A história do Brasil contada por meio da fotografia é uma das propostas da exposição Um Olhar sobre o Brasil – A Fotografia na Construção da Imagem da Nação, que será apresentada até 27 de janeiro do próximo ano no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo.
Estão lá imagens da construção de Brasília e também de uma multidão que acompanhava a assinatura da Lei Áurea, pela Princesa Isabel, muitos anos antes, em 1888. Há também uma fotografia que mostra a condecoração de Che Guevara (um dos líderes da Revolução Cubana) pelo então presidente do país, Jânio Quadros. Outra imagem, de janeiro de 1840 (uma das primeiras vistas fotográficas da América Latina), feita pelo Abade Louis Compte por meio de uma experiência de daguerreotipia (que produzia imagens únicas, sem negativos ou possibilidade de cópias), mostra o Largo do Paço Imperial, no Rio de Janeiro.
Mais de 400 fotografias ajudam a contar 170 anos da história do país (1833-2003). O curador da exposição é Boris Kossoy, especialista em história da fotografia, que realizou o trabalho juntamente com a antropóloga e historiadora Lilia Moritz Schwarcz. “O objeto da exposição é a história do Brasil por meio da fotografia. É uma exposição inédita deste gênero na América Latina e levou quase quatro anos de trabalho”, disse Boris Kossoy.
“Temos uma quantidade grande de imagens originais de época, do século 19, cedidas ou emprestadas por 39 instituições, entre elas o acervo da Biblioteca Nacional do Rio, o Arquivo Público do Estado de São Paulo e colecionadores particulares, entre outros”, disse Kossoy.
Segundo o curador, a exposição permite “o contato visual com fatos históricos que, via de regra, são transmitidos por informação escrita”. “A imagem é um excelente instrumento de conhecimento do passado”, ressaltou Kossoy.
Cada uma das fotografias é acompanhada por um pequeno texto, que conta um pouco da história e o contexto em que foi tirada. A exposição tem início com o momento de invenção da técnica fotográfica, passando pelo gosto de dom Pedro II pela fotografia e pelos registros de revoltas populares, como a de Canudos. “[A exposição] começa antes do segundo reinado, ainda na Regência, com as primeiras experiências de Antoine Hercule Florence (1804-1879), o inventor da fotografia no Brasil”, explicou.
A mostra foi pensada a partir de quatro eixos temáticos: política, sociedade, cultura/artes e cenários/paisagens. Os 170 anos de história foram divididos em sete períodos: Luzes sobre o Império (1833-1889), Urbanidade, Conflitos, Modernidade (1889-1930), Ideologias, Revoluções, Nacionalismos (1930-1937), Autoritarismo, Repressão, Resistência (1937-1945), Industrialização, Desenvolvimento, Anos Dourados (1945-1964), Tempos Sombrios (1964-1985) e O Reacender das Luzes (1985-2003).
Além da exposição, que tem entrada gratuita, será lançado o livro Um Olhar sobre o Brasil – A Fotografia na Construção da Imagem da Nação: 1833-2003, volume que integra a coleção História do Brasil Nação: 1808-2010, da Fundación Mapfre, Grupo Santillana e Editora Objetiva.
- Sobre a fotografia acima: “No Brasil antigo – já que era considerado falta de respeito o escravo permanecer de pés calçados diante de pessoas tidas como superiores -, uma das caracterizações externas da condição escrava eram os pés descalços. Assim, os sapatos eram, para os negros, o símbolo de sua libertação e de seu nivelamento aos brancos. Tanto que, quando um escravo era alforriado, sua primeira preocupação era comprar um par de sapatos. Embora muitas vezes não aguentasse calçá-los, trazia-os sempre consigo e, em casa, os colocava em lugar de destaque, bem à vista. Um escravo de ganho podia, graças aos seus recursos, como mostram fotografias do século 19, andar bem trajado, de chapéu-coco, anel no dedo, relógio de bolso etc. Mas era obrigado a estar descalço, em atestado de sua condição servil. Daí a estratégia de alguns fujões que calçavam sapatos para passar por livres e ludibriar seus perseguidores.”
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