Faculdade de Artes Dulcina de Moraes passará a ser pública

Quem admira o teatro, seus encantos e mistérios entende a angústia que por anos acomete a comunidade acadêmica e artística que frequenta ou frequentou a Faculdade de Artes Dulcina de Moraes. Situada no Setor de Diversões Sul, mais  conhecido como Conic, a instituição, que tem como mantenedora a Fundação  Brasileira de Teatro (FTB), passa há anos por diversos problemas financeiros e  administrativos: falta de remuneração dos professores, escassez de investimentos  em infraestruturas, conservação inadequada do acervo artístico, dentre outros.
Tais entraves influenciaram diretamente no desempenho da faculdade que já chegou  a contar com dois mil estudantes. Hoje, somente 200 frequentam as salas de artes  do local.

 

Em uma tentativa de reverter esse quadro, o Governo do Distrito Federal (GDF)  assumirá o projeto pedagógico da faculdade, tornando-a a primeira instituição  pública distrital voltada exclusivamente para o ensino de artes. De acordo com o  secretário de Governo do DF, Gustavo Ponce de Leon, o GDF já estudava uma forma  de criar uma faculdade de artes para suprir a carência das escolas da rede  pública e do próprio mercado regional. “A Dulcina de Moraes também é um  patrimônio artístico e cultural do DF”, acrescentou.

 

Articulação
A articulação que culminou nesta decisão  inédita teve início ano passado. Conforme os rumores de fechamento da  instituição ganhavam força e percebendo o caos que a cada dia se tornava mais  real, o estudante do 7º semestre de Artes Visuais e artista plástico, Adeilton
Oliveira, 39 anos, iniciou uma mobilização com universitários para reivindicar  uma posição do GDF a fim de encontrar uma solução para a faculdade.

 

Após negociações e articulações iniciadas em novembro de 2012  e a criação de  uma frente parlamentar em defesa da faculdade, o movimento foi ganhando  aderência e reconhecimento. No dia 8 de março, foi realizado um ato simbólico no  prédio da faculdade. O “Abraço Salve Dulcina” reuniu cerca de 150 professores,  alunos e funcionários da faculdade e autoridades na praça Zumbi dos Palmares, no  Conic. Além disso, os universitários lançaram um abaixo-assinado virtual chamada  o S.O.S Faculdade de Artes Dulcina de Moraes, que recolheu cerca de 683  assinaturas cobrando uma medida do GDF e da Câmara Legislativa.

 

De acordo com a chefe de gabinete da Secretaria de Educação, Natália Duarte,  a previsão, é que o GDF assuma a manutenção da faculdade no segundo semestre de  2013. “O governo tem o compromisso de assegurar o funcionamento do Dulcina para  que os estudantes possam concluir seus cursos, o que é um direito básico”,  afirma. Ponce de Leon ressalta que o GDF não se responsabilizará pelas dívidas  da mantenedora, mas apenas pelo projeto pedagógico da instituição.

 

Adeilton afirma que a iniciativa do GDF foi extremamente bem recebida pela  comunidade. “A Dulcina foi a primeira faculdade de artes do Brasil. E o fato de  termos a oportunidade de estudar em uma instituição pública dá um grande  prestígio no currículo”. E complementa: “Ninguém quer um diploma de uma  faculdade falida”.

 

O estudante afirma que tal ação terá impacto direto no mercado de professores
de artes do DF: “o Dulcina forma, por semestre, cerca de 60 professores enquanto
que na UnB são apenas cinco ou seis. Asseguro que 80% dos professores de artes
do DF foram formados no Dulcina”.

 

Hugo Rafael Soares, 30 anos, é professor de artes cênicas e se graduou na
instituição. Para ele, a medida mais benéfica da intervenção do GDF será o
asseguramento de pagamento aos professores: “temos agora a certeza de que os
professores serão pagos em dia e que os alunos poderão concluir seus
cursos”.

 

Para o estudante do 5ª semestre de bacharelado em Interpretação Teatral e um
dos idealizadores das mobilizações, Júnior Ribeiro, 19 anos, “ter a certeza de
que o patrimônio cultural e artístico de Dulcina de Moraes será preservado é
motivo de muita alegria para nós, estudantes e admiradores dela”. Para ele, o
maior mérito da decisão do GDF será para os jovens que querem estudar e viver de
arte: “Não é fácil trabalhar com arte no Brasil. E com essa transformação do
Dulcina em uma faculdade pública, mais jovens carentes terão oportunidades de
concorrer a uma vaga”, assegura.

 

Histórico
A Faculdade de Artes Dulcina de Moraes foi
inaugurada em meados de 1970 pela atriz, diretora, produtora de espetáculos e
professora de artes cênicas Dulcina de Moraes. À época, influenciada pelo
presidente Juscelino Kubitscheck, Dulcina mudou-se para Brasília, transferindo a
sede da Fundação Brasileira de Teatro para a cidade. Construiu, com projeto de
Oscar Niemeyer, o novo Teatro Dulcina e uma das primeiras faculdades de artes
efetivamente autorizadas e reconhecidas no país. Resultado desse empenho, a
Faculdade Dulcina tornou-se responsável pela formação de milhares de artistas e
arte-educadores na região Centro-Oeste e em todo o Brasil. Para ela, a vocação
de Brasília era de ser o grande pólo de cultura do país.

 

A Faculdade oferece cursos de graduação em licenciatura e bacharelado em
Artes Cênicas, licenciatura em Artes Visuais e Pós-Graduação nos cursos de
Direção Teatral, História das Artes Visuais e Gestão de Espaços e Projetos
Culturais.

 

Dulcina de Moraes nasceu em 1908, na cidade de Valença, no Rio de Janeiro.
Foi atriz, diretora, produtora de espetáculos e professora de artes cênicas, e é
considerada pela crítica como a mais importante intérprete teatral brasileira no
Século XX. Fernanda Montenegro, uma das mais importantes atrizes do Brasil,
afirma que Dulcina foi uma de suas referências no teatro.

 

Em reconhecimento à importância de sua obra, o governo do Distrito Federal
assinou, em 2008, o tombamento do Teatro Dulcina e dos acervos fotográficos,
cênico e de textos da atriz como Patrimônio Cultural do DF. Além disso, por meio
de decreto, dedicou o ano à grande dama do teatro brasileiro.

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