Maurício Uzum, pesquisador sobre hinos de clubes

Coxa HinoHelênicos entrevistam com exclusividade Maurício Uzum, pesquisador especializado em hinos de clubes de futebol do Brasil, que elogia a qualidade do Hino do Verdão

Recentemente o grupo “Helênicos” contatou o paulistano Maurício Uzum, pesquisador especializado em hinos de clubes brasileiros, visando contribuir com seu trabalho.

Dos contatos surgiu uma amizade e um carinho especial de Maurício pelo Coritiba que, apesar de corinthiano de nascença, prometeu acompanhar e torcer pelo Coxa nas partidas disputadas na capital paulista. Nesta semana, Maurício concedeu entrevista exclusiva aos COXAnautas, onde fala a respeito de seu trabalho. Acompanhe:

COXAnautas: De onde surgiu este seu interesse de estudar os hinos dos clubes?

Maurício: Além da música, sou também apaixonado por história e por esse jogo incrível chamado futebol. O curioso é que antes eu escutava os hinos sem dar-lhes muita atenção. Foi apenas no dia a dia, como professor de música, que eles foram ocupando espaço cada vez maior no repertório individual de meus alunos. Bastou que um deles tivesse seu pedido atendido para que, a cada dia, chegassem mais e mais pedidos dos mais variados hinos.

Para poupar tempo e trabalho, tentei conseguir as partituras e só então descobri que esta era uma tarefa inglória. Algumas jamais foram editadas e outras há muito já estão fora dos catálogos de suas editoras. Parece incrível, mas somos capazes de encontrar partituras de músicas compostas na Idade Média e não conseguimos a partitura de um hino da década de trinta, porque ninguém se preocupou em escrevê-la. Por conta desse descaso muitas destas melodias se perderam. A partir desta constatação é que passei a escrevê-las. Fui tomando gosto pela coisa e não parei mais.

Hoje, graças a esses hinos, compositores importantes como Lamartine Babo, Lupicínio Rodrigues e Capiba, figuram ao lado de Mozart, Beethoven, Bach, Tchaikovsky, Tom Jobim e Chico Buarque no repertório de meus alunos de 11 e 12 anos de idade.

 

COXAnautas: As crianças tiveram então um papel importante nessas pesquisas?

Maurício: Isso mesmo. O primeiro passo foi transformar esses pedidos individuais em um trabalho que pudesse mobilizar o grupo de alunos. Para isso, decidimos e trabalhamos coletivamente em todas as etapas. Eles se sentiram co-responsáveis pelo trabalho e isso foi fundamental. Juntamente com outras matérias procuramos tornar esse projeto o mais amplo possível.

A partir daquele momento, não estávamos mais falando só sobre futebol, mas analisávamos o futebol como traço de nossa cultura. Do futebol como tema gerador de literatura, cinema, artes plásticas, teatro, etc. É claro que não perdemos a oportunidade de abordar temas importantíssimos como a violência e o racismo no futebol. Acho que o balanço foi muito positivo, todos aprendemos muito.

 

COXAnautas: E nesta pesquisa vocês conseguiram resgatar quantos hinos?

Maurício: Na verdade, não temos a intenção de virar colecionadores de hinos. Quando resolvemos aprofundar nossos conhecimentos sobre essas composições, percebemos que seria muito mais viável se, inicialmente, concentrássemos nossos esforços nos 25 maiores clubes do Brasil.

A decisão de limitar o número de clubes foi a maneira que encontramos para conseguir contar a história musical dessas agremiações com o máximo de fidelidade. E não podemos deixar de ressaltar que a grande maioria de nossos clubes já teve dois, três hinos diferentes. Levantar todo esse material sem a ajuda dos clubes, que via de regra mostraram-se extremamente desorganizados, foi o nosso maior desafio.

 

COXAnautas: E relativo ao Coritiba, quantos hinos você conseguiu?

Maurício: Através de uma matéria do canal ESPN Brasil, o grupo “Helênicos” tomou conhecimento de nosso trabalho e nos contatou, oferecendo ajuda. Inicialmente eles me enviaram ums grande quantidade de hinos e músicas alusivas ao Coxa. Depois de algumas conversas, ficou estabelecido que, destas, três eram as mais significativas. Quem dera se todos os clubes possuíssem grupos de pesquisadores como esses “Helênicos”.

COXAnautas: Quais os hinos mais antigos que vocês conseguiram?

Maurício: Os mais antigos são o primeiro do Fluminense (1915) e do Vasco (1918). Outros também merecem registro, pois são praticamente desconhecidos até mesmo pelos mais fanáticos torcedores. Por exemplo: o segundo do Vasco (“Meu Pavilhão”), os oficiais do Fluminense e Botafogo, o primeiro do Coritiba, Corinthians, Atlético Mineiro e dos Palestras de São Paulo e Minas Gerais (atualmente chamados de Palmeiras e Cruzeiro). 

 

COXAnautas: Musicalmente, quais hinos considera mais bonitos?

Maurício: O popular e o oficial do Fluminense são maravilhosos. Já os do Flamengo (popular), Internacional, Coritiba (atual), Goiás, Grêmio, Náutico, América-RJ (popular), Paraná e o segundo do Vasco são também muito bons. 
 

COXAnautas: E especificamente a respeito dos hinos do Coritiba?

Maurício: O Coritiba possui uma belíssima história musical. O primeiro, de Bento Mossurunga e Barros Cassal, é um hino com “H“ maiúsculo. Possui uma composição solene, erudita, nos moldes dos hinos pátrios. Tem uma mudança de tonalidade da parte A para a B que só encontrei em um dos outros hinos que pesquisamos. É sem dúvida uma bela composição.

Já o hino do Sebastião Lima e Vinícius Coelho possui a fórmula de sucesso adotada pelos compositores de marchas carnavalescas. Tem um refrão curto e de fácil assimilação. Escutamos duas vezes e na terceira já saímos cantando. Note que essa “simplicidade” não é nenhum demérito, muito pelo contrário; Sebastião era um compositor experiente e mostrou que possuía grande domínio dessa técnica e formato de composição.

A letra do Vinícius dispensa maiores comentários. Tenho lido suas colunas e vou te contar… Falando do Coritiba seus textos são capazes de emocionar até mesmo os atleticanos.

Quanto ao hino de Cláudio Ribeiro e Homero Réboli, é uma verdadeira aula de elaboração musical. Suas frases melódicas passeiam pelos campos maior e menor, sugerindo mil e uma possibilidades de harmonia, tudo isso sob um texto que é uma belíssima declaração de amor ao clube. Deve ser por conta dessa “sofisticação” que ele não tenha caído rapidamente nas graças da torcida. Infelizmente a elaboração não faz parte da maioria das composições que são executadas por nossas rádios. Nossos ouvidos aos poucos foram “emburrecendo”….

 

COXAnautas: Durante a pesquisa, descobriram algumas curiosidades?

Maurício: Vamos citar algumas…

* Lamartine Babo escreveu dez hinos e é o campeão disparado nessa modalidade de composição. São de sua autoria os hinos populares do Botafogo, América, Fluminense, Flamengo e os oficiais do Vasco, Bangu, Bonsucesso, Madureira, Olaria e São Cristóvão;

* Manaus também tem o seu Lamartine. Trata-se de Daniel Sales, que escreveu os hinos do Clíper, Libermorro, Sulamérica, América e Princesa de Solimões;

* O autor do hino oficial do Bahia, Adroaldo Ribeiro da Costa, além de compositor foi também poeta, jornalista, professor, advogado e teatrólogo;

* O hino popular do Sport Recife foi criado pelo grande autor de frevos Nélson Ferreira que era um fanático torcedor do Santa Cruz;

* Os Irmãos Valença foram parceiros do grande poeta Vinícius de Moraes em sua primeira composição. Consta que adoravam compor hinos e só pode ser verdade pois além do oficial do Santa Cruz eles ainda fizeram um hino a São Sebastião, um a Juarez Távora e acreditem: um hino aos DETENTOS!

 

COXAnautas: Como foi tocar esse projeto sem contar com o auxílio dos clubes?

Maurício: Acho que tivemos muita sorte. Conhecemos diversas pessoas legais espalhadas por esse país. Gente disposta a sacrificar seu precioso tempo para nos ajudar. Temos uma enorme lista de amigos que estarão sendo homenageados nos agradecimentos MAIS DO QUE ESPECIAIS de nosso livro.

Iniciativas como a dos “Helênicos” deviam ser valorizadas e servir de inspiração para outros grupos de torcedores. Tivemos muitas dificuldades, mas sinto que aos poucos surge uma nova mentalidade. Aqui em São Paulo os clubes finalmente despertaram para a necessidade de cuidar melhor de suas histórias. O São Paulo foi o primeiro a destinar uma parte de seu belo estádio para um memorial. O Corinthians e Santos recentemente também inauguraram os seus. Acho que é um belo pontapé inicial. 
 

COXAnautas: A pesquisa de vocês já está finalizada?

Maurício: Quase. Ainda não conseguimos localizar o hino oficial do América (RJ), de autoria de Soriano Roberto e Americano Maia. Falta também o frevo “Come e dorme”, de Nélson Ferreira, que durante algum tempo foi utilizado como uma espécie de hino popular pela torcida do Náutico. Falta ainda um hino do Grêmio de autoria de Isolino Leal, e um da Ponte Preta que, apesar de vencer um concurso promovido pelo clube, jamais foi adotado como oficial. Esse hino é de autoria da professora Maria Aparecida Motta de Aguiar.

COXAnautas: Existe intenção de divulgar o resultado do trabalho?

Maurício:
Esse material será transformado em DVD e em um livro. Não sei em quanto tempo eles estarão disponíveis nas livrarias, mas prometo avisá-los assim que tiver novidades. 
 

COXAnautas: Pra finalizar, como uma pessoa pode contatá-lo?

Maurício: Qualquer pessoa pode me contatar através do e-mail mg.uzum@ig.com.br. Um grande abraço à torcida do Coritiba e me coloco à inteira disposição para qualquer dúvida ou informação complementar sobre esse projeto.

Colaborou o pesquisador Guilherme Straube, dos Helênicos, parceiros dos COXAnautas.

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