
Que nunca nos falte a memória, que nunca nos falte a coragem. Artigo de Cláudio Ribeiro
Na fria manhã de 18 de março de 1978, em Curitiba, o meu amigo, jornalista e escritor Luiz Manfredini e outros dez bravos camaradas foram levados ao cárcere da Polícia Federal. Era sua quarta prisão ao longo da batalha contra a ditadura militar. O motivo? Uma acusação absurda e fabricada: ensinar marxismo a crianças de uma pré-escola. Como se o saber, a consciência crítica e a sede de justiça fossem crimes. Como se a educação pudesse ser acorrentada pelo medo dos que temiam a liberdade.
Mas Manfredini carregava um fardo a mais. Acusado de conspirar contra o regime ao lado do tenente-coronel Tarcísio Nunes Ferreira, do 13º Batalhão de Infantaria Blindada, tornou-se símbolo de uma luta que transcendeu barreiras ideológicas e militares. O tenente-coronel ousou desafiar os algozes do Brasil ao conceder uma entrevista explosiva, clamando pela redemocratização. Um gesto que, num país sufocado pela censura e pelo medo, era um brado retumbante contra a tirania.
Naqueles dias sombrios, a prisão de Manfredini e seus companheiros galvanizou a opinião pública. A sociedade, até então silenciada pelo terror, começou a reagir. A coragem de poucos inflamou o desejo de muitos. Daquele cárcere, daquelas celas imundas, brotou a centelha que ajudaria a iluminar o caminho da democracia.
A história se repete de formas distintas, mas nunca se esquece dos que lutaram. Manfredini e seus camaradas pagaram o preço mais alto para que hoje possamos falar, escrever e pensar livremente. São nomes que não podem se perder nas brumas do tempo, pois cada um deles representa a força inquebrantável da resistência.
Quarenta e sete anos depois, seu legado, Manfredini, ecoa. Que nunca nos falte a memória, que nunca nos falte a coragem.
Cláudio Ribeiro
Jornalista – Compositor – Escritor
Formação em Direito
Pós-Graduacão em História do Brasil e Ciências Politica
Cartaz colocado nas escadarias da UFPR na época
Faça um comentário