André Pinto Rebouças nasceu na cidade de Cachoeira, região do Recôncavo baiano, no dia 3 de janeiro de 1838, filho mais velho de Antônio Pereira Rebouças e Carolina Pinto Rebouças.
Apesar do preconceito racial, seu pai, um mulato, foi um homem importante e de prestígio na época. Autodidata, obteve o direito de advogar em todo o País; representou a Bahia na Câmara de Deputados por diversas legislaturas; foi secretário do Governo da Província de Sergipe; conselheiro do Império, tendo recebido o título de Cavaleiro da Imperial Ordem do Cruzeiro, em 1823.
André rebouçasAndré Rebouças sempre foi muito discreto quanto a considerações relativas a sua cor e ao preconceito que sofria. Poucas vezes falou sobre o assunto e quase não há referências ao problema no seu Diário, utilizado pelos pesquisadores como importante fonte de informação histórica.
Em fevereiro de 1846, sua família mudou-se da Bahia para o Rio de Janeiro, onde André freqüentou alguns colégios, sempre com um ótimo rendimento escolar, até ingressar, em 1854, na Escola Militar (depois chamada de Central e, por fim, Politécnica, no Largo de São Francisco), concluindo o curso preparatório, em 1857, e sendo promovido a 2º tenente do Corpo de Engenheiros.
Bacharelou-se em Ciências Físicas e Matemáticas, em abril de 1859, na Escola de Aplicação da Praia Vermelha, obtendo o grau de engenheiro militar, em dezembro de 1860.
De fevereiro de 1861 a novembro de 1862, Rebouças e seu irmão Antônio, engenheiro, estiveram na Europa em viagem de estudos. Na volta ao Brasil, ambos foram trabalhar como comissionados do Estado brasileiro na vistoria e aperfeiçoamento de portos e fortificações litorâneos, considerados estratégicos para a defesa da soberania brasileira.
Rebouças foi convocado para a Guerra do Paraguai, na qualidade de engenheiro militar, nela permanecendo durante o período de maio de 1865 ajulho de 1886, quando teve que retornar ao Rio de Janeiro, por motivos de saúde.
Dirigiu a Companhia das Docas da Alfândega do Rio de Janeiro, de 1866 a1871, trabalhando na elaboração de projetos técnicos para novos portos, entre os quais o de Cabedelo, na Paraíba, do Maranhão, do Recife, de Salvador e, também, no abastecimento d`água da cidade do Rio de Janeiro, durante a seca de 1870. Em 1871, assumiu a direção da Companhia Docas Pedro II.
Participou dos projetos da ferrovia Paraná-Mato Grosso (Princesa Isabel); da estrada de ferro da Paraíba (Conde d’Eu) e da Companhia Florestal Paranaense.
Na década de 1880, se engajou na campanha abolicionista, assim como também o fez Joaquim Nabuco, com quem trocou significativa correspondência, que pode ser encontrada no arquivo de documentos textuais, do Centro de Documentação e de Estudos da História Brasileira (Cehibra), da Fundação Joaquim Nabuco.
Rebouças participou da criação de algumas sociedades anti-escravagistas, como a Sociedade Brasileira contra a Escravidão, a Sociedade Abolicionista e aSociedade Central de Imigração.
Como abolicionista, contribuiu não apenas como intelectual para o ideário da abolição, mas também na efetiva atuação no movimento. Sua visão progressista e liberal o fez contrapor-se a todos os tipos de escravização, não somente a negra, lutando ainda contra a “reescravização do imigrante pelos donos da terra”. Foi um dos poucos abolicionistas que anteviram as implicações mais profundas da eliminação da mão-de-obra escrava. Para ele a “escravidão não está no nome e sim no fato de usufruir do trabalho de miseráveis sem pagar salário ou pagando apenas o estrito necessário para não morrer de fome[…] Aviltar e minimizar o salário é reescravizar”[…]
Defendia a emancipação e regeneração do escravo pela aquisição da propriedade da terra. Para ele a chave para a transformação da agricultura brasileira era a mudança dos sistemas de posse da terra.
Essas idéias estão expostas no seu livro mais conhecido, Agricultura nacional, estudos econômicos: propaganda abolicionista e democrática. Ele queria implantar no País o que chamou de Democracia Rural Brasileira. Sua afirmação: “Quem possui a terra possui o Homem”, resume sua postura em relação aos problemas sociais do século XIX, além de indicar a atualidade do seu pensamento
André Rebouças tinha grande prestígio pessoal junto a Dom Pedro II. No período compreendido entre a Abolição da Escravatura, 13 de maio de 1888 e a Proclamação da República, 15 de novembro de 1889, o imperador atribuiu-lhe importantes encargos, tendo assim participado amplamente dos acontecimentos políticos do País.
Monarquista, amigo pessoal do imperador Pedro II, Rebouças não aceitou a implantação do regime republicano, decidindo seguir a família imperial em seu exílio. Embarcou na madrugada do dia 16 de novembro de 1889, junto com ela, no paquete (navio rápido e luxuoso, normalmente a vapor) Alagoas, com destino à Europa.
No período de 7 de dezembro de 1889 a 24 de abril de 1891, morou em Lisboa. Foi colaborador do jornal Gazeta de Portugal, onde com estilo crítico e mordaz escrevia contra o novo regime implantado no Brasil. Foi também correspondente do jornal de Londres The Times.
A pedido de Pedro II, que reconhecia estar vivendo seus últimos dias de vida, Rebouças viajou para Cannes, na França, para encontrá-lo, ficando na sua companhia do dia 28 de abril a 2 de maio de 1891.
Mesmo depois da morte de Dom Pedro II, Rebouças nunca retornou a Portugal e não ficou claro o porquê da sua decisão. Ele permanenceu na França até janeiro de 1892, poucos dias após a morte do ex-imperador do Brasil, no dia 5 de dezembro de 1891, indo trabalhar em Luanda, capital de Angola, na África, onde só ficou por 15 meses. Em 1893, resolveu fixar-se em Funchal, capital da Ilha da Madeira.
Abatido pelo exílio e por um estado de saúde precário, morreu no dia 9 de maio de 1898. Seu corpo foi resgatado, na base de um penhasco de cerca de60 metros de altura, próximo ao hotel em que vivia.
No dia 18 de junho seus restos mortais vindos da Ilha da Madeira, foram trasladados solenemente, por mar, das Docas Nacionais até a Praia de Botafogo, e dali a pé, até o Cemitério de São João Batista, no Rio de Janeiro, onde foram sepultados.
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