Ficou difícil essa discussão sobre os critérios da Lei Rouanet, depois da decisão do Ministro da Cultura Juca Ferreira, em rever a decisão da Comissão Nacional de Incentivo à Cultura (CNIC), de vetar projeto de R$ 2 mi para a temporada de Caetano Velloso de lançamento de seu CD.
A lógica da CNIC deveria ser a do Ministério:
1. Shows comercialmente viáveis não devem ser incentivados. Caetano é, graças a seu talento.
2. Não deve haver concentração de verbas no centro-sul. Caetano é um artista do centro-sul, seus shows serão majoritariamente no centro-sul.
A partir daí, como fica? Na entrevista da Folha, foram apresentados a ele quatro projetos que tiveram o patrocínio negado: as peças “Peter Pan” e “Miss Saigon”, e exposições como “Leonardo da Vinci” e “Corpo Humano”.
Ele não discute os critérios. Mas defende a revogação do veto à Maria Bethania, argumentando que Ivete Sangalo – que é um sucesso comercial maior – teve seu projeto aprovado.
Não sou masoquista para trabalhar só com artistas malsucedidos. O ministério não tem vocação de irmã Dulce nem de Madre Teresa de Calcutá. Um artista conhecido pode ter dificuldade de conseguir patrocínio para uma obra experimental, ou pode ser do interesse público abaixar os preços de um espetáculo popular.
Espetáculo popular no Credicard Hall é dose.
De qualquer modo, Juca deixa transparecer uma suspeita política, a de que a decisão do CNIC visou jogar artistas consagrados contra as mudanças na lei Rouanet. É possível. A própria exclusão de Maria Bethânia e a inclusão de Ivete Sangalo mostra um jogo difícil de ser compreendido.
Mesmo assim, ficadevendo explicações mais claras, inclusive sobre o tal jogo da CNIC.
Se a intenção do CNIC foi desgastar as mudanças, conseguiu.
Por Luis Nassif