Em 1975, iniciou-se um mapeamento da produção de artesanato e literatura de cordel no Interior. Criou-se o Centro de Referências Culturais, da Secretaria de Cultura do Estado (Ceres) – e, com ele, uma geração de grandes pesquisadores da cultura popular.
No início, eram dois projetos, um para pesquisar artesanato e outro para o cordel. Era 1975, e o Governo do Estado reuniu um grupo de interessados em cultura popular para viajar pelo Interior e mapear a produção nessas duas áreas. “Havia um grupo de teatro que discutia a realidade e a cultura cearenses, o Grupo Independente de Teatro Amador (Grita), e as pessoas que começaram nesses projetos eram ligadas a ele. O Paulo Lustosa estava assumindo a secretaria de Planejamento. Ele nunca participou diretamente da pesquisa, era mais um coordenador geral. Mas tinha o Oswald Barroso, a Olga Paiva, o José Carlos Matos, o Maurício Albano, fotógrafo, que fez toda a documentação visual das viagens”, conta o professor Edvar Costa.
Edvar entrou no projeto no ano em que ele começou. Ibiapaba e Cariri já haviam sido mapeados. Ele participou do litoral leste, (des)cobrindo a produção artesanal de Cascavel a Aracati. “Ainda nem era Ceres, era o projeto Artesanato. Com o levantamento terminado, foram aplicados questionários. Os dados foram usados em parte, porque não foi feito tudo que era previsto. Isso demandava um tratamento que não se conseguiu na época. Para o cordel, seria uma antologia. Mas, com o material do artesanato, começou a surgir a ideia de um centro de referência”.
O Centro de Referências Culturais (Ceres), da Secretaria de Cultura do Estado, começou com um acervo na rua Solón Pinheiro, em uma propriedade da secretaria. Com um gravador de rolo e uma mesa de edição, foram feitos montados os registros em audiovisual das viagens. Também começaram a montar o acervo fotográfico. Hoje esse material encontra-se no Museu da Imagem e do Som (MIS).
Edvar Costa trabalhou de 1975 a 1980, mas o Ceres continuou existindo. A experiência no Interior possibilitou a formação de pesquisadores e grandes nomes da cultura popular. Rosemberg Cariry tornou-se cineasta e, em sua obra, revisita o sertão. Oswald Barroso fez-se pesquisador, escreveu livros e fundou o Teatro Boca Rica.
Quem também se tornou pesquisador foi Edvar Costa, que hoje é professor da Universidade do Vale do Acaraú, trabalha com história e memória e coordena o Meduc, um grupo de pesquisa de história e memória social da educação e da cultura.
Na época, no entanto, ainda não tinha tradição acadêmica, e ele lembra das disputas que aconteceram. “Se você falasse em pesquisa social, tinha que estar na área da universidade. A gente era um grupo novo, de pessoas jovens. Tinha socióloga, filósofo, mas ninguém com tradição de pesquisa. Houve um embate naquele período, mas esse trabalho possibilitou constituir um grupo que vinha de outros lugares sociais, interessado em estudar as atividades culturais não só para documentação, mas também para utilizar essas informações nos desenvolvimentos de estética e linguagem no teatro, por exemplo. As viagens tiveram muita importância para o Oswald e o José Carlos Matos, que desenvolviam outras atividades”.
Na obra Ceará – Uma Cultura Mestiça, Oswald conta um pouco da experiência. “Na época, eu fazia parte da equipe de pesquisadores do então Centro de Referências Culturais – Ceres, e, como tal, viajava frequentemente pelo Interior cearense. Pesquisando artesanato e literatura de cordel, nossa equipe visitou dezenas de municípios. Porém, como ator e escritor de textos teatrais minha atenção voltou-se, particularmente, para as manifestações cênicas que ia encontrando no caminho: dramas, fandangos, caninhas-verde, danças do coco, danças de São Gonçalo, pastoris, bumbas-meu-boi, congos, bandas cabaçais etc”. Edvar finaliza: “O Ceres foi pequeno, passageiro, mas muito significativo nessa perspectiva”. (Alinne Rodrigues)
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