Jair do Cavaquinho – Samba de Verdade

Jair do Cavaquinho

Ele ensinou Marisa Monte a dançar o miudinho (estilo de sambar que requer extrema agilidade). Ao lado de Paulinho da Viola, Élton Medeiros, Nélson Sargento, Anescarzinho do Salgueiro e, posteriormente, Mauro Duarte, todos bambas do maior calibre, promoveu, em meados da década de 60, uma retomada ao samba de quadra, em oposição ao samba-enredo. Este começava então a abandonar a familiaridade de seu ambiente original para se tornar meramente um produto comercial, com objetivos bem diferentes dos pretendidos por seus primeiros criadores.

A retomada ao samba de quadra se deu por meio do trabalho de alguns grupos antológicos, como A Voz do Morro, Rosa de Ouro, Os Cinco Crioulos, tendo sido gravado por Elizeth Cardoso (no antológico Elizeth sobe o morro), Beth Carvalho, Dorina, Leny Andrade e muitos outros e outras.

Membro da Velha Guarda da Portela, Jair é um de seus mais prolíficos compositores, autor de sambas, valsas e partidos-altos, além de exímio instrumentista. Ex-parceiro e vizinho de Nélson Cavaquinho, este é Jair Araújo da Costa, ou Jair, também – como Nélson – do Cavaquinho.

Jair é um mestre: menino ainda, trabalhava como engraxate em Oswaldo Cruz e cercanias, para complementar a renda familiar. Enquanto dava suas escovadas, observava os músicos que freqüentavam a quadra da Portela. E aprendeu muito bem, a ponto de superar os mestres.

Fabricou, ele mesmo, seu primeiro instrumento, um arremedo de cavaco, constituído de um pedaço de madeira com arames esticados. E nele desenvolveu sua técnica e sua musicalidade, a ponto de ser aclamado, a posteriori, até mesmo por um craque como Jacob do Bandolim.

Sambista da cabeça aos pés e exímio dançarino, Jair compõe sempre com um sorriso e um fôlego infalíveis, capazes de contagiar qualquer dos presentes. Em 2002, finalmente teve a honra de gravar pela Phonomotor seu primeiro CD solo, que leva seu nome, sob a produção de Pedro Miranda.

O disco foi vendido em conjunto com o também primeiro do também bamba portelense Argemiro Patrocínio, que morreu em 2003. Verdadeira celebração da grandeza e da elegância portelenses, os discos tornaram-se imediatamente clássicos do gênero.

Brejeiras ou tristes, quando necessário, as composições de Jair são reverenciadas pela Velha Guarda. E por artistas como Paulinho da Viola e sua simultaneamente afilhada e madrinha Marisa Monte, que se derrete quando Jair se levanta e sai dançando com ela – com a elegância superior que lhe é inerente – nas rodas de samba mundo afora e, principalmente, em Oswaldo Cruz, reduto da Portela e de seu Jair.

Jair completa hoje 85 anos de puro samba e alegria, período em que nunca permitiu que faltassem, a ele e a nós, amplas doses de ambos. A festa é amanhã, às 21h, no Carioca da Gema (Av. Mem de Sá, 79), na Lapa, que sempre acolhe os grandes do samba. Seus melhores amigos, os membros da Velha Guarda da Portela vão comparecer. O grupo Dobrando a Esquina acompanha Jair do Cavaquinho e também a cantora Luíza Dionízio.

 

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