Cansado. Muito cansado de ouvir os entusiastas dos números divulgados pelas editoras, que indicam crescimento do mercado de livros, mas sem refletir sobre o contexto de tais vendas. E muito muito mais cansado com os fatalistas, que veem a dificuldade de formar leitores como espelho de nossa inevitável decadência cultural e blá blá. Leitura não é questão de destino, mas de política.
O Brasil gasta vergonhosos menos de 5% do seu orçamento em educação. E, quando se espalha qualquer rumor de crise, inflação e afins, adivinhem quem perde primeiro um taco de sua fatia no bolo? Em 2010, anunciaram corte de mais de 1 bilhão de reais; para 2011, cerca de 500 milhões. A história de que o País não sabe apertar os cintos não vale para a educação – nesta pasta, cortar gastos não espanta ninguém.
E, dessa minguada verba, quanto realmente é investido em formação de leitores, autores e espaços de vivência literária? Valores ridículos. E ridículos eles são em todas as esferas, porque não conheço estado ou município brasileiro que tenha realmente a literatura (em seu sentido mais amplo) como prioridade. Aí políticos e intelectuais vêm com discurso de que jovens não querem ler, não gostam de livros? Cortem o papo furado!
Mas é fácil entender, pensem bem… O que dá mais votos? Investir num grupo de maracatu, num projeto de dança ou algo do tipo, que beneficiará dezenas ou centenas de eleitores (cujas famílias também votam), ou gastar em livro, que geralmente tem apenas um autor, um ou uns cinco votos imediatos? Trazer Ivete ou Sandy e Júnior, por centenas de milhares de reais que levam logo multidões de eleitores às ruas, para festejar com o governo, ou colocar essa dinheirama em projetos de formação de leitores que ainda nem votam, e que demorarão a entender a importância desse tipo de política?
Nada contra manifestações culturais populares ou eruditas, comerciais ou alternativas. Quero mais é que tenham mais recursos, pois ainda estão longe de ser o segmento mais privilegiado nas gestões públicas. Pelo contrário, brigam por pedaços daquela nesguinha do bolo. Somente mostro que, para os livros, a situação é ainda mais terrível.
Sim, os que vivem em torno do livro sempre foram uma “imensa minoria”. O que não significa dizer que é traço indelével das diversas nações (incluindo as que gastam mais com a leitura do que o Brasil, ou seja, quase todas). Isso é problema político, de vontade governamental. E, infelizmente, sei que minha teoria nunca poderá ser comprovada, porque duvido que algum dia levem o tema a sério o suficiente para que eu possa ser desmentido. É isso, sempre.
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