‘Gonzagão – A lenda’ Um musical de João Falcão

Como em qualquer história de homem que vira mito, a vida de Luiz Gonzaga tem passagens em que as versões de seus biógrafos não batem, em que realidade e fantasia se confundem. Desde que foi convidado pela produtora Andrea Alves, da Sarau Agência de Cultura Brasileira, há dois anos, para criar um musical sobre o rei do baião, o autor e diretor João Falcão se sentiu livre para tratar mais do mito do que do homem. O resultado é “Gonzagão – A lenda”, espetáculo que estreia em 19 de outubro no Teatro Sesc Ginástico, no Rio.

“É a história de Luiz Gonzaga, mas não é Wikipédia”, diz João Falcão, que evitou qualquer didatismo na construção do texto, embora tenha lido vários livros sobre um dos artistas mais importantes da música brasileira, morto em 2 de agosto de 1989 e cujo centenário de nascimento se completa no próximo dia 13 de dezembro.

A opção por uma abordagem teatral, não enciclopédica, fica explícita logo no início da peça, quando uma trupe se apresenta para contar a “lenda do Rei Luiz”. Os atores desta trupe anunciam que encenarão uma história iniciada “no sertão do Araripe lá pelos idos do século XX”.

INFORMAÇÕES

 Temporada: de 19 de outubro a 16 de dezembro de 2012

Horário: de quinta a domingo, às 19h (sessão extra: dia 26/10 – sexta, às 12h30) Ingresso: Quinta e Sexta – R$ 24,00 (inteira) / R$ 12,00 (meia) / R$ 5,00 (comerciário) / Sábados e Domingos – R$ 32,00 (inteira) / R$ 16,00 (meia) / R$ 5,00 (comerciário) Classificação etária: 12 anos. Duração: 120 minutos

LOCAL – Teatro SESC Ginástico (Capacidade: 513 lugares)

Avenida Graça Aranha, 187 – Centro

 Bilheteria: de terça a domingo, das 13h às 20h. Telefone (21) 2279-4027. www.sescrio.org.br

“Eles estão no futuro, mas tudo é meio arcaico.

Não se localiza a época”, diz João.

A atemporalidade vem acompanhada de uma proposital imprecisão espacial. Mas é claro que as referências são maciçamente nordestinas, sobretudo pernambucanas. Luiz Gonzaga nasceu no município de Exu, de onde saiu aos 17 anos para ganhar o mundo. João Falcão também é de Pernambuco, da cidade de São Lourenço da Mata, onde vivia numa usina de cana de açúcar, a Tiuma.

“A festa mais importante da minha casa era a de São João, e São João era Luiz Gonzaga. Ele era patrimônio do povo, mais do que qualquer outro artista, mais do que Roberto Carlos. Poucas músicas que estou usando no espetáculo descobri agora. A maioria eu sabia de cor, já sabia tocar. Luiz Gonzaga é o fundo musical do Nordeste”, conta ele, que também é compositor.

A trupe da peça é formada por oito homens (Adrén Alves, Alfredo Del Penho, Eduardo Rios, Fabio Enriquez, Marcelo Mimoso, Paulo de Melo, Renato Luciano, Ricca de Barros, todos revezando-se nos vários papéis, inclusive no de Gonzaga) e apenas uma mulher,Laila Garin. Vista primeiramente como um homem (evocação de Diadorim, Luzia Homem e outras famosas personagens da literatura de sertão), ela se infiltra naquele ambiente que era apenas masculino e vai perturbá-lo. É uma trama paralela à de Luiz Gonzaga.

Na história do rei do baião, João se permitiu rebatizar duas mulheres importantes da vida do músico, Nazarena (o primeiro grande amor) e Odaléa (a mãe de Gonzaguinha, de quem Gonzagão assumiu a paternidade, embora fosse estéril, e deu para um casal criar) como Rosinha e Morena, respectivamente, nomes que aparecem em músicas do compositor. E ainda se permitiu criar um encontro que nunca aconteceu: Luiz Gonzaga e Lampião, dois mitos nordestinos.

Também há espaço, naturalmente, para se falar da originalidade de Gonzaga, um artista que, a partir dos ensinamentos de seu pai, Januário, criou em sua sanfona um gênero, o baião, e o transformou em sucesso e patrimônio nacionais.

“Ele não só levou o baião para o Brasil inteiro, mas trouxe as linguagens do Nordeste para a sua obra, principalmente a partir da parceria com Humberto Teixeira. Foi um movimento pensado. Sua música é muito sofisticada e, ao mesmo tempo, parece que sempre existiu, como se não tivesse sido criada por alguém. Mas foi ele quem organizou tudo”, ressalta João.

Dentre as mais de 50 canções que estão na peça, há sucessos como “Cintura fina”, “O xote das meninas”, “Qui nem jiló”, “Baião”, “Pau-de-arara” e sua mais célebre criação, “Asa branca”. De acordo com a linha não dogmática de todo o espetáculo, o diretor musicalAlexandre Elias não ficou preso à estrutura básica do forró, que é sanfona-triângulo-zabumba. No conjunto de quatro instrumentistas que atua no palco, há, além do sanfoneiro (Rafael Meninão) e do percussionista (Rick De La Torre), um violoncelista (Hudson Lima) e um rabequeiro e violeiro (Beto Lemos), que chega a tocar viola de 10 cordas como se estivesse tocando guitarra.

“É o que estamos chamando de baião tarja preta, porque é meio rock em um ou outro momento”, diz Elias, um dos responsáveis por sucessos como “Tim Maia – Vale tudo, o musical”.

Rafael Meninão é um carioca filho de pais nascidos em Exu e decidiu se tornar sanfoneiro, no início da adolescência, após ouvir Luiz Gonzaga no rádio. Aos 21 anos, integra o grupo Rapacuia, acompanha artistas como Moraes Moreira e Daniel Gonzaga – que o indicou para o espetáculo sobre o avô – e é considerado uma das principais revelações do instrumento no país.

“Eu queria ser jogador de futebol. Se não fosse Luiz Gonzaga, não teria virado músico. Aprendi sozinho, ouvindo os discos dele”, conta.

Meninão – o apelido veio aos 13 anos, pois ele era alto para a idade – tem algo em comum com Marcelo Mimoso, que narrará boa parte da história de Gonzaga no palco e cantará a maioria das músicas: ambos nunca tinham assistido a uma peça antes de serem chamados para “Gonzagão – A lenda”. Filho de sanfoneiro, Mimoso (ele fez parte do grupo Os Mimosos, daí o apelido) é taxista e, também, cantor de forró. Foi descoberto por João Falcão numa noite em que se apresentava num bar da Lapa.

“Já pensei em largar tudo e viver só do táxi. Mas aí surge um convite como esse. Deixei até o táxi de lado, por enquanto”, diz ele.

O elenco de “Gonzagão – A lenda” entra em estúdio pouco depois da estreia para gravar um CD com 20 músicas que estão na trilha da peça. O disco será lançado em dezembro, perto do centenário do compositor. A Sarau também está produzindo, com direção de Daniel Gonzaga, uma série de shows que começou em Brasília e chega em outubro a São Paulo.

Texto e direção: João Falcão

Elenco: Marcelo Mimoso, Laila Garin, Adrén Alves, Alfredo Del Penho, Eduardo Rios, Fabio Enriquez, Paulo de Melo, Renato Luciano e Ricca de Barros. Músicos: Beto Lemos, Hudson Lima, Rick De La Torre, Rafael Meninão e Marcelo Guerini

INFORMAÇÕES

 Temporada: de 19 de outubro a 16 de dezembro de 2012

Horário: de quinta a domingo, às 19h (sessão extra: dia 26/10 – sexta, às 12h30) Ingresso: Quinta e Sexta – R$ 24,00 (inteira) / R$ 12,00 (meia) / R$ 5,00 (comerciário) / Sábados e Domingos – R$ 32,00 (inteira) / R$ 16,00 (meia) / R$ 5,00 (comerciário) Classificação etária: 12 anos. Duração: 120 minutos

LOCAL – Teatro SESC Ginástico (Capacidade: 513 lugares)

Avenida Graça Aranha, 187 – Centro

 Bilheteria: de terça a domingo, das 13h às 20h. Telefone (21) 2279-4027. www.sescrio.org.br

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