Glossário Sertanejo – Cornélio Pires

 

 

Brasileirismos, archaismos e corruptelas coligidos por Cornélio Pires e empregados na “Musa Caipira”, “Scenas e paisagens de minha terra”, “Quem conta um conto…”, e em muitas de suas obras literárias.Foi mantida a ortografia da época por respeito ao trabalho do autor.

 

 

 

A

 

 

 

 

Aááb! – Exclamação correspondente a “Ave Maria”, “Aáááh!…Maria Credo”.

 

Abancamos – Sentamo-nos em bancos.

 

Abancar – Correr fugindo ou em perseguição de alguém.

 

Abrir-o-pala – Fugir correndo.

 

Acauan – Ave que se alimenta de reptis. Seu canto prenuncia a chuva.

 

Acabritada – Amulatada – Mestiça de branco e preto.

 

Aceiro – Terreno capinado ao redor da roçada a ser queimada.

 

Afincar o pé – Caminhar com energia. Correr.

 

Afiniz – Doce – Alfenim.

 

Agarrar ou Garrar – Principiar. Segurar. Tomar um caminho -“Garrei a estrada”.

 

Agregado – Indivíduo que vive parasitariamente em terra alheia.

 

Agua-de-assucar – Agua com assucar.

 

Aguado – Diz-se do cavallo que adoece vendo os outros comer ou beber tendo elle fome e sede.

 

Aguia – Finorio. Intelligente. Astuto.

 

Aiva – Desorientado. Fóra de si. Misterioso. Esquesito. Sensação indefinivel.

 

Alentado – Robusto. Forte.

 

Alimá – Animal cavallar ou muar.

 

Aluncio – Annuncio.

 

Amarrano – Cão negaceando a presa. Preando a perdiz.

 

A’me! – Exclamativo: “homem”!

 

Amiudá – Diz-se quando os gallos vão diminuindo o canto ao amanhecer.

 

Amó-que – A modos que… Parece-me…

 

Amóde – Por causa de…

 

Andasso – Epidemico.

 

Antónho Conseiêro – Pantomima extrahida da grande tragedia bahiana em que o governo chacinou sem razão os sertanejos chefiados pelo caipira Antonio Conselheiro.

 

Anún – Pássaro preto insectivoro, que acompanha os animaes no campo. Há tambem o “anún branco”.

 

Anún – ficar de – Nú.

 

Apalermado – Boquiaberto. Abobarrado.

 

Aparêio – Isqueiro, pedra de fogo de fuzil. Apparelho de fogo.

 

Após-as-aguas – Depois das chuvas. Aguas, tem o sentido de “chuvas”.

 

Aporrinhar – Cacetear. Amolar. “Ser páo”. Vem de porrete.

 

Ara. . . se – O’ra. . . se. . . Vale a pena

 

Araponga ou Guaraponga – Ave cujo canto imita o retinir do martello na bigorna, entre sons similhantes aos produzidos por lima, ao se afiarem as grandes serras “traçadeiras”. Chamam-lhe porisso o “Ferreiro” ou “Serrador”: “Gúiraponga”, do tupy-guarany.

 

Araribá – Arvore grande.

 

Arejar – Estupôr no cavallo que apanha golpe de ar estando suádo.

 

Arimbá – Vasilha de barro.

 

Arisca – Mulher facil. Esposa infiel.

 

Arriba! – Acima! “Arriba o samba”! Sús!

 

Arrebentado – Fallido. Empobrecido.

 

Arrendado – (animal) – Descadeirado. Animal de montaria que, forçado pela redia e espora, deixa o trote natural, para marcha, transformando-se assim um “trotão” em “marchador”. A definição dada noutros volumes está errada). -Nota do Autor.

 

Arrotar – Fazer-se valente. Provocar com arrôtos e escarros. Gabolice.

 

Arrudado – Zangado. Impulsivo. Bravo

 

Arma-penada – Duende. Assombramento. Espirito que paira sem destino.

 

Arma do padre Aranha – Celebre assombração que perseguia os tropeiros.

 

Arvado – Parte em que se encaba a foice.

 

As-coisa-feito – Feitiçaria. Magia negra. Bruxaria.

 

Atiçar – Açular. Instigar. Compellir.

 

Atripeçar – Sentar-se em tripeça.

 

Atrodia – (istrodia – strudia – trodia – estrodia) – Noutro dia. Ha poucos dias.

 

Avacalhar-se – Desdizer-se. Retratar-se. Abandonar seus companheiros em politica, sem-vergonhamente, a pretesto de tranzigencia.

 

Aviamento – Apetrecho para a caçada. Polvora, chumbo e espuletas.

 

Azeite de carro – Oleo grosso de mamona.

 

Azeitinho – Oleo de ricino, purgativo.

 

Azoretado – Irritadiço. Nervoso. Zangado.

 

Azucrinado – A mesma coisa que “Azoretado”.

 

 

 

 

B

 

 

 

 

Bacaiáu – (Bacalhau). Instrumento de tortura usado noutros tempos contra escravos. Era um mixto de relho e chicote, com quatro tiras de couro no extremo, em logar da tala.

 

Bacazio – Tiro forte, com grande estampido.

 

Baderna – Bebedeira acompanhada de desordem.

 

Bagre – Peixe de couro.

 

Baguá – Bagoal. Cavallo inteiro. Grande. Volumoso.

 

Bandeirantes – Desbravadores dos sertões brasileiros eram, geralmente, paulista de tempera jamais igualada, pois sem estradas e bussolas, percorreram todo o Brasil á cata de ouro e pedras preciosas. Levaram os hespanhóes até o Rio da Prata e chegaram a collocar marcos de posse em pleno centro do Perú. Os bandeirantes demarcaram as fronteiras da Patria, dilataram a Nação, e fizeram o Brasil.

 

Muitos delles só se dedicavam á escravisação dos indios.

 

Bangué – Padiola em desuzo, podendo transportar uma familia. Tinha quatro cabeçalhos para um animal em cada ponta, sendo carregada suspensa sobre dois animaes.

 

Banzé – Desordem. Conflicto. “Rôlo”.

 

Banzativo – Preocupado. Pensativo. Triste.

 

Bacapary – Deliciosa fructa sylvestre, trepadeira, menor que a jaboticaba.

 

Barba-de-bode – Capim (graminea) de terra exgotada. Marca de terra ruim.

 

Bardeado – Transportado.

 

Barróca – Despenhadeiro. Valle. Grota. Sulco profundo na terra.

 

Batuira – Ave ribeirinha, pernalta, a que tambem chamam “monjolinho” ou “monjoleiro”.

 

Bate-pé – Dansa cabocla. O mesmo que “sapateado”, “cateretê ou “catira”.

 

Batê-bocca – Discussão. Altercação.

 

Batuque – Dansa de pretos. Formam roda de sessenta e mais pessoas, que cantam em côro os ultimos versos do “cantador” e ao som dos tambús, – tubos de madeira com uma pelle numa das extremidades e que produz sons altos com diversas graduações, – requebram e saltam homens e mulheres, dando violentas umbigadas uns contra os outros. Usa-se tambem nessas dansas, o quingengue – semelhante ao tambú, tendo inteiriça a metade do volume. O compasso é marcado também com palmas. – Hoje raramente dansa-se o batuque. Confundem-no com o jongo e este com o samba. . . Batuque é dansa de negros e o samba é dansa de caboclos…

 

Bão-de-sá – Bem temperada (comida).

 

Bebudo – beudo – Alcoolisado. Embriagado.

 

Beicinho – Movimento de pouco caso com os labios. Distensão do labio inferior, prenunciando chôro e desaponto.

 

Bentinho – Medalha com imagem benzida pelo padre romano.

 

Berne – Verme que se introduz na pelle das aves e no couro dos animaes.

 

Bitatá – Fogo fatuo. Do tupy guarany: “Mboytatá” – mboy:cobra, – tatá: fogo. Diabo. Espirito dos não baptisados.

 

Birro – nome onomatopaico de um passaro que procura para habitação casas e igrejas velhas.

 

Boava – Portuguez, no sentido pejorativo. Do tupy guarany “Amboabaê” – pessoa estranha.

 

Bobagem – Tolice.

 

Bocage Palavriado insultuoso e depravado.

 

Bocó – Vasilha feita de couro ou crosta do tatú: sem tampo o bocó está sempre aberto, d’ahi chamarem “bocó” ao “bocca-aberta”, palerma ou bobo, ou “bobó”.

 

Bocó – Pateta.

 

Bodoque – Arma rustica de pau em arco, com cordas e malha para arremesso de pedras ou pelote de barro.

 

Bolantim – Circo de cavallinhos. Artista equestre ou gymnasta.

 

Bolo – Pancada com a mão, palmatoria ou regua, na palma da mão.

 

Botá-a-cuié-torta – Intrometter-se onde não é chamado.

 

Bóto – (a faca) – Metto a faca.

 

Botá – Pôr. Collocar.

 

Braba – Bravia – (Sertania) – Inculta, desconhecida.

 

Branca – Aguardente de canna.

 

Bragado – Cavallo manchado de branco e zaino.

 

Brascuiá – Vasculhar.Remexer no fundo do bolso.

 

Broca – Ferida profunda que só ataca as mãos, não os pés, do cavallo ou burro.

 

Bruaca – Grandes bolsas de couro crú, para transporte em lombo de animal – Duas bruacas formam o cargueiro.

 

Bruaca – (pejorativo) – Mulher velha, imprestavel.

 

Bufar – Dizer-se valente.

 

Bugio – Macaco barbado. Engenhoca para canna; produz sons na moagem iguaes ao roncar do bugio.

 

Bugre – Selvicola – Indio do Brasil.

 

Buquinha – Beijo.

 

Buré – Sopa do caldo de milho verde.

 

Burcão – Bulcão – “Cummulus” prenunciadores de chuvas.

 

Burbuia – Bolhas de ar que sóbem á tona d’água; bolhas de puz. Do tupy-guarany “bubúi”: sobre-nadar.

 

Buta – (comer) – Ser logrado, enganado. Butia, é um vegetal medicinal, muito amargo; o estrangeiro, metido a sabichão, ao ver-lhe o fructo, colhe, elogia-lhe a doçura e. . . mete-lhe os dentes. . . Comeu Buta. . . a fructa é amarga.

 

Buxa – Logro, velhacamente preparado num negocio ou barganha.

 

 

 

 

C

 

 

 

 

Cabeça secco – Soldado da policia.

 

Caboclo – Caipira cor de cuia ou cobre, descendente dos bugres.

 

Cabra – (bom, valente, sarado, etc.) – Individuo.

 

Cabra – Mulato, ou mulata.

 

Cabrita – Mulata nova.

 

Cabreúva – Madeira de lei tambem chamada Oleo ou balsamo.

 

Cabórge – Força mysteriosa. Valentia sobrenatural. Força occulta proctetora do valente.

 

Caça – Animaes selvagens.

 

Caça foice – Vagabundo. Homem inutil.

 

Cadorna – Pequena perdiz – codorna.

 

Caguira – Azar. Caiporismo. Medo.

 

Cahidas – (mulheres). Apaixonadas.

 

Caieira – Monte de lenha que, logo depois de aceza, toma o nome de fogueira.

 

Caiçara – Caboclo ruim, incorreto. Não uzam os caipiras do planalto a expressão caiçara, como denominação de caipira da beira-mar. No tupy guarany, “caaiçá” quer dizer “cerca de ramos a que se recolhem os peixes pescados”. “Caí” tambem quer dizer o gesto do macaco tapando o rosto. . . Gesto commum ás crianças, caipiras. . . Caiçára tambem quer dizer trincheira, paliçada, arraial.

 

Caipira – Por mais que rebusque o “etymo” de “caipira”, nada tenho deduzido com firmeza. Caipira seria o aldeão; neste caso encontramos no tupy guarany “Capiabiguára”. Caipirismo é acanhamento, gesto de occultar o rosto; neste caso, temos a raiz “caí” que quer dizer: “Gesto do macaco occultando o rosto”. “Capipiara”, quer dizer o que é do mato. “Capia”, de dentro do mato: faz lembrar o “capiáu mineiro. “Caapi”, – “trabalhar na terra, lavrar a terra” – “Caapiára”, lavrador. E o “caipira” é sempre lavrador. Creio ser este ultimo caso mais acceitavel, pois, “caipira” quer dizer “roceiro”, isto é, lavrador.

 

Sinonimos de “caipira” conheço apenas os seguintes-“Capiáu”, em Minas; “quejeiro”, em Goyaz; “matuto”, Estado do Rio e parte de Minas; “mandy”, sul de S. Paulo; guasca ou gaúcho no Rio Grande do Sul; “tabaréo”, Districto Federal e alguns outros pontos do paiz; “caiçara”, no litoral de S. Paulo e em todo o paiz, “sertanejo”.

 

Caipóra ou capóra – Infeliz – Do tupy-guarany: “Caapó” -mateiro. Pessôa do mato. Duende sertanejo, protector das caças, anda montado num grande porco selvagem.

 

Calhambóla – V. canhimbóra.

 

Caimbra – (doença). Camaras.

 

Cambuquira – Grelos, brotos de aboboreira.

 

Campear – Procurar.

 

Cambetear – Andar tropegamente. Empurrado, correr sem querer batendo uma perna na outra, quasi cahindo.

 

Cambaio – Perna torta. Que puxa por uma perna no andar.

 

Cambito – Pernil de porco. Peça para apertar correias e arreios.

 

Camera – Camara Municipal.

 

Canelleira – Arvore imponentemente alta.

 

Canhimbóra ou Canhambóra – Escravo fugido, tornado selvagem nas matas. Do tupy-guarany – “cañybó”: o que foge muito.

 

Canfrô – Alcanfora.

 

Candimba – Lebre.

 

Comatio – Corda de viola.

 

Capêta – Diabo – Satanaz.

 

Capoeira – Mata de foice, ou mata nova nascida depois de derrubada a mata virgem. Do tupy-guarany: “Caa – mata- “poera” – que foi.

 

Capoeirão – Capoeira grossa quasi como mata-virgem: “capoeira de machado”.

 

Capim – Graminea – Do tupy guarany “Caapim”.

 

Carpir – Cortar cerce o pequeno mato. Tupy-guarany, “Caapi”.

 

Carapina – Tupy-guarany Carpinteiro.

 

Carona – Peça de couro collocada sob o arreio e sobre os baixeiros. Gozar sem pagar um divertimento.

 

Carpa – Capinação.

 

Capanga – Indivíduo assalariado para guarda de alguem, e que obedece quando o pagante manda agredir ou matar. Em Minas, Goyaz e Norte, tambem têm o nome de “jagunço”.

 

Capanga – Pequeno sacco que se traz a tiracollo.

 

Cardume – (de peixe) – grande quantidade.

 

Cardósa – Feminino de Cardoso, como Ribeira o é de Ribeiro.

 

Carreiro – Trilho feito e seguido pelas caças.

 

Carreira – Rima obrigatoria nas danças caipiras. Ha a carreira do “Sagrado” (toda a rima em ado), ha a de S. João, do Itararé, do Marruá etc.

 

Carancho Ave de rapina. O maior dos gaviões.

 

Carreação – Diarrhéa. Desinteria. “Destempero”.

 

Carreador – Caminho improvisado na lavoura para se tirar em carros o producto da lavoura.

 

Catingueiro – Variedade de capim. Pequeno veado.

 

Caugdo ou Cáudo – Cágado.

 

Cavorteiro – Velhaco.

 

Caraminguás – Miudezas. Dinheiro miúdo achado no fundo da algibeira ou da mala. Tupy guarany: “Carameguá” -caixa ou cesto para miudezas.

 

Catira ou Cateretê – Dansa de caboclos formando duas linhas de seis ou mais pessoas, dois a dois, frente a frente, com violas. Cantam em dueto os cantadores seus amores ou os factos principaes do bairro e redondezas, respondendo o côro, sapateando nos intervaílos sob compassos marcados a palmas. O som dos pés no chão e as palmas formam variada musica.

 

Casaca de ferro – Empregados encasacados de circos de cavallinhos. Serventes encasacados.

 

Cassununga – Pequena e bravíssima vespa.

 

Catirina – Prostituta.

 

Cavado – (amigo, dinheiro). Arranjado. Conquistado.

 

Cerne – Amago da madeira. Pau que dentro d’agua não apodrece. Estar no cerne (homem) resistir o tempo; não envelhecer.

 

Cêrto de bocca – Cavallo adestrado e docil ás redeas.

 

Cerrado ou cerradão – Mata rachitica e escassa em terras que absolutamente nada produzem; nem capim de bôa qualidade.

 

Cerigote – Arreio semelhante ao lombilho.

 

Ceriema – Ave pernalta dos campos.

 

Cerelepe – Espécie de esquilo. Canxinguelê, do Norte.

 

Chavié ou xavi – Desinchabido – Desapontado.

 

Chan-chan – Ave trepadora que com seu canto avisa a approximação de alguem, avisando o caipira. É nome onomatopaico. “Cão-cão”, do Norte e “Can-can”, dos bugres.

 

Chabó – Andorinha grande de cabeça chata. Taperá-guassú.

 

Chapadão – Crapada – Rechã – Planalto. Araxá.

 

Charrôa – Remate de uma obra de couro trançado.

 

Chimbica – Jogo de cartas tambem chamado manilha.

 

Chimburé – Peixe de escamas, d’agua doce.

 

Chico-lerê – Passaro patéta. . . Paulo-pires; jucurêrê.

 

Chichica – Escremento. Sujidade.

 

Chiqueirador – Grosso relho com cabo de madeira em forma de chicote.

 

Chimbéva (homem). Nariz chato, do tupy guarany: “Ti”: nariz; “péva”: chato.

 

Chilenas – Esporas grandes.

 

Chilipe – Carcere.

 

Chilique – Desmaio.

 

Choren – Cão sarnento. Gafo.

 

Chuva – Bebado – Alcoolico.

 

Chuãã – Cesto ponteagudo para transporte de fructas. É tupy guarany.

 

Chucro – Bebado – Cavallo não domado ou amansado.

 

Chupim – Passaro preto menor que o vira-bosta. Come os óvos do tico-tico e põe os seus no lugar, criando o tico-tico os filhos do chupim, apesar da enorme differença. O tico- tico é rajado e o chupim é preto.

 

Chupim – Marido de professora quando sustentado por ella.

 

Chumbeado – Bebado.

 

Cobre – Dinheiro mesmo em papel moeda.

 

Cócre – Pancada com os “nós dos dedos” na cabeça, tendo a mão fechada.

 

Cócre de – Cocoras. Sentado sobre os proprios calcanhares

 

Cogote – Toutiço, cangote.

 

Coivara – Galhos e ramos que resistiram o fogo das queimadas, ficando apenas com as cascas queimadas ou chamuscadas. Geralmente os autores têm confundido “coivara” com “encoivarar”, que quer dizer reunir as “coivaras” para queimar, afim de “destrancar” a roça.

 

Colondria – de ladrão – Quadrilha de ladrões.

 

Como que – Extremamente.

 

Comeu-chão – Venceu grande distancia, em marcha.

 

Consoante – De accordo. Conforme.

 

Convencido – Soberbo. Emproado. Vaidoso.

 

Coró – Verme. Bicho de pau pôdre.

 

Coróte – Ancorote. Vaso de madeira em fórma de pequeno barril portatil a tiracolo.

 

Corymbatá Peixe de escama, papa-terra.

 

Corpo. – Cadaver.

 

Corruira – Passarinho caseiro insectivoro. Carriça – Cambaxirra, do Norte. Ha a “corruira d’agua” que faz seus ninhos labyrinthicos de milhares de pausinhos, impenetrável para as cobras e mais inimigos.

 

Criozena – Petroleo, Kerozene.

 

Cren-dós-padre – Creio em Deus, Pae.

 

Crioulinhos (Em desuzo) – Pretinhos, filhos de escravos.

 

Cria – (estar com) – Filho novo de animal cavallar, caprino, ovino ou bovino.

 

Curupira – (No tupy guarany não ha r forte). Duende selvagem. do Norte, pouco conhecida é a sua lenda em S. Paulo.

 

Cuzarruim ou Coiza-ruim – Satanaz – Diabo.

 

Curió – Passaro canoro dos pantanaes.

 

Cuja – A metade de um porungo ou cabaça.

 

Cuitélo – Beija-flor. Colibry.

 

Cuipeva – Colhér.

 

Cuipé – Pá de madeira para o forno.

 

Cuéra – Decidido. Valente. Bom. No tupy-guarany quer dizer convalescente.

 

Cuiára – Habil no jogo. Velhaco. Espertalhão. Rato silvestre.

 

Cumieira – Parte mais elevada da casa.

 

Currução – Molestia nervosa. Deita-se a victima, sem dores, e não ha o que a faça deixar o leito. Come se lhe dão comida, sinão, pouco se incomoda.Há moléstia semelhante que na França chamam “corru”.

 

Cumerações – Calculos.

 

Curtindo – Suportando, triste, uma paixão ou ciume.

 

Curiango – Ave nocturna.

 

Cururú – Dansa em que tomam parte os poetas sertanejos, formando roda e cantando cada um por sua vez, atirando os seus desafios mutuos. Os instrumentos usados são: a “puyta”, (Instrumento africano trazido pelos escravos), rouquenha, em forma de um pequeno barril tendo o fundo de couro de cabra com uma varinha ao centro; a trepidação produzida com um panno molhado empalmado pelo executante, produz o som, um verdadeiro ronco; o “réqueréque” que é um gommo de bambú, de meio metro, dentado, em que o tocador passa compassadamente uma palheta do mesmo vegetal, secco; o “pandeiro”, os “adufes”, e a celebre “viola”. Os “cururueiros” cantam sem amostras de cansaço, desde o anoitecer até o amanhecer.

 

É uma dansa mixta do africano e do bugre.

 

 

 

D

 

 

 

 

Dante – Antigamente. N’outros tempos.

 

Dar-volta – Exterminar. Acabar. Matar.

 

Debruços – Em decubito dorsal.

 

Decumê – Comida aos porcos. Comida.

 

Decuada – Extracto da cinza para aproveitamento da potassa.

 

De-já-hoje-já-hoje – Ainda pouco. Agora pouco. A poucos momentos.

 

De-mão – Auxilio gratuito no serviço.

 

Desgranhado – Desgraçado. “Maldito”!

 

Desguaritado – Extraviado. Desorientado. Sem guarida.

 

Despique – Acinte. Disputa. Represalia. Desafio (de viola) -Vingança.

 

Desbronque – Grande desgraça. Mortandade em tiroteio. Depindurar – Pendurar.

 

Depindura – Na imminencia de uma queda ou de empobrecimento.

 

Déstão – Dez tostões.

 

Destrocido – Agil. Desembaraçado. Direito.

 

Descanhotar – Desnocar – Destroncar. Desengonçar. Desarticular.

 

Diá… – A crendice faz com que o caipira não pronuncie ou nunca complete a palavra diabo. Ou diz: “Diá – Dianho

 

Tinhoso – Capeta – Malino – Bicho – Pé de pato – Bóde preto – Tentação – Cuizarruim – Satanais – Cifé”, etc.

 

Diagonal – Tecido de algodão, preto, em linhas diagonaes.

 

Dór – Dó.

 

Dourado – Peixe de escamas, d’agua doce – É o Piraju dos indios – “pira” peixe – “jú” (ba) amarello.

 

Douradilho – Cavallo meio dourado.

 

Duas e meia bôa – Sempre que o caipira se refira a distancia, dirá legua quando em numero inteiro; havendo o quebrado de meia legua, não pronuncia elle a palavra legua; dirá: 2 1/2, “5 1/2 puxada” – “3 1/2 bôa”, etc.

 

Dunga – Corresponde ao “Dégas!” Quer dizer, com emphase, “cá eu!” “Quem venceu? O Dégas! Sou mesmo um “Dunga!”.

 

 

 

 

E

 

 

 

 

Eá! – Exclamação uzada pelas mulheres, quando muito admiram. Montoya registra no seu livro: “Lingua Guarany” essa exclamação só uzada pelas mulheres.

 

Eito (de tempo) – Extensão. Pedaço. Parte da lavoura entregue ao capinador.

 

É mão – Occasiáo (de se ir embora). “É mão de trabaiá”.

 

Embira – Resistente fibra da madeira chamada jangada.

 

Embira – (Estar na) Preso. Atado. Coberto de dividas.

 

Encamboiado – Ligado dois a dois. Encomboiados.

 

Encrenca – Embrulho. Desordem. Atrapalhada. Pendencia.

 

Ençampar – Enganar. “Çampa”, quer dizer mentira.

 

Encambitar (atraz delle) – Correr em perseguição de alguem.

 

Enfiar a agua no espeto – Vadiar.

 

Engrovinhada – Paralitica. Engrossamento de articulações. Mirrada.

 

Entojado – Cheio de si. Vaidoso. Emproado.

 

E… puca – Exclamação de gabolice.

 

Erpe – Expressão de gabóla – Venci! ê cabra erpe na lucta!”

 

Escórva – Exercicio. Experiencia de forças dos gallos de briga.

 

Escorvar – (A espingarda). Fazer explodir a escórva para enxugar o “ouvido” da arma. Exercitar-se para experimentar as forças.

 

Escopa – Jogo de cartas introduzido pelo italiano, no sul do Brasil.

 

Escorar – (um homem). Enfrentar o inimigo, fazendo-o parar.

 

Escóra – Pé direito. Apoio para que uma parede ou objecto não caia.

 

Esculpido – Muito parecido.

 

Espera – O mesmo que “ésse”. Logar onde se espera a caça. Pau em que se engancha o cabéçalbo de carro.

 

Espigão – Planalto.

 

Espigado – Rapaz de corpo direito. Desenvolto.

 

Esparrela – Armadilha para passaros composta de lacinhos de cedenho sobre uma tabua.

 

Esquentado – Impulsivo.

 

Esquesito – Fóra do natural. Não commum.

 

Esquisitice – Sensação extranha. Excentricidade.

 

Ésse – Travessa no boccal do punhal ou faca, com a fornia da letra S.

 

Essa ua – Expressão muito uzada: “Este um” – “aquelle um”, em lugar de este ou aquelle.

 

Estaqueô – Parou bruscamente.

 

Estanhados (olhos) – Fixos.

 

Estirão – Trecho de rio, em recta.

 

Estaca – Pau fincado na parede á guiza de cabide. Pau fincado na lavoura para marco de lugar em que tem de ser plantado o café ou a vinha.

 

Estiada – Paragem momentanea da chuva no tempo das aguas, prosseguindo logo a chuva.

 

Estranja – Estrangeiro.

 

Estaqueá – Parar bruscamente. Cahir morto.

 

Estrupicio – Grande quantidade. Asnice.

 

Esturdio – Esquisito. Fóra do commum.

 

Esturdinario – Extraordinario.

 

E-vê – Parece-me. Parecido. Similhante.

 

Envidado – Enganado. “Não sou eu; o sr. se envidou”.

 

 

 

 

F

 

 

 

 

Facho – Vegetaes seccos facilmente inflammaveis, nas queimadas.

 

Famia – Filho ou filha.

 

Far-má – Não faz mal. Deixam de pronunciar o não.

 

Fazenda – Grande propriedade agricola.

 

Fazendeiro – O dono da “fazenda”.

 

Festa do Divino – a festa em honra do Espirito Santo, que se reveste de grande brilho, na cidade de Tietê. Os caboclos têm como obrigação cumprir a promessa de seus antepassados, que desciam em numero de sessenta ou mais, nos grandes batelões, pelo rio Tietê, e subiam esmolando entre o povo ribeirinho, durante vinte e mais dias. As casas, na passagem das canôas, são enfeitadas com palmas e arbustos, sendo offerecidas lautas mesas aos canoeiros e ao povo do bairro, que afflue nessas occasiões. Onde pousa o Divino e toda a comitiva, organisam-se interessantissimas diversões, reunindo-se no sitio mais de mil pessôas.

 

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