Dedicada ao Brasil, obra em cinco volumes cobre da geografia à cultura popular; trabalhos de pesquisa são coordenados por espanhol
O escritor Mário de Andrade (1893-1945) iniciou, em 1939, um trabalho epopeico: criar a primeira enciclopédia inteiramente dedicada ao Brasil. O projeto nasceu quando o autor de “Macunaíma” trabalhava no Instituto Nacional do Livro.
A obra seria similar à “Encyclopédie” francesa, do século 18, e à alemã “Brockhaus”, cuja primeira edição é do início do século 19. Mas, após a morte do escritor, em 1945, colaboradores só persistiram por mais cinco anos, sem ultrapassar os verbetes da letra “A”.
Quando se deparou, em 2003, com centenas de páginas guardadas na Fundação Biblioteca Nacional, no Rio, explicando detalhadamente “introdução, diretrizes e normas gerais” da “Enciclopédia Brasileira”, o professor e tradutor espanhol José Luis Sánchez, no Brasil há sete anos, achou que o sonho de Mário poderia renascer -com modificações.
“Logo soube que não daria para aproveitar tudo o que o Mário fez, porque em 70 anos o trabalho envelhece, nem para fazer exatamente o que ele pretendia, pois o prazo que teríamos [cinco anos] seria curto, mas a inspiração e o entusiasmo dele foram o nosso ponto de partida”, diz Sánchez.
Com o apoio da Biblioteca Nacional e da editora espanhola Oceano, Sánchez e a compatriota Meritxell Almarza montaram, em 2004, uma equipe com 29 pesquisadores brasileiros, além de mais de 50 profissionais, entre designers, fotógrafos, redatores e revisores.
A principal mudança em relação ao projeto original foi no modelo e na abordagem da enciclopédia. A equipe abandonou a ideia de uma obra de A a Z e adotou a divisão por temas: geografia, população, economia, política, história, artes, sociedade, esportes, mídia e cultura popular.
A “Enciclopédia do Brasil” compreende cinco volumes com mais de 1.200 páginas no total, além do conteúdo multimídia, que tem três CDs (com um Atlas do Brasil e do mundo, 300 perfis biográficos e o conteúdo digital da obra) e um DVD (documentário de 50 minutos sobre reservas naturais do país). Também foi criado um site, no qual a enciclopédia será atualizada regularmente.
O preço de venda da “Enciclopédia do Brasil” ainda não foi definido. Mário de Andrade,”talvez o maior nome do modernismo no Brasil”, segundo a enciclopédia, sonhava com uma obra que pudesse ser comprada por qualquer brasileiro. Talvez essa parte do sonho do escritor não se realize. “Mas tenho certeza de que o Mário ficaria feliz ao ver a enciclopédia finalmente acabada.”
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq1011200915.htm
Caio Barretto Briso