“Quando essa onda passar, vou te levar nas favelas, para que vejas do alto, como a cidade é bela”. O trecho acima da canção Quando essa onda passar, composta por Martinho da Vila em 2005 parecia adivinhar o que estava para acontecer 3 anos mais tarde nas comunidades cariocas, começando pelo Santa Marta em Botafogo
Com a pacificação das comunidades, a cidade pôde se integrar mais. Com o asfalto subindo o morro e o morro descendo ao asfalto. A boêmia Vila Isabel, na zona norte do Rio, sempre foi assim e o Morro dos Macacos faz parte da vida do bairro e da escola de samba homônima, atual campeã do Carnaval do Rio.
– Todo mundo se conhecia e o morro era uma coisa muito boa. A característica mais marcante de qualquer favela sempre foi a solidariedade. Um socorria o outro – lembra Martinho da Vila, que é uma espécie de símbolo do bairro e dos Macacos.
Mas, nas últimas décadas, a tranquilidade deu lugar lugar ao medo. O ápice dessa história de terror aconteceu no dia 17 de outubro de 2009, quando um helicóptero da Polícia Militar explodiu após pouso forçado durante operação no Morro dos Macacos. Na ocasião, dois policiais morreram.
– O morro ficou ruim numa fase quando foram criadas as grandes facções. Eles foram tomando conta das favelas. O Macacos sofreu muito com isso. O problema é que nos últimos anos se vivia lá sempre em tensão, esperando uma invasão. Ou de um inimigo de outro morro ou da polícia. Então a tensão era o tempo inteiro. Agora não. Agora está tudo mais tranquilo – reconhece Martinho.
Como disse Martinho, o quadro começou a mudar em novembro de 2010. Foi quando a comunidade dos Macacos se livrou da ditadura do fuzil e recuperou novamente o direito de viver em paz. No local, foi implantada mais uma Unidade de Polícia Pacificadora. Segundo o cantor, o projeto das UPPs deveria ser implantado há muito tempo nas comunidades cariocas.
– Não adianta a polícia ir ao morro, expulsar os marginais e ir embora. Aí o cara volta daqui a pouquinho. É pra ela ficar no morro e o governo tem que levar benefícios. Tem que tomar conta da favela como toma conta de um bairro. E é isso que está acontecendo agora – disse.
Reflexo de novos tempos. Uma nova fase que o Rio de Janeiro passa e carrega consigo a esperança e a possibilidade de um futuro melhor para quem tanto sofreu em locais abandonados durante décadas. A esperança de uma vida mais calma e simples, mas com todos os direitos de cidadania garantidos.
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