Dos museus mais sofisticados da Europa às escolas de samba do Rio de Janeiro, o principal dilema dos fazedores ou produtores de cultura no mundo continua sendo como, quando e com quem levantar dinheiro para sustentar os projetos. No Brasil, já tem som de choro. Num momento em que inúmeras denúncias políticas e econômicas desestabilizam o governo, as instituições públicas e grandes empresas estatais pisam no freio para examinar contas e rever contratos. A iniciativa privada guarda seus tostões, preocupada com o dia de amanhã. Produtores e artistas baixaram a bola e começam a engavetar projetos.
Com a finalidade de discutir essas questões, começou, na cidade de Lençóis, em plena Chapada Diamantina, na Bahia, o I Fórum Internacional de Cultura, que os organizadores pretendem que aconteça todo ano e funcione como palco de troca de experiências entre brazucas e captadores de dinheiro público e privado do mundo inteiro. Nesta primeira edição, o tema central é o Financiamento da Cultura – Três Abordagens Concretas, tendo como parâmetros experiências nos Estados Unidos, na França e no Brasil.
– Nossa idéia é possibilitar ao público participante uma visão concisa e prática de três diferentes modelos de experiências nessa área de financiamento para a cultura – explica José Augusto Burity, ex-presidente da Fundação Cultural da Bahia, idealizador e organizador do Fórum, em cartaz até sexta-feira.
Quem vem sendo esperado com pompa e circunstância para abrir os trabalhos hoje é Phillip Bahar, diretor da Walker Art Center, de Nova York, instituição reconhecida internacionalmente como um modelo singular de organização artística. Criada em 1927, a Walker começou sua atuação na condição de primeira galeria de arte pública do meio Oeste norte-americano. Na agenda de hoje também está prevista a apresentação da história do grupo Dance Brazil, criado em 1977, em Nova York, pelo brasileiro Jelon Vieira, depois de experiências com workshops no Clark Center for the Arts.
Amanhã, o público entra em contato com um balanço dos investimentos feitos pela França na área cultural. As contas, que deverão matar produtores brasileiros de inveja, serão apresentadas pelo estudioso Claude Mollard, um dos convidados mais ansiosamente aguardados. Também historiador, Mollard fará um paralelo entre o mecenato dos grandes reis franceses, que patrocinavam inteiramente a cultura, e o momento atual, quando a França cria estímulos para maior participação do capital privado. A França está representada ainda na Chapada Diamantina por François Erlenbach e Benoit Paumier, ambos do Ministério da Cultura, e Héléne Kelmachter, da Fundação Cartier.
Quinta-feira será o dia de o Brasil falar. Gestores culturais como Fernando Portela, do Instituto Cidade Viva, e Rosa Magalhães, da escola de samba Imperatriz Leopoldinense, deverão chorar mágoas pela falta de investimento público; Juca Ferreira, secretário executivo do Ministério da Cultura, deverá esclarecer se o choro procede e o que o governo tem feito – entre uma CPI e outra – para consolar o pessoal.
Os produtores têm o discurso: cultura é o único investimento onde todo mundo sai ganhando.
– Ganha quem capta os recursos, quem financia, quem trabalha e, principalmente, quem tem acesso à cultura – garante José Augusto Burity.