Foi publicado essa semana no Diário Oficial da União (DOU) o edital para selecionar cinco cidades brasileiras que irão receber consultoria para elaborar dossiê de candidatura à Rede de Cidades Criativas da UNESCO. Pela primeira vez, o governo federal, por meio do Ministério da Cultura (MinC), fornece apoio técnico aos municípios brasileiros que queiram integrar a Rede. O programa da Unesco tem o objetivo de promover a cooperação internacional entre cidades que investem na cultura e na criatividade como fatores de estímulo ao desenvolvimento sustentável.
Além da elaboração da candidatura, o edital visa estimular a elaboração de planos de desenvolvimento que impulsionem a economia criativa, tenham a cultura como base e que contribuam com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) previstos na Agenda 2030 da ONU. Atualmente, 180 cidades de 72 países fazem parte da Rede. A próxima seleção acontecerá em 2019.
Podem participar do certame quaisquer municípios integrantes do Sistema Nacional de Cultura (SNC) e que já desenvolvam ou pretendam desenvolver ações nas quais a criatividade seja vetor de desenvolvimento urbano sustentável e que ainda não tenham sido eleitas cidades criativas pela UNESCO. As inscrições vão de 15 a 30 de agosto. Veja aqui a íntegra do edital.
Para integrar a rede, a cidade deve preparar um dossiê que passará por processo de seleção realizado pela Comissão de Avaliação da UNESCO. A candidatura deve demonstrar de forma clara e prática a disposição, o compromisso e a capacidade da localidade em contribuir com os compromissos da Rede. Deve apresentar um plano de ação realístico, incluindo detalhamento de projetos, iniciativas e políticas a serem executadas nos quatro anos seguintes à admissão ao Programa.
Cada cidade também deve identificar uma área temática preferencial, que já seja significativa para a cultura e a economia locais. As possibilidades são: artesanato e artes folclóricas, design, cinema, gastronomia, literatura, artes midiáticas ou música.
Criatividade brasileira
Oito cidades brasileiras já são consideradas Cidades Criativas pela UNESCO: Belém (PA), Florianópolis (SC) e Paraty (RJ), no campo da gastronomia; Brasília (DF) e Curitiba (PR) no do design; João Pessoa (PB), artesanato e artes folclóricas; Salvador (BA), música; e Santos (SP), cinema.
Curitiba e Florianópolis foram as duas primeiras cidades brasileiras a terem suas candidaturas aprovadas para a Rede, em dezembro de 2014. Ambos os municípios formaram comitês específicos para formulação da candidatura, organização de toda a documentação e dos planos de desenvolvimento de atividades da economia criativa.
Para a candidatura da capital do Paraná, por exemplo, foi preciso reunir cartas de apoio de outras cidades criativas, como Montreal (Canadá), Kobe (Japão) e Seul (Coréia do Sul). Já a capital catarinense agrupou associações de bares, restaurantes, hotéis e a secretaria de turismo para dar força à candidatura. O esforço valeu e, há quatro anos, as cidades se beneficiam da visibilidade internacional e incremento da economia criativa que a participação no programa possibilita.
Dos tropeiros à cachaça
Um dos passos mais importantes para a elaboração da candidatura é a escolha da atividade foco na qual a cidade será categorizada. Paraty, por exemplo, aproveitou o resgate de receitas e da produção de ingredientes artesanais, cuja origem remonta aos tropeiros e às influências indígena, portuguesa e africana na região, e a importância da gastronomia na economia local, para escolhê-la como vetor.
Eventos como o Folia Gastronômica, o Festival Culinário e o projeto Escola do Comer, que tem o compromisso de garantir a qualidade da merenda de 6 mil crianças do município, já figuram entre as ações municipais no âmbito das cidades criativas.
Influências nativas
Dona de uma culinária exuberante e cheia de influências da região Amazônia, Belém também integrou a Rede na categoria gastronomia. A chancela da Unesco impulsionou o já intenso calendário de eventos culinários da capital paraense, que inclui os festivais Belém Ilhas e Sabores, Ver-o-Peso na Cozinha Paraense, Ver-a-Boia, Festival do Açaí, Fartura Brasil.
A cidade ainda foi a primeira do continente americano a sediar o Encontro Mundial das Cidades Criativas da Gastronomia, em novembro de 2017. Na ocasião recebeu dezesseis representantes da Unesco e chefs renomados de diversos países. Ao contrário dos encontros anteriores, o de Belém contou com a participação do público, pois foi criada uma programação especial para que a população, os produtores, os chefs e a economia da cidade pudessem se beneficiar ainda mais com o evento.
Design
O design foi a opção natural de Brasília, cujas formas da arquitetura de Oscar Niemeyer foram imortalizadas como patrimônio da humanidade. De acordo com a secretária adjunta de turismo do Distrito Federal, Caetana Framarin, desde que foi eleita pela Unesco, em outubro de 2017, já houve uma mudança significativa em relação à economia criativa.
“Quando nos inscrevemos para participar da Rede, o intuito era promover Brasília como destino turístico, com base na economia criativa, até mesmo para desvincular um pouco a cidade da imagem puramente política”, conta a secretária. A capital federal recentemente lançou um mapa com os principais pontos turísticos ligados ao design.
Artesanato e Cinema
João Pessoa é a única cidade brasileira na categoria artesanato e artes folclóricas. Eleita em 2017, a expectativa é que a capital paraibana passe a ser um destino turístico em razão do artesanato. O projeto chave da candidatura, Sereias da Penha, promove oficinas de capacitação para artesãs locais que trabalham com escamas de peixe e conchas de marisco, que, antes, eram descartadas.
Apesar de ser uma cidade criativa do audiovisual, Santos montou uma estratégia que busca integrar outras áreas, como a literatura, o design, o artesanato, a gastronomia, o teatro e a tecnologia. Esse ano, o município paulista lançou a candidatura para sediar o Encontro das Cidades Criativas em 2020. Belém (PA) e Puebla (México) também se candidataram para receber o evento. O resultado da seleção será publicado no fim de julho.
Muito Axé
Berço do trio elétrico e dona de um dos maiores carnavais do mundo, a música foi uma escolha quase natural para a cidade de Salvador, que integra a Rede desde junho de 2016. Além de reconhecer a música como elemento de desenvolvimento econômico e social, ao se tornar uma cidade criativa, a capital baiana também assumiu o compromisso de entender o impacto da música para a economia local, além de estimular atividades de capacitação e de promover a interação da cultura com a educação.
Cidades Criativas
A Rede de Cidades Criativas da UNESCO foi criada em 2004. Na prática, as participantes assumem o compromisso de compartilhar experiências e conhecimento entre si; de desenvolver parcerias com os setores públicos, privado e a sociedade civil; fomentar programas e sistemas de intercâmbio profissional e artístico; de realizar estudos, pesquisas e de criar meios de divulgação que ampliem o conhecimento sobre a Rede e suas atividades.
Faça um comentário