Anos depois, o samba viria a ser gravado por vários artistas da MPB com o nome “Não quero mais amar a ninguém”. Dois anos depois, em 1938, foi o primeiro compositor a ganhar o Concurso da Feira de Amostra, com o samba “Pátria querida” (c/ Cartola).
Em 1940, o maestro Leopoldo Stokowski veio ao Brasil, em missão especial, para gravar “a autêntica música brasileira”. Em contato prévio com o maestro Villa-Lobos, foram acertados os compositores e as músicas que seriam gravadas e destinadas ao Congresso Folclórico Pan-Americano. Villa-Lobos selecionou, entre outros, Pixinguinha, Donga, Luiz Americano, João da Baiana, David Nasser, Zé Espinguela, Jararaca e Ratinho, Cartola e Carlos Cachaça. Este, contudo, não pôde comparecer por estar de serviço na Central do Brasil. Mas sua composição “Quem me vê sorrindo”, ou “Quem me vê sorrir” (c/ Cartola), foi interpretada por Cartola que, pela primeira vez, gravou sua voz em disco, acompanhado pelas pastoras da Mangueira. Neste mesmo ano, a escola desfilou com “Lacrimário” de sua autoria, ou, segundo outras fontes, “Prantos, pretos e poetas”.
Em 1947, a Mangueira classificou-se em segundo lugar com o samba-enredo “Brasil, ciência e arte”, em parceria com Cartola. No ano seguinte, foi a primeira escola a colocar som no desfile. Neste ano de 1948, a escola classificou-se em quarto lugar com o samba “Vale do São Francisco” (c/ Cartola).
Nuno Veloso gravou no ano de 1960 pela RCA Victor o samba “Brasil, ciência e arte” (c/ Cartola). No ano de 1968, juntamente com Clementina de Jesus, Odete Amaral, Cartola e Nelson Cavaquinho, Carlos Cachaça gravou pela Odeon o LP “Fala, Mangueira”. Neste disco, foram incluídas de sua autoria: “Tempos idos” (c/ Cartola), “Alvorada” (c/ Cartola e Hermínio Bello de Carvalho), “Quem me vê sorrindo” (c/ Cartola), e “Lacrimário”. No ano seguinte, Elizeth Cardoso gravou “Não quero mais amar a ninguém” no LP “A bossa eterna de Elizete e Ciro volume 2”, de Elizete Cardoso e Cito Monteiro.
No ano de 1972, Clara Nunes interpretou “Alvorada” em LP pela Odeon e Claudette Soares, pela gravadora Philips, cantou “Vale do São Francisco”. No ano seguinte, Os Pequenos Cantores da Guanabara gravaram “Não quero mais amar a ninguém”, pelo selo Fontana.
Em 1974, Paulinho da Viola, no disco “Nervos de aço”, interpretou “Não quero mais amar a ninguém” (c/ Cartola e Zé da Zilda). Neste ano, o selo Marcus Pereira lançou a série “História das Escolas de Samba: Mangueira”. Neste disco, foram incluídas de sua autoria “Quem me vê sorrindo” e “Alvorada”. Ainda neste disco, o próprio autor interpretou duas composições: “Vingança” e Homenagem”. Ainda em 1974, seu parceiro Cartola interpretou “Vale do São Francisco”, e “Alvorada” no LP lançado pelo selo Marcus Pereira.
Em 1976, participou como convidado especial do LP de Clementina de Jesus. Neste disco, pela gravadora Odeon, foram incluídas de sua autoria “Não quero mais amar a ninguém”, “Itinerário” e “Lacrimário”. Neste mesmo ano, lançou pela gravadora Continental seu primeiro disco individual: “Carlos Cachaça”, no qual registrou de sua autoria: “Todo amor” e “Quem me vê sorrindo”, sambas em parceria com Cartola, e ainda “Clotilde”, valsa dedicada à esposa Menininha, “As flores e os espinhos”, “Se algum dia”, “Não me deixaste ir ao samba”, “Juramento falso”, “Cabrocha” e “Harmonia em Mangueira”, entre outras.
Em 1978, Odete Amaral regravou “Quem me vê sorrindo”, “Tempos idos” e “Alvorada no morro”, em disco lançado pela Odeon. Emílio Santiago, em 1980, interpretou “Alvorada”. No ano seguinte, Noite Ilustrada regravou a música.
Em 1982, Cartola, pela gravadora Eldorado, interpretou “Quem me vê sorrindo”, parceria de ambos. No ano de 1988, Leny Andrade, no disco em homenagem a Cartola produzido pela Coca-Cola, interpretou “Não quero mais amar a ninguém” e “Alvorada”. Neste mesmo ano, Cartola em disco lançado pela gravadora RCA, incluiu “Tempos idos” e “Ciência e arte”, parceria de ambos.
Em 1989 o produtor japonês Katsunori Tanaka, pelo selo Office Sambinha, lançou no Japão o disco “Mangueira chegou – Velha-Guarda da Mangueira”, no qual Carlos Cachaça, fazendo parte da Velha Guarda da Mangueira, interpretou “Ciência e arte” (c/ Cartola). No disco também foi incluída de sua autoria “Não quero mais amar a ninguém” (c/ Cartola e Zé da Zilda).
Em 1991, em outro disco de Cartola, desta vez pela RGE, foi incluída a música “Alvorada”. Três anos depois, ao lado de Tom Jobim, Chico Buarque, Herivelto Martins, Maria Bethânia, Joyce, Gal Costa, Johnny Alf, Paulinho da Viola e Caetano Veloso, participou do CD “No Tom da Mangueira”. Maria Bethânia, em 1995, no disco “Cantoria”, de Hermínio Bello de Carvalho, interpretou “Alvorada”. No ano seguinte, Cláudia Telles interpretou “Alvorada” e Fernando Rocha, no disco em homenagem a Cartola, incluiu “Alvorada” e “Não quero mais amar a ninguém”.
Em 1997, pela gravadora Dubas, o grupo Arranco interpretou “Quem me vê sorrindo” e “Ciência e arte”, ambas em parceria com Cartola. Neste mesmo ano, Cartola em CD da gravadora BMG interpretou “Tempos idos”.
Em 1998, no disco “Chico Buarque de Mangueira”, pela gravadora BMG, Alcione, Leci Brandão e Chico Buarque interpretaram “Alvorada”. No ano seguinte, o Arquivo-Geral da Cidade do Rio de Janeiro e a Secretaria Municipal de Cultura produziram o CD duplo “Mangueira – sambas de terreiro e outros sambas”, com músicas resgatadas de uma fita gravada ainda na década de 1960 na casa de Carlos Cachaça. Neste disco, o anfitrião aparece em várias faixas, cantando ao fundo ou fazendo coro. Ainda neste álbum duplo, Carlos Cachaça aparece ao lado de Hermínio Bello de Carvalho e Nelson Sargento interpretando “Lacrimário” e “Pátria querida”, e ainda “Não me deixaste ir ao samba”, e a música “Meu amor já foi embora” (Cartola e Zé Com Fome), conta com Cartola na voz e ao violão. No mesmo disco, foram incluídas outras composições de sua autoria: “Vale do São Francisco”, “Tempos idos”, interpretadas por Cartola e “Se algum dia”, esta última cantada por Carlos Cachaça, todas gravadas na década de 1960.
No carnaval do ano de 2002, o Bloco Carnavalesco MIS a MIS teve como tema “Carlos vai, Carlos vem e a poesia se dá bem”, homenagem a Carlos Drummond de Andrade e a Carlos Cachaça. Ainda em 2002, Nelson Sargento e Carol Sabóia participaram do Projeto “O samba agradece”, na Sala Funarte Sidney Miler, no Rio de Janeiro, no qual homenagearam Carlos Cachaça interpretando várias composições do mangueirense. Neste mesmo ano de 2002 a gravadora Nikita Music relançou o CD “Mangueira chegou” (originalmente produzido para o mercado japonês). No dia de seu aniversário houve queima de fogos na Mangueira e uma apresentação da Banda do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro e logo depois uma roda de samba com vários amigos: Monarco, Nélson Sargento, Délcio Carvalho e Luiz Carlos da Vila, entre outros. As comemorações continuaram durante toda a semana: Roda de samba no Café Cultural Sacrilégio, na Lapa, e show-homenagem no Teatro Carlos Gomes, organizado por sua filha Inês de Castro e com a participação de vários artistas, tais como Jurandir da Mangueira, Élton Medeiros, Monarco, Walter Alfaiate, Wilson Moreira, Carmem Costa e Nelson Sargento.
Lançado no ano de 2011 pelo Selo Discobertas, do pesquisador Marcelo Fróes, em convênio com o Selo ICCA (Instituto Cultural Cravo Albin), o box “100 Anos de Música popular Brasileira” é integrado por quatro CDs duplos, contendo oito LPs remasterizados. Inicialmente os discos foram lançados no ano de 1975, em coleção produzida pelo crítico musical e radialista Ricardo Cravo Albin a partir de seus programas radiofônicos “MPB 100 AO VIVO”, com gravações ao vivo realizadas no auditório da Rádio MEC entre os anos de 1974 e 1975. NO CD volume 7 Cartola interpretou as faixas “Quem me vê sorrindo” (c/ Cartola) e “Alvorada” (c/ Cartola e Hermínio Bello de Carvalho).
Faça um comentário