Desde a época colonial, a região do Prata foi palco de intensas disputas militares entre os impérios coloniais lusitano e espanhol. No século XIX, com o processo de independência americano, diversos Estados independentes surgiram configurando um novo momento nas relações políticas da região. Entre outras questões, Paraguai, Uruguai, Argentina e Brasil viveram uma delicada situação em torno da livre navegação nos rios que faziam fronteira com esses países.
Na Argentina havia setores políticos que desejavam fazer frente à supremacia econômica do império brasileiro na região. Por isso, defendiam a formação de um Estado unificado composto pelas regiões que posteriormente formavam o Vice-Reinado da Prata. Essa proposta ganhou força quando o presidente uruguaio Manuel Oribe e Juan Manuel Rosas, da Argentina, decidiram colocar em prática esse plano de unificação.
O Brasil sentiu-se ameaçado com o projeto, pois teria seus interesses econômicos prejudicados com o fim da livre navegação nos rios platinos. Dessa maneira, as autoridades imperiais decidiram unir forças com o Paraguai e os aliados políticos argentinos e uruguaios. Formando uma ampla frente de coalizão, o Brasil declarou guerra aos argentinos, em 1851. A vitória brasileira foi selada com o apoio político a lideranças argentinas e uruguaias favoráveis ao projeto de livre navegação.
O equilíbrio de forças alcançado com o fim deste conflito viria a ser perturbado com a chegada de Jose Gaspar Rodríguez Francia à presidência do Paraguai. No seu governo, que ocorre entre 1813 e 1840, o novo presidente realizou uma ampla reforma agrária, desenvolveu indústrias e incentivou as exportações. No ano de 1862, Solano Lopez assumiu a presidência paraguaia com o intuito de dar continuidade à política desenvolvimentista implantada por seu antecessor.
No entanto, o novo presidente se mostrava mais simpático a um projeto expansionista que visava incorporar territórios da Argentina, Brasil e Uruguai para a formação do “Paraguai Maior”. Essa medida visava ampliar o volume de produtos exportados pela proeminente indústria paraguaia com a garantia de uma exclusiva saída para o mar. Por isso, Solano Lopez decidiu apoiar o grupo político uruguaio “blanco”, que acabava de assumir o governo do país e também partilhava desse projeto expansionista.
Mais uma vez, não aceitando a chegada dos “blancos” uruguaios ao poder, o Brasil decidiu enviar tropas apoiando as guerrilhas do grupo de oposição colorada para derrubar o novo governo do Uruguai. A ação intervencionista do Brasil, feita em 1864, foi a justificativa encontrada por Solano Lopez para invadir a província do Mato Grosso e duas províncias argentinas. A partir de então, estava formado o cenário inicial da maior guerra da história militar brasileira.
Com o início da guerra, Brasil, Argentina e Uruguai uniram suas forças com a formação da Tríplice Aliança. Com o prolongamento da guerra, Solano López não conseguiu resistir às tropas da Tríplice Aliança. De acordo com alguns historiadores, a derrota paraguaia foi facilitada com os empréstimos cedidos pela Inglaterra, contrária ao projeto industrial de Solano López. O conflito se arrastou até 1870, quando os exércitos inimigos sucumbiram à superioridade bélica da Tríplice Aliança.
O saldo da guerra foi trágico para os paraguaios. O projeto desenvolvimentista chegou ao seu fim com a morte de López, os pequenos proprietários foram expropriados de suas terras e a grande maioria da população economicamente ativa do país morreu durante os seis anos de guerra. Os países da Tríplice Aliança também foram prejudicados, pois a contração de empréstimos acabou prejudicando a economia desses países. No Brasil, essas conseqüências negativas implicaram no reforço da campanha antimonarquista.
Por Rainer Sousa
Graduado em História
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