Maestro paranaense Waltel Branco, morre no Rio

Waltel Brando e o compositor e jornalista Cláudio Ribeiro
Waltel Brando e o compositor e jornalista Cláudio Ribeiro

Morreu ontem (28 de novembro) o músico paranaense Waltel Branco, um dos principais músicos e maestros do mundo, aos 89 anos. Ainda sem causa conhecida, a morte do maestro. Morreu na casa da filha com quem ele morava há cerca de um ano em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. Conhecido internacionalmente por ter sido um dos compositores da trilha sonora da Pantera Cor-de-Rosa, ele era admirado por músicos de vários estilos e tem uma extensa produção musical em sua carreira de quase 70 anos.

 

 

Biografia

Waltel Branco (Paranaguá / PR, 22 de novembro (dia do músico) de 1929) Morre no Rio do dia 28 de novembro de 2018  foi maestro, compositor e arranjador brasileiro.

 

UM MÚSICO EXTRAORDINÁRIO (Luis Nassif)

 

Waltel Branco é o derradeiro integrante de uma seleção brasileira de maestros, contratados da Rede Globo, que tinha em Radamés Gnatalli o Pelé. Quando se decidir a divulgar Waltel, é possível que se descubra um dos mais célebres músicos anônimos do país.

 

Waltel nasceu em Paranaguá em 22 de novembro de 1929. Seu primeiro professor foi o pai Ismael Helmuth Scholtz Branco, saxofonista e clarinetista. Quando o conheci, me passou a nítida impressão de ser mulato. Na foto do livro (A Desconstrução da Música na Cultura Paranaense de Manoel de Souza Neto), parece mulato. Mas é neto de alemães legítimos.

 

Uma gravação com o acordeonista italiano Cláudio Todisco, nos estúdios da Odeon, permitiu-lhe conhecer o maestro Radamés Gnatalli. Não levou muito tempo para ser convocado para tocar com o mestre. Depois, passou a ter aulas de regência com dois outros maestros históricos, Alceu Bocchino e Mário Tavares. Conseguiu ser o maestro que ensaiou a orquestra nos concertos de Stranvinsky no Rio de Janeiro.

 

Aos 20 anos, rumou para Illinois, EUA, atrás de aulas com o guitarrista Sal Salvador, que tocava com Nat King Cole. Dava aulas de violão clássico para sustentar o aprendizado de jazz.

 

Chegou a tocar em um trio com Nat King Cole, além de ter produzido o disco de seu irmão Fred Cole e, mais tarde, o de Natalie Cole, filha de Nat.

 

Depois, participou de um trio com o baterista Chico Hamilton. Nesse período, conheceu Peggy Lee, cantora que se casou com o maestro Quincy Jones. Waltel se casou com a irmã de Peggy, Lede Saint-Clair Branco, tornando-se, por força do casamento, co-cunhado de Quincy Jones. Com ele tocou muito jazz e música clássica e conheceu o maestro Henry Mancini.

 

Na época, Mancini promovera uma revolução nos direitos autorais. Até então, os direitos eram todos dos estúdios. Quando sobreveio a crise dos estúdios, aceitou fazer trilhas sonoras para a nova produção, com a condição de ser o titular dos direitos. Estourou na primeira trilha, para o seriado de TV “Peter Gunn”. Ao lado de outros pioneiros, como o argentino Lallo Schiffrin, montou um escritório para atender à nova demanda. Assim que ouviu nosso Waltel tocar, contratou-o. E foi nessa condição que Waltel tornou-se o arranjador de uma das mais famosas trilhas sonoras da história do cinema, do filme “A Pantera Cor de Rosa”.

 

De volta ao Rio, Waltel pegou o início da bossa nova. Fez todos os arranjos do “Chega de Saudades”, de João Gilberto, seguindo o método peculiar do violonista. João Gilberto o chamava, mostrava a harmonia que desenvolvera ao violão, e Waltel a seguia para o arranjo, como se cada instrumento seguisse uma corda. Depois gravou dois discos solos, “Guitarra em Chamas 1 e 2”, tendo como acompanhador o violão de Baden Powell.

 

Em 1963, nos EUA, conheceu o jornalista Roberto Marinho, que o convidou a ser crítico musical do jornal “O Globo”. Quando foi constituída a TV Globo, Waltel foi contratado, indo compor um time de primeiríssima, com Radamés, Guerra Peixe e Guio de Moraes. Compôs e dirigiu as trilhas sonoras, entre outras, de “O Bem Amado”, “Roque Santeiro” e “Morte e Vida Severina”.

 

Tempos depois, o chileno Zamacois, que ele conhecera em seus tempos no seminário de Curitiba, convidou-o a ir para a Espanha. Lá, estudou mais harmonia e técnicas de violão, venceu o concurso da Rádio Difusora Francesa e, como prêmio, ganhou uma bolsa para estudar com Andrés Segóvia, o maior violonista clássico do século. Fã de Segóvia, que tocava desde criança, Waltel se lembrava de peças das quais o próprio mestre se esquecera. Em vez de aulas, passou a tocar junto com Segovia.

 

Tempos atrás, seu amigo Fidel Castro ficou chateado com o “Buena Vista Social Club” de Win Winders, por suas distorções musicais, e incumbiu o maestro Leo Brower (adido cultural da diplomacia cubana e o compositor para violão clássico mais prestigiado da atualidade) de providenciar uma nova versão, mais autêntica. Quem Brower convoca para a empreitada? Entre outros, Waltel Branco que partiu antes do prazo combinado. Morreu no dia 28 de novembro de 2018.

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