Guerra cultural e construção da hegemonia

A cultura guarda lugar de relevante preponderância ao grupo político que ora está no poder, sempre é assim, todo grupo político que ocupa o poder busca firmar as bases de um projeto cultural adequado aos seus valores político-ideológicos, de maneira que possa dar legitimidade as suas ações no campo da política, da economia e da defesa, ou seja, é parte importante da política estratégica, tanto quanto a integração e a segurança nacional, mais que isso, é suporte primário para as demais.

 

A ditadura civil-militar firmou as bases de uma cultura político-ideológica reacionária no país que perdura até os dias atuais, com nuances de renovação conservadora aprofundada, visto o retorno dos militares a condução do poder executivo e a luta político-ideológica travada com as forças progressistas remetida ao passado da guerra-fria, com direito ao Presidente eleito reivindicar cuidado com a “ameaça soviética”.

 

O governo caminha a passos cambaleantes em sua estruturação, onde parece que o núcleo duro já não se entende, a primeira semana de atuação reservou ao país um festival de anúncios e “desanúncios”, um tal de vamos fazer, não vamos fazer, especialmente entre executivo e núcleo do capital financeiro, os militares, esparramados em setores estratégicos seguem nas sombras, daqui a pouco o General Heleno apresenta-se pra dizer que tudo vai bem, que está tudo sob controle. O Presidente segue atiçando o enfrentamento no campo cultural, enquanto o General Mourão segue ocupado em acalmar as grandes potências em reuniões fechadas ou discretíssimas.

 

Tal qual a ditadura civil-militar o governo posiciona-se na busca de inimigos internos pra impor sua política cultural, execrando intelectuais e artistas, e no campo da difusão cultural elegendo como queridinhos órgãos e veículos de comunicação alinhados com a tradição e valores defendidos pelo novo bloco no poder, como ainda não logrou e possivelmente não haja margem para impor um projeto de censura aos órgãos de comunicação, a saída encontrada pelo governo é a “censura financeira” aos não alinhados, visto que, a grande maioria dos grandes e médios meios de comunicação são quase que exclusivamente sustentados por patrocínio advindo da estrutura estatal. As rádios comunitárias, as poucas que resistem, começaram a ser tiradas do ar ainda no governo Temer que ao final de seu mandato extinguiu e suspendeu cerca de 130 rádios comunitárias.

 

No entanto a base de ataque das forças conservadoras no poder para realinhar a cultura a seus moldes é ainda mais emblemática, seu foco para neutralizar as forças progressistas da sociedade e neutralizar sua reprodução foca-se no Ministério da Educação, tendo sido o ministro indicado pelo filósofo Olavo de Carvalho e segundo palavras do presidente, atendido aos predicados da bancada evangélica, preservando seus princípios e valores, terreno fértil em um país com raízes conservadoras. As ações de enfrentamento no campo cultural vão desde o combate ao “marxismo cultural” à “ideologia de gênero” e a luta contra o “lixo marxista” nas escolas.

 

Trava-se uma luta de grandes proporções pela construção de uma nova hegemonia cultural ultraconservadora no Brasil, alicerçada em valores culturais do fundamentalismo cristão e da divisão de um mundo que já não existe mais. Em nome da pátria e de deus o Brasil segue o caminho do precipício.

 

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