João Gilberto Prado Pereira de Oliveira. É no nome do artista baiano que a Bossa Nova está registrada. Nascido em Juazeiro, em 10 de junho de 1931, João entrou para a história da música mundial ao, em 1958, colocar em seu violão uma batida totalmente diferente do que já se havia ouvido antes.
Sua participação como violinista no disco Chega de Saudade, no qual Elizeth Cardoso interpretava canções da dupla Tom Jobim e Vinicius de Moraes, e a gravação de um compacto onde canta “Chega de saudade” e “Bim bom” mexeu com a cabeça de uma geração de artistas e ouvintes. Chegou a Nova York, encantou Frank Sinatra, Ella Fitzgerald e Stan Getz e tantos outros.
João ajudou a eternizar clássicos como “Garota de Ipanema”, “Wave”, “Samba de uma nota só”, “Outra vez”. Em sua coluna desta semana, o editor Luís Antônio Giron destacou e explicou as influências do músico.
Conhecido por ter seu temperamento arredio, João não gosta de dar entrevistas, faz poucas aparições públicas, briga com gravadoras, reclama sempre da qualidade do som em seus shows. Ganhou inúmeros adjetivos ao longo dos anos: chato, exigente, metódico, difícil, implicante. Porém, apenas um prevaleceu: talentoso.
Para marcar os 80 anos de um dos artistas mais marcantes da música popular brasileira, selecionamos dez histórias que ajudam a explicar a carreira e o jeito de ser de João Gilberto.
A primeira vez da “batida”
João Gilberto participou como violinista do emblemático disco Canção do amor demais, de Elizeth Cardoso, considerado o marco da Bossa Nova. Ele colocou sua batida nas faixas “Chega de saudade” e “Outra vez”. Porém, não como queria. Seu registro definitivo para “Chega de saudade” foi lançado meses depois, em um compacto de 78 rotações.
Um disco só para João?
Apesar do sucesso do disco Canção do amor demais, de Elizeth Cardoso, João não impressionou a gravadora Odeon, que estava relutante em gravar um compacto do cantor. Nos anos 50, os cantores que faziam sucesso eram os que tinham a voz potente, como Cauby Peixoto e Anysio Silva. Tom Jobim deu uma força. Dorival Caymmi também recomendou João. E, no dia 10 de julho, um compacto com as músicas “Chega da saudade” e “Bim bom” foi gravado.
O perfeccionismo
O terceiro disco de João Gilberto começou a ser gravado em março de 1961. De acordo com o que conta o escritor Ruy Castro, no livro Chega de saudade, insatisfeito com o que estava acontecendo no estúdio (o primeiro arranjador era o pianista Walter Wanderley, que tentava entender o que João queria), o disco ficou paralisado por cinco meses. Retomado em agosto, agora com arranjos de Tom Jobim, o disco foi finalizado pouco mais de um mês depois e trouxe músicas como “Samba da minha terra”, “O barquinho”, “Bolinha de papel” e “Este seu olhar”.
João, Tom e Vinicius juntos
Apesar de serem muito próximos no período da Bossa Nova, João, Tom Jobim e Vinicius de Moraes só estiveram juntos em um palco durante uma pequena temporada na boate Au Bom Gourmet, em 1962. O show quase levou os produtores à loucura. Sempre um dos três não chegava no horário, geralmente João. Foi nesse espetáculo que a canção “Garota de Ipanema” foi cantada pela primeira vez.
O reencontro com Tom
Depois de 30 anos sem se apresentarem juntos, Tom Jobim e João Gilberto voltaram a se encontrar para um show no Rio de Janeiro, em 1992. O reencontro aconteceu no palco do Teatro Municipal carioca em uma noite bastante concorrida. De acordo com ao que publicou o jornalista Plínio Fraga, em uma reportagem no jornal Folha de S. Paulo, de 2008, Tom e João não se falavam pelo menos há seis anos. Segundo ao repórter, ao chegar para o primeiro ensaio, tudo o que João Gilberto disse foi: “Oi, Tom”.
Nem um adeus
Depois de duas horas de apresentação, ainda segundo Plínio Fraga, o público, encantado com o reencontro de Tom e João, pedia insistentemente a volta dos artistas ao palco. Tom chama João, que, já se preparando para ir embora, atende ao pedido do maestro. Após cantar mais um número, volta para o camarim, pega a caixa do seu violão e entra no carro que o aguardava já com o motor ligado. Nem de Tom ele se despediu.
A briga com um ídolo
No início de carreira, João Gilberto era fã do cantor Tito Madi (autor da canção Chove lá fora), que cantava suave. A admiração acabou quando, nos bastidores de uma entrega de prêmios, em São Paulo, por causa de um pedido de silêncio não atendido, João quebrou um violão na cabeça de seu grande ídolo. Tito levou dez pontos e deu queixa contra o músico baiano.
A preferência pelas cantoras
João nunca teve uma fama de conquistador, mas arrebatou o coração de algumas cantoras da música brasileira. Namorou com Sylvinha Telles (1934-1966). Casou-se com Astrud Gilberto (com quem teve um filho, João Marcelo), Nana Caymmi e Miúcha, com quem teve Bebel Gilberto, cantora e compositora. Em 2006, aos 75 anos, João descobriu ser pai de uma menina de dois anos, fruto de um relacionamento com a jornalista Cláudia Faissol.
O silêncio
Em 2000, João Gilberto voltou aos estúdios para gravar um disco produzido por Caetano Veloso. Além das regravações de “Chega de saudade” e “Desafinado”, João registrou canções que cantava há tempos em seus shows, como “Da cor do pecado”, “Segredo” e “Não vou para casa”. O baiano também cantou uma parceria de Caetano e Gilberto Gil, “Desde que o samba é samba”. A capa do CD causou polêmica ao trazer a atriz Camila Pitanga fazendo um gesto de “silêncio”, reivindicação constante de João em seus shows.
Os amigos de João
No badalado e concorrido show que fez em 2008, para comemorar os 50 anos da Bossa Nova, João elaborou uma lista de “pessoas queridas” que ele gostaria que estivessem na apresentação realizaria em São Paulo. Entre os nomes, estava o de Elza Laranjeira, a quem João se referiu como “grande cantora”. Porém, o que João parecia não saber é que Elza havia morrido em 1986, mas de vinte anos antes de seu delicado convite.
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