Malandros do Bem e o Samba que Não Para

 

Entre memórias, risadas e goles de gelada, Gogó de Ouro, Nelson Santos e eu cantamoss a malandragem que resiste e faz história. E já preparamos o próximo encontro: Projeto Gogó de Ouro – 40 anos de samba em Curitiba!

 

 

Ontem foi dia de encontro de malandros do bem lá em casa. E que encontro! Daqueles que fazem a gente sentir que o tempo pode parar por algumas horas para ceder espaço à música, às memórias e ao riso solto, sem pressa. Vieram dois parceiros de longa estrada, amigos forjados no compasso sincopado do samba: Gogó de Ouro e Nelson Santos.

A palavra “malandro” carrega muitas histórias. Assim como tantos conceitos que rondam o cotidiano, a malandragem não nasceu ontem. Foi construída ao longo do tempo, muitas vezes como um rótulo imposto para controlar aqueles que se desviavam da norma, principalmente homens negros que ousavam andar à margem das regras ditadas pelos donos do poder. Mas o samba também se fez nesses desvios. A malandragem do bem é aquela que resiste, que encontra atalhos para a alegria e que transforma o mundo com um tantinho de molejo e astúcia.

Gogó de Ouro é um desses malandros que a vida me presenteou. Nome de batismo: Jaime Queiroz. Vindo das rodas de capoeira do Rio de Janeiro, carregou na bagagem o som do berimbau e, no coração, o pulsar do samba. Foi em Curitiba que ele decidiu fincar raízes e transformar o cenário musical da cidade. Nos anos 80, deixou para trás a profissão de professor de capoeira e se jogou de corpo e alma na música. Ele está completando 40 anos de Curitiba. Nos conhecemos quando ele começava a fazer suas primeiras apresentações em praças públicas, cantando para quem quisesse ouvir. E quem ouvia, ficava. Sua voz, potente e cheia de sentimento, conquistava os desavisados e os transformava em apaixonados pelo samba.

O primeiro Dia Nacional do Samba em Curitiba, aquele festival que abriu caminhos para tantos artistas locais, teve seu nome cravado na história graças a ele. Gogó não só canta, ele semeia. Onde passa, planta a semente do samba e deixa um legado. E ontem, enquanto tomávamos um café forte – porque malandro de verdade também gosta de café – relembramos cada detalhe dessa caminhada.

Nelson Santos, por sua vez, é daqueles que faz o carnaval acontecer mesmo quando dizem que Curitiba não tem samba. Primeiro funcionário contratado da Fundação Cultural de Curitiba, ele foi iluminador do Teatro Paiol, viu grandes artistas pisarem naquele palco e, depois, ajudou a criar projetos que deram vida nova à cena cultural da cidade. Entre eles, o Bloco Carnavalesco da Terceira Idade Rancho das Flores, uma celebração de alegria e resistência. Porque samba não tem idade e folia não se aposenta.

Foi Nelson quem me apresentou ao grande Claudionor Cruz, lá nos anos 70. Claudionor ficou tão encantado com Curitiba que acabou sendo homenageado com o título de Cidadão Curitibano. Irônico pensar que Nelson, que tanto fez pela cidade, nunca recebeu esse reconhecimento oficial. Mas, como diria o próprio, “honraria de verdade é ter história para contar e amigos para dividir.”

A conversa rolou solta, como sempre. Entre um gole e outro, entre um verso e uma risada, reafirmamos o que já sabemos há tempos: o samba é nosso. Ele está na pele, na voz, na resistência. E se ontem foi dia de encontro, amanhã será dia de fazer o samba ecoar por aí. Porque malandro do bem nunca para, só descansa para recomeçar. Ficou acertado que vamos fazer um projeto/show em comemoração aos 40 anos de samba em Curitiba do Gogó.

Cláudio Ribeiro

Jornalista – Compositor

Compartilhar:

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*